CPI
vai apurar papel de Bolsonaro na propagação intencional do vírus
Nas
primeiras semanas da pandemia, Jair Bolsonaro mostrou que seu plano era trabalhar
para que o coronavírus se espalhasse pelo país. “Como dizem os
infectologistas: 60%, 70% da população será infectada, e só a partir daí nós
teremos o país considerado imunizado”, disse o presidente, em abril de 2020.
Não se sabe que infectologistas eram aqueles ou de onde veio a matemática macabra, mas o incentivo à imunidade de rebanho se tornou estratégia oficial do governo. O presidente estimulou contaminações, agiu para derrubar restrições impostas para conter o vírus e atrasou uma campanha de imunização inteligente a partir da vacinação em massa.
A
CPI da Covid deve se debruçar sobre o papel de Bolsonaro na propagação
deliberada do vírus –já
apontado numa pesquisa de Deisy Ventura, Fernando Aith e Rossana Reis,
da USP. A oposição e o senador Renan Calheiros (MDB), cotado para a relatoria
da comissão, citam a defesa da imunidade de rebanho como um dos itens que serão
investigados.
O
estímulo ao alastramento da doença foi uma opção do presidente. Em maio, o
Ministério da Saúde dizia que a imunidade de rebanho não
era "a melhor estratégia se você não tem vacina". Mesmo assim,
Bolsonaro agiu contra medidas de contenção e insistiu no papo de que a
contaminação generalizada era o caminho.
Ao
estimular aglomerações, o presidente dizia que o coronavírus era "uma
coisa que vai pegar em todo mundo". Depois, ao sabotar a compra de
imunizantes, ele afirmou que a contaminação era
a forma ideal de se proteger. "Eu tive a melhor vacina, foi o vírus.
Sem efeito colateral", declarou, em dezembro. Para Bolsonaro, bastava
tomar cloroquina.
Essa linha de investigação ajuda a desmontar a versão fantasiosa de que a tragédia brasileira foi provocada exclusivamente por um vírus desconhecido, que surpreendeu governantes em todo o mundo. O presidente escolheu um caminho e se manteve nele, contra todas as evidências científicas. Bolsonaro sabia muito bem o que estava fazendo.
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