terça-feira, 9 de setembro de 2025

Tarcísio é um bolsonarista moderado? Por Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Não importa qual interpretação se dê ao termo bolsonarismo moderado, governador de SP erra ao atacar legitimidade do STF para julgar ex-presidente

Tarcísio de Freitas é o bolsonarista moderado que eleitores de direita querem ver surgir em 2026? A turma que acha que sim sofreu um baque após a manifestação do 7 de Setembro, em que o governador paulista lançou ataques diretos ao STF e a Alexandre de Moraes, a quem praticamente chamou de tirano.

Podemos generalizar mais e nos perguntar se faz sentido falar em "bolsonarismo moderado". O problema aqui, creio, é mais linguístico do que propriamente político ou filosófico. É que existem pelo menos duas maneiras de interpretar o binômio "bolsonarismo (ou bolsonarista) moderado", que remetem a universos bastante distintos.

Numa hermenêutica mais conceitual, o bolsonarismo, entendido como uma ideologia extremista, seria incompatível com a noção de moderação. Apenas conjugar os dois termos nos lançaria no terreno das contradições impossíveis. Seria como exigir de um deus onipotente que crie uma pedra tão pesada que ele próprio não consiga carregá-la —um gravoso "non sequitur".

Essa é uma interpretação perfeitamente legítima e talvez até útil, mas não a única. Nós também podemos adotar um "framing" menos teórico e mais prático para a demarcação do problema. Objetivamente, de quaisquer dois indivíduos que você compare, em qualquer campo ideológico, sempre haverá um que é mais moderado (ou menos radical) que o outro.

Podemos, por exemplo, afirmar que Albert Speer era mais moderado do que Heinrich Himmler. Isso não elimina nem atenua o nazismo de nenhum deles, mas é uma distinção real que, em determinados contextos, pode fazer sentido apontar. Existem, portanto, situações em que falar em bolsonarista moderado não encerra necessariamente uma contradição lógica.

O problema de Tarcísio não é um de aferição de moderação, mas de erro material mesmo. Ao negar a legitimidade do STF para julgar Jair Bolsonaro, ele se afasta do respeito à institucionalidade, que, como aprendemos no governo passado, é característica indispensável para quem pretende comandar o país.

 

 

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