Por Marcos de Moura e Souza | Valor Econômico
BELO HORIZONTE - O que era para ser um evento cotidiano da pré-campanha presidencial de Ciro Gomes (PDT) se transformou ontem em um bate boca com gritos, vaias, nervosismo e uma saída de cena inesperada do pedetista. O episódio ocorreu à tarde em Belo Horizonte durante um evento com prefeitos de centenas de cidades de Minas Gerais organizado pela Associação Mineira de Municípios.
Ciro era um dos cinco presidenciáveis que se alternariam no palco armado em um espaço de eventos no estádio do Mineirão. Alvaro Dias (Podemos) foi o primeiro a falar. O pedetista subiu ao palco depois dele. Parecia descontraído. Chegou a apresentar o pré-candidato ao governo de Minas, Marcio Lacerda (PSB) como "vice-presidente, quer dizer o futuro governador", no que soou uma gafe fingida em meio a várias especulações sobre quem será seu vice e sobre uma aliança com o PSB.
Ciro usou os minutos iniciais para falar da importância que dá à recuperação da indústria e arrancou aplausos dos prefeitos quando falou do aumento das demandas impostas às prefeituras e a escassez que elas têm de recursos. Citou matéria publicada no Valor de ontem ao falar que a receita atual dos municípios equivale às de 2012, apesar do aumento dos gastos.
O apresentador pediu que ele concluísse e fez a primeira pergunta sobre repartição da arrecadação entre União, Estados e municípios. O pré-candidato falava de sua proposta de reforma fiscal quando foi interrompido pela segunda vez pelo apresentador, que pediu que ele concluísse.
"Isso é um absurdo, você não acha, não? Eu acho francamente um verdadeiro absurdo", disse Ciro. "Conclusão, por favor", repetiu o mediador. "Estamos falando de um assunto absolutamente sério. Eu não gosto de conversa fiada e eu preciso que a população conheça...", continuou o candidato, aplaudido.
Mas daí em diante, houve gritos contra ele da plateia. E ao ouvir a segunda pergunta - também sobre partilha de arrecadação - Ciro afirmou que tentava explicar seu ponto de vista quando foi interrompido. Vieram gritos e aplausos. Começou o que pareceu um bate-boca entre ele e alguns participantes na plateia: "Vamos respeitar, por favor. Eu sou convidado de vocês." E sob gritos, gritou ao microfone: "Cadê o Bolsonaro, teu candidato, por que é que ele não veio?"
Foi aplaudido e tentou retomar o que seria uma continuação de sua resposta sobre arrecadação. Mas os gritos da plateia prosseguiam. "Agora, repare, eu estava explicando. Escuta, escuta, escuta, se não eu me retiro", disse Ciro já alterado aos prefeitos. "Escuta se não eu me retiro. Eu não sou demagogo. Eu quero governar o Brasil é para restaurar a autoridade dessa baderna que está acontecendo no nosso país. Quero consertar o Brasil restaurando a autoridade." Já não havia mais clima quando lhe foi dado mais cinco minutos para considerações finais. Ele disse apenas um "muito obrigado a todos" e se levantou sob vaia.
Os pré-candidatos que o sucederam no palco cumpriram o script diante da plateia de prefeitos. Paulo Rabello (PSC), Geraldo Alckmin (PSDB), Marina Silva (Rede) e Henrique Meirelles (MDB) prometeram ações que melhorariam as gestões municipais, falaram em crescimento e geração de empregos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário