Folha de S. Paulo
Não importa qual interpretação se dê ao termo
bolsonarismo moderado, governador de SP erra ao atacar legitimidade do STF para
julgar ex-presidente
Tarcísio
de Freitas é o bolsonarista moderado que eleitores de direita querem
ver surgir em 2026?
A turma que acha que sim sofreu um baque após a manifestação do 7 de Setembro,
em que o governador paulista lançou ataques diretos ao STF e a Alexandre
de Moraes, a quem praticamente chamou
de tirano.
Podemos generalizar mais e nos perguntar se faz sentido falar em "bolsonarismo
moderado". O problema aqui, creio, é mais linguístico do que
propriamente político ou filosófico. É que existem pelo menos duas maneiras de
interpretar o binômio "bolsonarismo (ou bolsonarista) moderado", que
remetem a universos bastante distintos.
Numa hermenêutica mais conceitual, o bolsonarismo, entendido como uma ideologia
extremista, seria incompatível com a noção de moderação. Apenas conjugar os
dois termos nos lançaria no terreno das contradições impossíveis. Seria como exigir
de um deus onipotente que crie uma pedra tão pesada que ele próprio não consiga
carregá-la —um gravoso "non sequitur".
Essa é uma interpretação perfeitamente legítima e talvez até útil, mas não a
única. Nós também podemos adotar um "framing" menos teórico e mais
prático para a demarcação do problema. Objetivamente, de quaisquer dois
indivíduos que você compare, em qualquer campo ideológico, sempre haverá um que
é mais moderado (ou menos radical) que o outro.
Podemos, por exemplo, afirmar que Albert Speer era mais moderado do que
Heinrich Himmler. Isso não elimina nem atenua o nazismo de
nenhum deles, mas é uma distinção real que, em determinados contextos, pode
fazer sentido apontar. Existem, portanto, situações em que falar em
bolsonarista moderado não encerra necessariamente uma contradição lógica.
O problema de Tarcísio não é um de aferição
de moderação, mas de erro material mesmo. Ao negar a legitimidade
do STF para julgar Jair
Bolsonaro, ele se afasta do respeito à institucionalidade, que, como
aprendemos no governo passado, é característica indispensável para quem
pretende comandar o país.
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