Por Raymundo Costa | Valor Econômico
BRASÍLIA - O ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Nelson Jobim tirou 30 dias de férias do banco BTG Pactual, embarcou em uma longa viagem a Europa, a fim de evitar especulações sobre eventual candidatura ao Planalto, mas mantém atenção na campanha presidencial: pelo WhatsApp, ele informou o pré-candidato do MDB, Henrique Meirelles, que não é candidato em outubro e não autorizou nenhuma conversa sobre seu nome.
As especulações em torno do nome do ex-ministro do Supremo ganharam corpo depois que foi confirmada sua filiação ao MDB, no último dia do prazo para os candidatos a candidato, no dia 7 de abril. Primeiro surgiram conversas no MDB gaúcho, estimuladas pelo ministro Osmar Terra (Desenvolvimento Social). Setores do PSDB também passaram a olhar novamente a possibilidade de uma aliança com o MDB, a fim de tentar reunir o centro em torno de uma única candidatura ao Planalto.
Neste desenho, o MDB indicaria Jobim para ser candidato a vice-presidente na chapa encabeçada pelo pré-candidato Geraldo Alckmin. A costura é considerada difícil, pois se Jobim não concorda em ser candidato a presidente pelo MDB, não teria porque aceitar uma vice do PSDB, muito embora seja considerado, no partido, como sendo um emedebista com alma tucana.
A mensagem de Jobim a Meirelles tem três pontos: no primeiro, diz que não é candidato; no segundo, desautoriza qualquer conversa em relação à sua candidatura; por fim, que ele, Jobim, não faria nenhum movimento no sentido de ser candidato sem antes falar com o ex-ministro da Fazenda. Meirelles e Jobim são amigos e as duas famílias mantêm boa relação. Mas este último item é visto entre dirigentes partidários como uma maneira de deixar a porta aberta para eventual candidatura.
A discussão em torno do nome de Jobim reflete as dificuldades pelas quais passa Henrique Meirelles para confirmar seu nome na convenção partidária, a ser realizada no fim de julho. O primeiro desafio do ex-ministro da Fazenda é se mexer nas pesquisas eleitorais, nas quais se encontra estacionado na faixa de 1% das intenções de voto. Isso já seria um problema para o candidato de um governo impopular como o do presidente Michel Temer, mas a desaceleração da retomada do crescimento econômico começa a pesar negativamente.
Depois de uma retomada lenta mas gradual, a expectativa agora é de um crescimento inferior aos 2% do PIB. O principal cacife de Meirelles era a recuperação econômica. Esperava-se algo em torno de 3%, 3,5% de crescimento para viabilizar uma candidatura do partido e até a reeleição do presidente da República.
Depois de um início hesitante, a campanha de Meirelles avalia que ganhou fôlego, nos últimos dias, inclusive na cúpula partidária. No fim de semana, em evento no Rio Grande do Sul, o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, foi enfático, ao falar para um grupo de militantes: "Vamos com Meirelles". O próprio Meirelles encarregou-se de transmitir a mensagem de Jobim: "Ele não é candidato, não vai participar dessas eleições. Estamos juntos".
No domingo, o ministro assistiu ao jogo da seleção brasileira contra a seleção da Suíça no Palácio do Jaburu, cercado dos principais auxiliares do presidente Michel Temer. O ministro Moreira Franco (Minas e Energia), segundo presentes, era um dos mais entusiasmados com a candidatura de Meirelles. Na avaliação do ex-ministro, o partido está se movimentando efetivamente a favor da candidatura dele.
Meirelles acredita que pode superar a marca de 1% nas pesquisas, a partir do momento em que se tornar mais conhecido. Líderes emedebistas acreditam que Meirelles possa efetivamente viabilizar sua indicação pelo partido se atingir algo em torno dos 5% das intenções de voto, nas pesquisas eleitorais, até a data da convenção. A plataforma para o salto em direção aos dois dígitos na pesquisa seria o horário eleitoral. O MDB é o partido com mais tempo de rádio e televisão no horário gratuito.
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