O Estado de S. Paulo
Ainda precisam dizer como vão tratar Donald Trump e o governo americano
Possíveis candidatos de direita para
enfrentar Lula ainda não encontraram uma linha clara para definir como seriam
as relações com os Estados Unidos caso vençam as eleições. Em parte, caíram na
armadilha de acreditar que a crise bilateral seria um problema de Trump com o
STF e se resolveria numa vitória contra Lula.
Nesse sentido, a crise ainda não produziu no Brasil personagens políticos vindos do espectro de direita com uma visão estratégica em relação aos Estados Unidos – desde décadas, ensinam os clássicos, um problema central para definir a própria “identidade” internacional brasileira. Não é simplesmente uma questão de quem está no poder lá ou aqui, seja de esquerda ou de direita. O Brasil revelado pela crise é uma potência decadente em relação ao que já foi no seu próprio entorno geográfico. De novo, não é por estar cercado de governos “amigos” ou “inimigos”. É por ter perdido capacidade de projeção de poder nos seus vários sentidos.
Do ponto de vista da política doméstica, a
mesma crise expôs um país estagnado do ponto de vista institucional por uma
permanente situação de desequilíbrio entre os Poderes. Agravada por falta de
lideranças com “projeto nacional” em suas várias configurações – até mesmo os
estamentos militares têm como única preocupação hoje sobreviver à falta de
orçamento para qualquer coisa.
A lição principal da crise com os EUA até
aqui é o fato de que a vulnerabilidade brasileira tornou o País um alvo fácil.
E suas vantagens competitivas (na transição energética, por exemplo) estão
subordinadas ao grande quadro geopolítico. Nessa situação, exibir a condição de
superpotência na produção de alimentos não garantiu ao Brasil o que se poderia
chamar de “posição de força” (tem sido o contrário).
Trump tem exibido uma disposição brutal para
frear quem considere adversário utilizando para isso preferencialmente a
ferramenta das tarifas, mas acompanhadas de barreiras tecnológicas e
financeiras. No jogo pesado geopolítico, não há nada que garanta um tratamento
preferencial por parte dos Estados Unidos ao Brasil na eventualidade de um
“governo amigo” de direita – é só olhar para o que aconteceu com a “amiga”
Índia.
Em outras palavras, até aqui os
presidenciáveis de direita se arriscam a cometer em relação aos Estados Unidos
o mesmo erro de Lula em relação aos autocratas e governos de esquerda pelos
quais sempre nutriu grande admiração: o de que “amizades” entre países
compensam ou mesmo atenuam “interesses”.
Bolsonaro está deixando para eles uma
saia-justa formidável, da qual não conseguiram até aqui se libertar. O
interesse nacional cabe ao próprio País decidir, e não ao presidente americano.
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