sábado, 6 de setembro de 2025

A nova cara do velho golpismo. Por Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

Em conluio com o centrão e a extrema direita, Tarcísio de Freitas é garoto-propaganda do golpismo

Quem pensa que o julgamento de Bolsonaro —que deverá ser condenado com base em uma lei que ele sancionou— poderá tornar o país mais civilizado, virando-se uma página de sobressaltos e traições, engana-se. Vem aí mais aporrinhação, maior esculhambação, novos golpes.

Passada a fase de expor o ex-presidente como vítima —um homem de 70 anos com crises de soluço, quase no bico do urubu, que foi injustamente enjaulado— e pintá-lo como mártir da liberdade —um preso político, um messias censurado, um sepultado em vida— irá retornar o jogo sujo de quem trabalha em causa própria e contra a democracia.

Além da expectativa de mais sanções a autoridades brasileiras e um embargo econômico determinado por Trump, voltará a pressão sobre Hugo Motta —o presidente da Câmara, que recebe ordens de seu antecessor e padrinho, Arthur Lira— para pautar a caprichosa anistia, que agora tem um garoto-propaganda: Tarcísio de Freitas. Busca-se, além da impunidade, a desmoralização do STF, que está na linha de fogo da extrema direita, a paroquial e a internacional, e do centrão, animal que tem fome de emendas.

Para atrair o grupo majoritário e fisiológico que domina o Congresso, o perdão será negociado em contrapartida à aprovação da PEC da Blindagem. Esta —que deveria ser chamada de PEC da Bandidagem— ganhou urgência após a operação que mirou o PCC e sua ligação com os fundos de investimentos geridos na Faria Lima, os quais também estão sob suspeita de lavar dinheiro para outras organizações criminosas. Há deputados e senadores que desde então não conseguem conciliar o sono.

A nova versão da anistia é ainda mais abrangente: libera Bolsonaro para concorrer na eleição de 2026 e perdoa crimes desde o inquérito das fake news, em 2019. O mais delirante é a ideia de convencer o Supremo a não derrubar o projeto. Seria o mesmo que aliar-se ao bando golpista, abrindo a possibilidade de novas tentativas. Como os ministros podem confiar em Tarcísio, que disse não confiar na Justiça?

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