Folha de S. Paulo
Caso Americanas, que era roubança privada,
teve CPI. Rolo com banco estatal não vai ter?
CPIs têm dado em nada, mas frente ampla de
inquéritos dificulta a vida dos malandros
O Congresso não tem vontade alguma de criar
uma CPI do Master-BRB. Um deputado federal, Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), tenta
arrumar assinaturas para o requerimento de uma Comissão Parlamentar de
Inquérito. "Não vai rolar", diz uma dúzia de seus colegas da Câmara.
Querem ver o assunto cair morto em um caixão.
Pelo menos desde que o
BRB decidiu comprar o Master, em março, se diz que Daniel Vorcaro tinha
muito amigo e contato importante em Brasília, o que em si não quer dizer nada.
Banqueiros e empresários muito maiores têm ainda mais amigo e contato
importante em Brasília. Não quer dizer que corrompam.
O silêncio parlamentar, no entanto, é sintomático.
Dizer que Vorcaro tinha muito amigo na
política dá apenas aparência de esperteza sabichona de bastidores. O importante
é inventar meios de descobrir os mandantes (quem mandou o BRB comprar o
Master), quem
fez pressão pela aprovação da venda (no BRB, no DF, no Congresso ou sei lá),
o motivo de investimentos de fundos de pensão de servidores comprarem papéis do
banco e quem ganhou com isso, de modo direto e indireto. Óbvio.
Os rabichos dessa história viriam de delação
premiada, de CPI ou varreduras de outra espécie, como em auditorias em fundos
de pensão, no BRB ou em outra instituição qualquer que entrou nesses negócios
(há outras). Também obviamente, Banco Central,
Comissão de Valores Mobiliários, Polícia Federal e Ministério Público Federal
vão continuar a investigar. Mas até para a PF é difícil achar o rastro do
dinheiro, na política ou na finança. Uma CPI dificilmente chegaria ou quereria
chegar lá. Mas CPIs melhorzinhas criam oportunidade de pegar um fio de
história, até por acidente. Aliás, Vorcaro pode ficar solto?
No
caso Americanas, de 2023, roubança privada, houve CPI. Agora,
autoridades dizem ter indícios muito fortes de roubança privada em associação
com um banco estatal. A julgar pelas evidências iniciais, o Master simplesmente
inventou que tinha feito empréstimos que valeriam, no total, R$ 12 bilhões e o
BRB comprou essa história, esses terrenos grilados na Lua.
Além disso, pode haver discussão relevante
sobre regulação. Isto é, os
limites dos fundos garantidores de crédito (que cobrem alguns calotes de
bancos), quem financia esse fundo (todo mundo que ganha dinheiro com
operações garantidas ou na intermediação delas deveria pagar, mas não paga).
Está todo mundo farto de saber dos CDBs
(empréstimos tomados pelo banco) que pagavam juros insustentáveis do Master.
Mas o banco aproveitou a regra. A regra é ruim? Se não é, haveria algo a fazer
quanto a fiscalização, então? Se há, o BC tem gente suficiente para fazer tal
coisa? Em qual situação (pois não há condição de fazer varredura permanente)?
São questões.
A primeira questão da CPI, porém, é o
escândalo novo e grotesco de um banco
privado pegar dinheiro estatal em troca de créditos falsos, que depois
sumiriam no balanço do BRB (que agasalharia o Master).
Mais do que sempre e piorando, CPIs
têm dado em nada, nem mesmo em relatórios com informações relevantes.
Politicamente, seu efeito midiático tem sido menor também porque essas
comissões nem ao menos conseguem documentos ou depoimentos reveladores. O que
sai de melhorzinho, se alguém presta atenção, é diluído pelas comissões de
mentiras, cancelamentos e outras baixarias das redes. Ainda assim, valeria a
tentativa. Mas, além de gatos pingados da situação, o Congresso está caladinho.
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