Ex-governador do Distrito Federal diz que se Bolsonaro se reeleger ano que vem será difícil tirá-lo do poder nas eleições de 2026
Ricardo Noblat - Metrópoles
O professor Marcos Nobre, da Universidade
Estadual de Campinas, alerta que “Bolsonaro é um candidato fortíssimo e as
instituições estão em colapso”. Diz mais: se Bolsonaro for reeleito, ele vai
fechar o país, seguindo os modelos autoritários da Polônia, Hungria e
Filipinas. Se perder, mobilizará parte das Forças Armadas, das polícias
estaduais e das milícias para um golpe.
O professor Cristovam Buarque,
ex-governador do Distrito Federal, defende que PT e PSDB apresentem um
candidato de união nacional, em defesa da democracia e que se elegeria sem
possibilidade de reeleição. Diz ele em entrevista a este blog:
“Sem o
apoio do PT dificilmente alguém da oposição chega no segundo turno e
dificilmente o PT elege alguém, mesmo Lula, sem os votos dos outros partidos.
Sem o apoio de Ciro, Doria, Tasso, Amoedo, etc… Este é o labirinto em que
estamos”.
O professor Marcos Nobre diz que o apoio a
Bolsonaro deve crescer com a ampliação da vacinação e a melhora da economia.
Bolsonaro pode vencer?
Cristovam: Não sei se ele vai crescer. Mas, se ficar onde está, chega ao segundo turno. E pode se eleger se a rejeição do seu oponente for maior do que a dele. Temo que a disputa no primeiro turno entre os candidatos da oposição aumente a rejeição daquele que passar para o segundo turno. Como sempre acontece. Ainda mais em tempo de radicalismos.
É possível unir as esquerdas e a direita
não bolsonarista contra Bolsonaro?
Cristovam: Acho difícil unir, porque de um lado tem os que
dizem nem-nem, nem Bolsonaro e nem Lula. De outro, o PT que diz nem Bolsonaro,
nem golpistas. Além disso, não vejo disposição em nenhum dos que já se lançaram
para abrir mão da sua candidatura pela unidade. Cada um coloca seu nome como o
único, pensando que vai ganhar e que, se perder, cacifou-se para 2026. Vaidade
e ilusão. Porque se Bolsonaro ganhar em 22 será difícil tirá-lo em 26. Ele
usará tudo para continuar.
Marcos Nobre vê as esquerdas divididas. O
PSOL quer o impeachment, o PT confrontar Bolsonaro com Lula. Não haveria espaço
para um candidato outsider porque Bolsonaro já ocupa o lugar de antissistema. E
Ciro Gomes ataca Lula.
Cristovam: Concordo com a análise do Marcos Nobre. Vou
além: a maior força do Bolsonaro somos nós, seus opositores. Nossa divisão,
fragilidade, individualismo e vazio de propostas, salvo ser contra Bolsonaro e
contra os outros da oposição. Tive esperança quando vi o FHC almoçando com o
Lula. Mas uma esperança tênue, porque não soube deles tentando construir alguma
proposta. Eles deveriam fazer uma Nova Carta ao Povo Brasileiro. Desta vez
assinada por todos os líderes da oposição com os compromissos para um próximo
governo e os critérios para escolha de um Novo Tancredo. Que deveria formar um
governo de transição, com um só mandato.
Alguns analistas acham que Bolsonaro acabou
e a esquerda já ganhou com Lula…
Cristovam: Hoje creio que o Lula é o único da oposição com
chance, mas temo a rejeição, merecida ou não, contra ele e o PT. Não que a
rejeição ao Lula leve voto para Bolsonaro, mas leve o eleitor para casa ou para
Paris ou a votar nulo ou branco. Estamos arriscando a vitória do Bolsonaro
contra Lula. O problema é que sem o apoio do PT dificilmente alguém da oposição
chega ao segundo turno e dificilmente o PT elege alguém, mesmo Lula, sem os
votos dos outros partidos.
Muitos dizem que Bolsonaro vai tentar o
golpe. É possível isso?
Cristovam: Bolsonaro sonha com o golpe. É a essência dele:
ditadura, tortura, assassinato de opositores. Nunca negou e sempre elogiou quem
fazia isto. Felizmente ele não parece ter liderança nem carisma para dar um
golpe. Mas o general Pinochet, no Chile, também não tinha. O presidente Allende
o nomeou porque ele era um zero à esquerda. Quem dá o golpe são os golpistas,
mas quem cozinha o golpe são os democratas com suas divisões, seus erros e
falta de propostas.
Se existe risco real de quebra
institucional, por que ninguém faz nada?
Cristovam: Existe este risco de bolivarianismo de direita. São quase as mesmas letras. Ninguém faz nada porque a política é feita pela miopia que não permite ver distante no futuro nem na história. As lideranças não sabem de fato as consequências de um golpe, nem as manobras como os golpes são urdidos. E devem achar que o exílio será para os adversários. Lembre que mesmo na direita, Carlos Lacerda e Magalhães Pinto jamais imaginaram que o golpe cassaria seus direitos políticos. Cassou.
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