Por Carla Araújo e Andrea Jubé | Valor Econômico
BRASÍLIA - O comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, reuniu-se nos últimos dias com nove pré-candidatos à Presidência da República. Hoje consta da agenda uma audiência ao ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, coordenador do programa de governo da campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está preso em Curitiba há mais de dois meses.
A assessoria de Lula diz que Haddad vai se reunir com o general na qualidade de "representante da campanha" do ex-presidente. Apontado como um dos "planos B" do PT, Haddad é um dos petistas a transitar em todas os círculos. O PT tem reafirmando que registrará a candidatura de Lula no dia 15 de agosto, prazo final do calendário eleitoral.
Os encontros começaram com o senador Alvaro Dias (PR), pré-candidato pelo Podemos, no dia 23 de maio. Depois Villas Bôas reuniu-se com os pré-candidatos Rodrigo Maia (DEM), Jair Bolsonaro (PSL), Henrique Meirelles (MDB) Paulo Rabello de Castro (PSC) Marina Silva (Rede), Aldo Rebelo (SD), Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin (PSDB).
Nos bastidores, fontes do governo alertam para o temor de autoridades das três Forças quanto à "politização" da instituição em meio ao processo eleitoral, e com o que pode sobrevir do resultado das urnas.
Uma fonte afirma que oficiais das três Forças ainda não digeriram o conteúdo de uma Resolução divulgada pelo PT em maio de 2016, logo após o afastamento da então presidente Dilma Rousseff do cargo pela Câmara dos Deputados. No documento, em uma autocrítica, o partido afirma que houve "descuido" em relação a determinadas áreas nos 13 anos que permaneceu no poder, entre elas, os militares.
"Fomos igualmente descuidados com a necessidade de reformar o Estado, o que implicaria impedir a sabotagem conservadora nas estruturas de mando da Polícia Federal e do Ministério Público Federal; modificar os currículos das academias militares; promover oficiais com compromisso democrático e nacionalista", constava no comunicado de 2016.
Também há igual receio quando à expansão de movimentos que defendem a volta dos militares ao poder, clamor que veio à tona com a paralisação dos caminhoneiros. Oficiais das três Forças não compactuam com essas manifestações, que chegaram a ser atribuídas a apoiadores de Bolsonaro.
Com quase 288 mil seguidores em redes sociais, o general ganhou exposição no debate político. Na véspera do julgamento do habeas corpus de Lula no Supremo Tribunal Federal, causou polêmica ao afirmar, na rede social Twitter, que o Exército compartilhava o anseio "de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade e de respeito à Constituição", e que se mantém atento "às suas missões institucionais".
Sobre o encontro com Alckmin, o general diz que demonstrou ao tucano a importância de discutir os temas de defesa e segurança, "iluminando-os para a sociedade e destacando as dificuldades orçamentárias que impactam negativamente as Forças Armadas". Por sua vez, Alckmin também registrou a reunião em sua conta no Twitter, onde escreveu que é preciso "fazer um grande trabalho nas fronteiras".
O general também divulgou fotos com Marina Silva e Ciro Gomes. Sobre a pré-candidata da Rede, disse que durante o encontro, apresentou temas que "sob a ótica do Exército" são importantes. Sobre Ciro, destacou que a conversa voltou-se para a "necessidade de orçamento previsível; atenção aos projetos estratégicos do Exército".
O general Villas Bôas não publicou fotos com os outros seis presidenciáveis, mas o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), um dos articuladores de Bolsonaro, colocou na rede social Twitter a foto do encontro entre o pré-candidato do PSL, que é capitão reformado, e o general.
O Centro de Comunicação Social do Exército afirma que a rodada de conversas com presidenciáveis aborda um documento que está sendo elaborado com assuntos de interesse da Defesa, a ser entregue aos pré-candidatos. Esclarece que a iniciativa não é inédita, porque precedentes de Villas Bôas no cargo teriam feito o mesmo gesto.
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