Bolsonaro e seus cúmplices devem ser derrotados não só na Justiça, mas também no terreno político e no campo moral
Chantagistas e traidores. Não há melhor
definição para Jair e Eduardo Bolsonaro, entre outros políticos engajados na
defesa das tarifas
punitivas de Donald Trump. O achaque não é apenas contra setores
produtivos: é contra o Brasil, sua soberania e seu povo. O tarifaço
desencadeará uma série de consequências econômicas que prejudicarão a vida dos
brasileiros como um todo.
Os dicionários costumam definir “chantagem” como o ato de extorquir não só dinheiro, mas também outros benefícios por meio de ameaças, constrangimentos e pressões intimidatórias. É exatamente isso que os bolsonaristas associados a Trump estão fazendo contra o Brasil e seu povo, na tentativa de impedir que a Justiça cumpra seu papel diante das acusações de diversos crimes que pesam sobre o ex-presidente e seus comparsas.
Para escapar ao alcance da lei e praticar um
golpismo continuado, os bolsonaristas apelam ao presidente do país com o maior
poderio militar e econômico do mundo para punir o Brasil e atacar suas
instituições, sem qualquer justificativa econômica. Já foi repetido à exaustão
que os EUA ganham mais do que o Brasil no comércio bilateral.
Quando Lula foi preso injustamente pela Lava
Jato, após ser condenado por Sergio Moro, não promoveu arruaça nem se
insubordinou contra o Judiciário. O líder petista sempre declarou sua inocência
e agiu dentro da legalidade. Já o procedimento de Bolsonaro é uma rebelião
contra o sistema judicial. Ele confronta a lei e pisoteia a Constituição. Temos
aqui o exemplo de um democrata injustiçado, que recorreu à ordem legal para
provar sua inocência, e o de um candidato a ditador, acusado de vários crimes,
que se recusa a ser julgado de forma justa pelas leis da democracia.
Bolsonaro e seus cúmplices não são apenas
chantagistas, são também traidores. No passado, os discursos dessa turma
abusavam de termos como “alta traição” e “lesa-pátria”. Essas expressões caíram
em certo desuso, especialmente nos textos jurídicos. Mas o significado desses
conceitos reaparece em outros termos: golpe de Estado, abolição violenta do
Estado Democrático de Direito, conspiração ou associação criminosa.
O Código Penal brasileiro deveria conter
tipificação e definição claras para o crime de conspiração, especialmente
aquele de natureza política. A tentativa de promover um golpe de Estado é uma
forma de conspiração. O que os bolsonaristas fazem contra o Judiciário ou para
prejudicar o Brasil com o tarifaço também é conspiração.
Historicamente, as conspirações envolviam os
crimes de traição mencionados acima, mas também ações e tentativas que visavam
prejudicar os interesses do País em favor de interesses estrangeiros – ou
subordinar os interesses nacionais aos de uma potência estrangeira. É
exatamente isso que os Bolsonaro e seus comparsas estão fazendo: atacam a
soberania e as instituições democráticas do Brasil para submetê-las aos
interesses dos EUA.
Aqui, os crimes de chantagem e de traição se
fundem. Ao praticá-los, o bolsonarismo explicita toda a sua decrepitude moral,
sua indignidade e sua completa falta de responsabilidade. O mais espantoso é
prestar esse serviço sujo invocando o nome de Deus, sem pudor nem rubor.
As ações de Bolsonaro e Trump revelam algo
ainda mais grave: seus interesses são exclusivamente individuais e familiares.
Eles não se importam com o interesse público, tampouco com o povo. Estatizam
seus próprios objetivos e desígnios criminosos, transformando-os em razão de
Estado.
Essa tipologia de conduta é inerente à
extrema-direita do nosso tempo – e foi típica do nazismo e do fascismo no
passado. Representa uma ameaça às democracias e deve ser cortada pela raiz. É
preciso julgar e condenar, de forma justa, esses grupos pelos crimes
recorrentes que praticam. Mas é preciso também derrotá-los no terreno político,
na esfera da persuasão e no campo moral dos valores.
Essa extrema-direita neofascista precisa ser
enfrentada com firmeza, impondo-lhe uma derrota política e um constrangimento
moral. Ela não pode ser tratada como adversária – precisa ser tratada como
inimiga. Esses grupos são inimigos da democracia, das liberdades e dos
direitos. Estão fora do jogo democrático, e só o praticam para destruí-lo.
Trump não foi combatido, julgado e condenado
pelos crimes da invasão do Capitólio e da tentativa de golpe de Estado. Voltou
ainda mais tirano e destrutivo. Bolsonaro e seus comparsas estão sendo
enfrentados pelo STF, mas ainda não foram política e moralmente derrotados.
Suas chantagens e traições oferecem a oportunidade para que isso aconteça.
Publicado na edição n° 1372 de CartaCapital, em 30 de julho de 2025.
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