Folha de S. Paulo
Em conluio com o centrão e a extrema direita,
Tarcísio de Freitas é garoto-propaganda do golpismo
Quem pensa que o julgamento de
Bolsonaro —que deverá ser condenado com base em uma lei que ele
sancionou— poderá tornar o país mais civilizado, virando-se uma página de
sobressaltos e traições, engana-se. Vem aí mais aporrinhação, maior
esculhambação, novos golpes.
Passada a fase de expor o ex-presidente como vítima —um homem de 70 anos com crises de soluço, quase no bico do urubu, que foi injustamente enjaulado— e pintá-lo como mártir da liberdade —um preso político, um messias censurado, um sepultado em vida— irá retornar o jogo sujo de quem trabalha em causa própria e contra a democracia.
Além da expectativa de mais sanções a
autoridades brasileiras e um embargo econômico determinado por Trump, voltará a
pressão sobre Hugo Motta —o presidente da Câmara, que recebe ordens de seu
antecessor e padrinho, Arthur Lira— para pautar a caprichosa anistia, que agora
tem um garoto-propaganda: Tarcísio de
Freitas. Busca-se, além da impunidade, a desmoralização do STF, que está
na linha de fogo da extrema direita, a paroquial e a internacional, e do
centrão, animal que tem fome de emendas.
Para atrair o grupo majoritário e fisiológico
que domina o Congresso, o perdão será negociado em contrapartida à aprovação da
PEC da Blindagem. Esta —que deveria ser chamada de PEC da Bandidagem— ganhou
urgência após a operação que mirou o PCC e sua
ligação com os fundos de investimentos geridos na Faria Lima, os quais também
estão sob suspeita de lavar dinheiro para outras organizações criminosas. Há
deputados e senadores que desde então não conseguem conciliar o sono.
A nova versão da anistia é ainda mais
abrangente: libera Bolsonaro para concorrer na eleição de 2026 e perdoa crimes
desde o inquérito das fake news, em 2019. O mais delirante é a ideia de
convencer o Supremo a não derrubar o projeto. Seria o mesmo que aliar-se ao
bando golpista, abrindo a possibilidade de novas tentativas. Como os ministros
podem confiar em Tarcísio, que disse não confiar na Justiça?
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