O
capitão, seu ex-chanceler e o ministro Ricardo Salles viajaram numa maionese de
excentricidades e pirraças
A
diplomacia americana está fritando Bolsonaro. O capitão, seu ex-chanceler e o
ministro Ricardo Salles viajaram numa maionese de excentricidades e pirraças.
Do outro lado, o Departamento de Estado levantou um muro. Quando um porta-voz
disse que espera “seriedade” do governo brasileiro na cúpula do clima que
começa quinta-feira, cravou uma estaca na agenda.
Enquanto
o Departamento de Estado pedia “seriedade”, o primeiro-ministro francês, Jean
Castex, justificava o bloqueio a viajantes brasileiros e arrancava risadas na
Assembleia francesa ao lembrar que “o presidente da República, em 2020,
aconselhou a prescrição de hidroxicloroquina, e gostaria de lembrar que o
Brasil é o país que mais a prescreveu”.
Bolsonaro passou de piromaníaco a pedinte. Admitiu acabar com o desmatamento até 2030 e estragou sua nova posição numa única frase: “Alcançar esta meta, entretanto, exigirá recursos vultosos e políticas públicas abrangentes, cuja magnitude obriga-nos a querer contar com todo apoio possível.” Coisas assim se fazem, mas não se dizem, sobretudo se esse mesmo governo desdenhou a ajuda estrangeira e esvaziou o Fundo Amazônia. Colocar o Brasil, ou qualquer outro país, na posição do cachorro que olha para os espetos de frangos, como fez o doutor Ricardo Salles, é apenas burrice.
O
Império e a República cuidaram da Amazônia de todas as formas, mas nunca
falaram em dinheiro. Essa é a pior maneira para se começar uma negociação
diplomática. Com ela, chega-se apenas a uma velha piada, atribuída ao
ex-secretário de Estado Americano Henry Kissinger.
Numa
versão politicamente correta, ela fica assim:
“Todos
têm um preço”.
“Há
coisas que eu não faço, nem por um milhão de dólares”.
“Você
já está discutindo seu preço”.
Veneno
A
carta de Bolsonaro a Joe Biden ocupa sete páginas.
Fosse
qual fosse seu efeito, ele foi anulado pela curta notícia do afastamento do
delegado Alexandre Saraiva, que chefiava a Superintendência da Polícia Federal
no Amazonas e acusou o ministro do Meio Ambiente de advogar no interesse de
desmatadores.
Lula
e Bolsonaro
Uma
Lava-Jato e três anos depois, Lula ficou maior, e Bolsonaro está menor.
Suprema
criatividade
Quem
entende de Supremo Tribunal Federal arrisca: com a anulação das sentenças que
Curitiba impôs a Lula, algo como dez réus de Sergio Moro, em condições
similares, pedirão o mesmo benefício. Para negá-lo, será necessária inédita
criatividade.
Sumiço
Um
experimentado empresário do agronegócio registra que a militância dos
agrotrogloditas entrou num período de entressafra. Deram-se conta de que colheram
(ou queimaram) o que podiam.
Profissional
e amador
O
embaixador americano no Brasil, Todd Chapman, é um diplomata de carreira. Como
o ex-chanceler Ernesto Araújo também é, entende-se que profissionais acabem se
comportando como amadores. Em 2019, quando estava sendo sabatinado pelos
senadores americanos, Chapman classificou as queimadas da Amazônia como
“ocorrências anuais”. Perdeu uma oportunidade de ficar calado, mas pode-se
entender que não quisesse melindrar Bolsonaro, o bom amigo de Donald Trump.
Passou
o tempo, Trump foi para a Flórida, e na Casa Branca está Joe Biden. O
embaixador Chapman reuniu-se com integrantes da “Articulação dos Povos
Indígenas do Brasil”. A Apib queria um “canal direto” de comunicação com o
governo americano, e o encontro foi diluído com a presença de indígenas
indicados pelo governo. Uma salada.
Não
é boa ideia que um embaixador de povo estrangeiro se reúna com representantes
dos “povos indígenas”, mas seria descortesia não conversar. Podia ter destacado
um diplomata de escalão inferior para o encontro.
Chapman
poderia consultar os arquivos do Departamento de Estado para estudar um valioso
precedente. Em 1876, quando viajava pelos Estados Unidos, D. Pedro II teve seu
trem parado por um grupo de índios Sioux, chefiados pelo famoso “Touro
Sentado”. O cacique pedia que o Imperador intercedesse pelos índios americanos
junto ao presidente Ulysses Grant. É improvável que D. Pedro tenha tratado do
assunto.
Apocalipse
No
mesmo dia em que se noticiava a morte, na cadeia, do vigarista Bernard Madoff,
que em 2008 foi apanhado num golpe de US$ 15 bilhões, Jair Bolsonaro disse que
o Brasil se tornou “um barril de pólvora”: “Estamos na iminência de ter um
problema sério”.
O
que ele quis dizer com isso, não se sabe. Desde o ano passado, Bolsonaro acena
com um Apocalipse. Ora falava em saques, ora advertia para o caos. Morreram
mais de 360 mil pessoas, faltaram testes, vacinas, oxigênio e remédios. A
desordem esteve no governo, e os saques, quando ocorreram, atacaram a Bolsa da
Viúva.
Madoff
também apostou no Apocalipse. Muita antes de ser apanhado, ele sabia que sua
pirâmide explodiria e, preso, contou:
“Eu
queria que o mundo acabasse. Quando aconteceu o atentado de 11 de setembro de
2001, eu achei que ali estava a saída. O mundo acabaria.”
Doutores
cloroquina
É
possível que o repórter Fabiano Maisonnave tenha entregue de bandeja um
presente à CPI da Pandemia. Seria o depoimento dos médicos Michelle Chechter e
Gustavo Maximiliano Dutra, que foram a Manaus em fevereiro para aplicar a
“técnica experimental ‘nebuhcq líquido’, desenvolvida pelo dr. Zelenko”. Eram
nebulizações de cloroquina.
Quatro
pacientes grávidas receberam o tratamento. Todas morreram.
Uma
delas teve um vídeo gravado, postado no dia 20 de março pelo ministro da
Secretaria-Geral da Presidência, Onyx Lorenzoni. Ele informava que “de 0 a 10,
melhorou 8”.
Talvez
Lorenzoni não soubesse, mas ela morrera no dia 2.
Milton
Ribeiro zangou-se
O
ministro Milton Ribeiro, da Educação, zangou-se com uma reportagem de Paulo
Saldaña mostrando a existência de um esquema para fraudar pagamentos do
Financiamento Estudantil, boca rica administrada pelo Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação, o FNDE.
Como
os repórteres são uma raça maldita, o doutor Ribeiro bem que poderia estender
sua zanga ao edital do FNDE de 2019 que pretendia torrar algo como R$ 3 bilhões
na compra de equipamentos para a rede pública de ensino. A Advocacia-Geral da
União sentiu o cheiro de queimado, porque numa só escola 255 alunos receberiam
30 mil laptops (118 para cada um). Outros 335 colégios receberiam mais de um
laptop para cada aluno.
O edital foi suspenso e cancelado. Passaram-se dois anos, três ministros da Educação e pelo menos três presidentes do FNDE, mas ninguém sabe quem botou esse jabuti no edital.
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