- O Estado de S. Paulo
Sensação de vitória de Bolsonaro no caso Pazuello é só sensação. Alerta disparou
Foram dois movimentos paralelos, mas têm
tudo a ver e acendem a luz amarela em gabinetes e consciências neste país:
a decisão do
comandante do Exército, que jogou no lixo os princípios basilares
das Forças Armadas para agradar ao presidente Jair Bolsonaro,
e o ataque também covarde da polícia
pernambucana a manifestantes pacíficos, para testar limites da nossa
democracia.
Tudo está dominado e é indefensável que
oficiais e policiais se calem em nome da disciplina e da hierarquia. O capitão
insubordinado e suas tropas podem implodir esses princípios à vontade, porque
os que teriam de garanti-los alegam que “têm de respeitar a hierarquia”.
Ele se lixa para os protocolos das três Forças, como já fazia há mais de 30 anos, na ativa, mas os que prezam a farda e estão indignados, estupefatos, adotam a mesma postura que criticam do comandante Paulo Sérgio: condenam, mas aos sussurros, no conforto dos seus lares.
Bem fizeram os generais Fernando
Azevedo e Silva e Edson Pujol, o
almirante Ilques
Barbosa e o brigadeiro Antônio
Carlos Bermudes, ao comandar as Forças Armadas como instituições de
Estado, não de governos que vêm e vão. Eles tinham um limite e caíram por saber
de que lado da história ficar. Agora, precisam agir e falar.
Devem estar se remoendo diante da decisão
de Paulo Sérgio, com aval do
Alto Comando, de deixar para lá a grave insubordinação de Pazuello,
que passou por cima do Estatuto Militar e do Regimento Disciplinar do Exército
para se aboletar num trio elétrico da campanha pré-eleitoral de Bolsonaro. Nem
uma mísera advertência?
A desculpa de
Pazuello é que não era ato político. Não?! Então, era o quê?! Ele,
deliberadamente, fez o comandante e o Alto Comando de bobos. E só fez isso, e
deve ter dado gargalhadas ao fazê-lo, porque tinha costas quentes. “O que
manda” engoliu “os que obedecem”, de véspera, na Amazônia. Instalou-se a
anarquia, é só aguardar as eleições de 2022 para ver.
Ao pularem no barco de Bolsonaro em 2018,
os militares achavam que teriam a bússola e o manche. Ledo engano. O capitão encheu
o Planalto de generais e o governo de variadas patentes, mas subjugou todos
eles. “Quem manda sou eu”, repete, enquanto dá medalha para
o dócil comandante do Exército e um gordo aumento para “seus
generais”, em meio à pandemia e ao desemprego feroz.
Não se ouve nenhum oficial-general das três
Forças capaz de defender a impunidade absurda de Pazuello, mas, aparentemente,
empurraram para dois civis, os ex-ministros da Defesa Raul Jungmann e Aldo Rebelo,
o papel de porta-vozes do descontentamento. Entre corajosas exceções, mais uma
vez, o general Santos Cruz.
Como satisfação, ou tentativa de acalmar os
ânimos, oficiais sérios e com senso de responsabilidade informam que a sensação
de vitória de Bolsonaro no episódio é só isso mesmo, uma sensação. Segundo
eles, o presidente alimentou a cizânia, aprofundou a divisão e disparou o sinal
de alerta. Onde ele quer chegar? Quer fazer as Forças
Armadas de marionetes?
Essas questões se tornam ainda mais
inquietantes com o comandante da PM do DF usando o slogan eleitoral de Bolsonaro
(“Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”), e vai-se desenrolando o fio que
permitiu que a polícia de Pernambuco cegasse dois civis indefesos num protesto
pacífico.
As outras duas pontas já estão
desencapadas: o vínculo comprovado com as milícias e a obsessão de armar e
ampliar a munição de civis.
Se Bolsonaro perder a reeleição e um bando de alucinados invadir o Congresso e o Supremo, o que fará a PM? E como reagirão as Forças Armadas? Esse risco é tão óbvio que só não vê quem não quer. O Exército não quer ver? E a Marinha? E a Aeronáutica? Todos vão tapar olhos, ouvidos e bocas, esperando o carnaval chegar?
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