Folha de S. Paulo
Em agosto, o mercado animou-se e passou a
baixar expectativas relevantes de inflação
Neste agosto, "o mercado" animou-se
com a possibilidade de a inflação baixar,
mesmo com o resultado qualitativamente ruizinho do IPCA-15.
O BC não se emocionou. Gabriel
Galípolo, presidente do Banco Central, fez questão
de dizer nesta quarta, em linguagem de banqueiro central, que não há
hipótese de que se possa marcar mesmo data vaga para a festa do corte da Selic.
Segundo aquele lugar-comum da turma, a função dos BCs é tirar a bebida da festa quando a animação é grande (quando a economia cresce além do limite sustentável). Não raro, dirigentes de BCs tentam evitar que a mera animação com a possibilidade de festa (corte de juros) acabe por induzir baixas precoces das taxas no mercado.
Galípolo quer evitar a discussão de quando a
Selic vai começar a cair. Vai levar um tempo "bastante prolongado",
lê-se nos textos do BC. Da última vez em que a Selic esteve perto das alturas
de agora, entre 2015 e 2016, ficou estacionada por quase 15 meses em 14,25% ao
ano, em uma situação em teoria menos desfavorável para o começo do fim do
arrocho.
A expectativa de inflação para 2027 decerto
começou a cair, agora em 3,97% —2027 agora é o ano-chave para o BC. Trata-se de
aqui daquelas estimativas de centena e meia de equipes econômicas, em geral de
bancos ou similares, compiladas no
Boletim Focus do BC.
A taxa real de juros está em 9,7% (juro
futuro de um ano descontada a inflação esperada nos próximos 12 meses).
O preço do
dólar voltou a arranhar os R$ 5,40. Ajuda a conter a inflação. O
dólar cai pelo mundo por causa de desconfianças da economia americana e, em
parte menor, por causa da diferença brutal entre taxas de juros brasileiras e
americanas, que deve ainda aumentar até o final do ano.
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Por fim, economistas de "o mercado"
acreditam que as expectativas de inflação deles mesmos começam a baixar por
causa da Selic na estratosfera de 15% ao ano e do que, agora, acreditam ser a
firmeza do Banco Central. Isto é, do BC dirigido majoritariamente por gente
nomeada por Luiz Inácio Lula da Silva. Pois é.
Quando o BC de Ilan Goldfajn começou a cortar
a Selic, em outubro de 2016, o país ainda estava na Grande Recessão de
2014-2016. A taxa real de juros estava em 6,8%. O IPCA baixara de 9,6% (em 12
meses até julho de 2015) para 7,9% em outubro, mas as expectativas para os anos
seguintes haviam voltado a ficar "ancoradas" na meta, de 4,5%
naqueles tempos. Esperava-se algum controle de gasto público, com o teto de
gastos de Michel Temer. A dívida pública era muito menor.
As expectativas agora estão desancoradas
(inflação esperada de 4,3% em 2026 e de 3,97% em 2027, para uma meta de 3%). A
economia cresce faz quatro anos a um ritmo que não se via faz década e meia. O
déficit externo cresce. Não há perspectiva de superávit fiscal que contenha o
crescimento ora sem limite da dívida. A economia começa a esfriar, de leve, mas
o desemprego está em mínimas históricas.
Galípolo disse em público que o BC quer
expectativa de inflação na meta. "Se você falar que aceita [inflação de]
4,5%, a sensação do mercado é de um BC que não persegue [a meta de] 3%, mas sim
4,5%, e, quando ocorrer alguma surpresa, a inflação irá estourar os 4,5%.
Significa que a moeda é menos bem defendida pelo BC e tem tendência a perder
mais valor".
O BC vai segurar também no grito os juros
altos.
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