Folha de S. Paulo
Além do caos econômico, principal plano da
extrema direita para o país é o impeachment de ministros do STF
"Está achando ruim essa composição
do Congresso? Então espera a próxima: será pior. E pior,
e pior...". Data de 1991 a sentença de Ulysses Guimarães, que ao longo dos anos virou uma questão
de honra para deputados e senadores. Poucas coisas deram tão certo no Brasil
como o trabalho de desmoralização do Parlamento.
As cenas lamentáveis são rotina, e logo caem no esquecimento, substituídas por outras ainda mais lamentáveis. Na terça (22), um deputado do PL —que atende pela alcunha de Delegado Caveira— exibiu dentro da Câmara uma faixa em apoio a Donald Trump, o presidente dos EUA que ataca o Judiciário brasileiro para impedir o julgamento do golpe de 2022/2023. Da mesma maneira, o réu Jair Bolsonaro ficou à vontade para se comportar, nas escadarias do Congresso, como se fosse uma vedete do teatro rebolado, exibindo a perna com tornozeleira eletrônica.
A crise de representatividade salta aos
olhos. A quinta fase da Operação Overclean encontrou R$ 10 mil em espécie
forrando as botas de um primo do deputado Elmar Nascimento (União Brasil-BA).
Reforçando as investigações da Polícia Federal, um levantamento Genial/Quaest
aponta que, para 82% da população, as emendas parlamentares ao Orçamento são
desviadas ou alvo de corrupção.
A pesquisa também revela que 72% dos
brasileiros desconhecem que deputados e senadores têm à disposição R$ 50
bilhões em emendas. Um despropósito tão grande quanto o PL da Devastação, que
dispensa o licenciamento ambiental e foi aprovado na Câmara de forma
sorrateira, com votação virtual, na madrugada de 17 julho, sob apadrinhamento
do presidente do Senado, Davi
Alcolumbre.
Um Parlamento fora dos eixos alimenta o
golpismo. Bolsonaro quer liderar —em liberdade ou dentro da prisão— o plano
para eleger o maior número de candidatos ao Senado em 2026, visando o
impeachment de ministros do STF. Para a perda da cadeira, valerá qualquer
justificativa, até a de defender a democracia. O primeiro da lista é Alexandre
de Moraes, que parece não estar preocupado.
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