quinta-feira, 20 de novembro de 2025

Congresso quase inteiro está caladinho sobre o Master e o BRB, por Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Caso Americanas, que era roubança privada, teve CPI. Rolo com banco estatal não vai ter?

CPIs têm dado em nada, mas frente ampla de inquéritos dificulta a vida dos malandros

O Congresso não tem vontade alguma de criar uma CPI do Master-BRB. Um deputado federal, Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), tenta arrumar assinaturas para o requerimento de uma Comissão Parlamentar de Inquérito. "Não vai rolar", diz uma dúzia de seus colegas da Câmara. Querem ver o assunto cair morto em um caixão.

Pelo menos desde que o BRB decidiu comprar o Master, em março, se diz que Daniel Vorcaro tinha muito amigo e contato importante em Brasília, o que em si não quer dizer nada. Banqueiros e empresários muito maiores têm ainda mais amigo e contato importante em Brasília. Não quer dizer que corrompam.

O silêncio parlamentar, no entanto, é sintomático.

Dizer que Vorcaro tinha muito amigo na política dá apenas aparência de esperteza sabichona de bastidores. O importante é inventar meios de descobrir os mandantes (quem mandou o BRB comprar o Master), quem fez pressão pela aprovação da venda (no BRB, no DF, no Congresso ou sei lá), o motivo de investimentos de fundos de pensão de servidores comprarem papéis do banco e quem ganhou com isso, de modo direto e indireto. Óbvio.

Os rabichos dessa história viriam de delação premiada, de CPI ou varreduras de outra espécie, como em auditorias em fundos de pensão, no BRB ou em outra instituição qualquer que entrou nesses negócios (há outras). Também obviamente, Banco Central, Comissão de Valores Mobiliários, Polícia Federal e Ministério Público Federal vão continuar a investigar. Mas até para a PF é difícil achar o rastro do dinheiro, na política ou na finança. Uma CPI dificilmente chegaria ou quereria chegar lá. Mas CPIs melhorzinhas criam oportunidade de pegar um fio de história, até por acidente. Aliás, Vorcaro pode ficar solto?

No caso Americanas, de 2023, roubança privada, houve CPI. Agora, autoridades dizem ter indícios muito fortes de roubança privada em associação com um banco estatal. A julgar pelas evidências iniciais, o Master simplesmente inventou que tinha feito empréstimos que valeriam, no total, R$ 12 bilhões e o BRB comprou essa história, esses terrenos grilados na Lua.

Além disso, pode haver discussão relevante sobre regulação. Isto é, os limites dos fundos garantidores de crédito (que cobrem alguns calotes de bancos), quem financia esse fundo (todo mundo que ganha dinheiro com operações garantidas ou na intermediação delas deveria pagar, mas não paga). Está todo mundo farto de saber dos CDBs (empréstimos tomados pelo banco) que pagavam juros insustentáveis do Master. Mas o banco aproveitou a regra. A regra é ruim? Se não é, haveria algo a fazer quanto a fiscalização, então? Se há, o BC tem gente suficiente para fazer tal coisa? Em qual situação (pois não há condição de fazer varredura permanente)? São questões.

A primeira questão da CPI, porém, é o escândalo novo e grotesco de um banco privado pegar dinheiro estatal em troca de créditos falsos, que depois sumiriam no balanço do BRB (que agasalharia o Master).

Mais do que sempre e piorando, CPIs têm dado em nada, nem mesmo em relatórios com informações relevantes. Politicamente, seu efeito midiático tem sido menor também porque essas comissões nem ao menos conseguem documentos ou depoimentos reveladores. O que sai de melhorzinho, se alguém presta atenção, é diluído pelas comissões de mentiras, cancelamentos e outras baixarias das redes. Ainda assim, valeria a tentativa. Mas, além de gatos pingados da situação, o Congresso está caladinho.

 

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