DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Números dos PIBs estaduais e da Pnad indicam diminuta redistribuição regional da renda durante esta década
NO ANO da reeleição de Lula, muito se falava do "crescimento chinês" da renda dos mais pobres e do Nordeste. De fato, as vendas do comércio varejista nos Estados do Nordeste chegaram a crescer a um ritmo três vezes maior que o da média do país no início de 2006. O fenômeno ficou evidente no final do primeiro trimestre de 2005 e acabou em meados de 2007. Desde então, o aumento do consumo de varejo nordestino ficou mais ou menos na média brasileira. O Nordeste "chinês" parecia ter se desvanecido, ao menos nas vendas do comércio.
Nas estatísticas do PIB dos Estados divulgadas ontem pelo IBGE, a melhoria relativa do Nordeste parece também imperceptível.
Em 2002, o PIB per capita do Nordeste equivalia a 46,44% do PIB per capita do Brasil.
Atente para os decimais, pois é lá que está a diferença para 2007, o último para o qual IBGE divulgou dados. Nesse ano, o PIB per capita do Nordeste era 46,66% do PIB per capita brasileiro. Melhoras? No Maranhão, o PIB per capita passou de 31,5% da média nacional para 35,7%. No Rio Grande do Norte, de 50,5% para 52,6%. No Piauí, de 30,4% para 32,2%. Nos outros seis Estados da região, houve redução relativa da renda ou variações estatisticamente insignificantes.
Note-se de passagem que "PIB per capita" é o valor da produção de todos os bens e serviços de uma região dividido pela população. É uma medida relativa (e muito imprecisa) de bem-estar econômico, mas não se trata de "renda per capita".
Como a medida do PIB e do PIB per capita tem lá suas limitações, pode se comparar o progresso da renda regional nesta década com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, a Pnad, também do IBGE, uma das melhores pesquisas do mundo, no gênero. A Pnad faz uma gigantesca amostragem da população. Pergunta aos cidadãos sobre sua renda. Também chega a uma renda média per capita, para o Brasil e para os Estados. Não é possível comparar, sem muito trabalho, os dados absolutos da renda do PIB com os da Pnad (que são, basicamente, renda do trabalho e transferências sociais, sendo subnotificada a renda financeira). Mas é possível verificar se, na Pnad, o rendimento médio das pessoas no Nordeste variou em relação ao dos moradores de outras regiões, entre 2002 e 2007.
Em 2002, o rendimento médio dos nordestinos equivalia a 57% do rendimento médio brasileiro; subiu para 60,5% em 2007 (e para 62% em 2008). Já é alguma coisa, mas não se trata de "crescimento chinês". Parte dessa melhoria se deve ao aumento de transferências sociais (aposentadorias, Bolsa Família e outros benefícios assistenciais). Por exemplo, na fatia mais pobre da população nordestina (os 10% mais pobres), a renda derivada do trabalho cresceu 7,7% entre 2001 e 2006; a de outras fontes, 245% ("outras fontes" exclui aposentadorias e trabalho). Porém, o fenômeno se repetiu noutras faixas de renda da metade mais pobre da população (essas contas foram baseadas em dados dos pesquisadores Lena Lavinas e André Cavalcanti). Essa dependência de benefícios sociais não ocorreu no Sudeste.
A desigualdade regional diminuiu talvez um tico. Mas parece haver muito pouco progresso na base econômica dos Estados mais pobres.
Números dos PIBs estaduais e da Pnad indicam diminuta redistribuição regional da renda durante esta década
NO ANO da reeleição de Lula, muito se falava do "crescimento chinês" da renda dos mais pobres e do Nordeste. De fato, as vendas do comércio varejista nos Estados do Nordeste chegaram a crescer a um ritmo três vezes maior que o da média do país no início de 2006. O fenômeno ficou evidente no final do primeiro trimestre de 2005 e acabou em meados de 2007. Desde então, o aumento do consumo de varejo nordestino ficou mais ou menos na média brasileira. O Nordeste "chinês" parecia ter se desvanecido, ao menos nas vendas do comércio.
Nas estatísticas do PIB dos Estados divulgadas ontem pelo IBGE, a melhoria relativa do Nordeste parece também imperceptível.
Em 2002, o PIB per capita do Nordeste equivalia a 46,44% do PIB per capita do Brasil.
Atente para os decimais, pois é lá que está a diferença para 2007, o último para o qual IBGE divulgou dados. Nesse ano, o PIB per capita do Nordeste era 46,66% do PIB per capita brasileiro. Melhoras? No Maranhão, o PIB per capita passou de 31,5% da média nacional para 35,7%. No Rio Grande do Norte, de 50,5% para 52,6%. No Piauí, de 30,4% para 32,2%. Nos outros seis Estados da região, houve redução relativa da renda ou variações estatisticamente insignificantes.
Note-se de passagem que "PIB per capita" é o valor da produção de todos os bens e serviços de uma região dividido pela população. É uma medida relativa (e muito imprecisa) de bem-estar econômico, mas não se trata de "renda per capita".
Como a medida do PIB e do PIB per capita tem lá suas limitações, pode se comparar o progresso da renda regional nesta década com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, a Pnad, também do IBGE, uma das melhores pesquisas do mundo, no gênero. A Pnad faz uma gigantesca amostragem da população. Pergunta aos cidadãos sobre sua renda. Também chega a uma renda média per capita, para o Brasil e para os Estados. Não é possível comparar, sem muito trabalho, os dados absolutos da renda do PIB com os da Pnad (que são, basicamente, renda do trabalho e transferências sociais, sendo subnotificada a renda financeira). Mas é possível verificar se, na Pnad, o rendimento médio das pessoas no Nordeste variou em relação ao dos moradores de outras regiões, entre 2002 e 2007.
Em 2002, o rendimento médio dos nordestinos equivalia a 57% do rendimento médio brasileiro; subiu para 60,5% em 2007 (e para 62% em 2008). Já é alguma coisa, mas não se trata de "crescimento chinês". Parte dessa melhoria se deve ao aumento de transferências sociais (aposentadorias, Bolsa Família e outros benefícios assistenciais). Por exemplo, na fatia mais pobre da população nordestina (os 10% mais pobres), a renda derivada do trabalho cresceu 7,7% entre 2001 e 2006; a de outras fontes, 245% ("outras fontes" exclui aposentadorias e trabalho). Porém, o fenômeno se repetiu noutras faixas de renda da metade mais pobre da população (essas contas foram baseadas em dados dos pesquisadores Lena Lavinas e André Cavalcanti). Essa dependência de benefícios sociais não ocorreu no Sudeste.
A desigualdade regional diminuiu talvez um tico. Mas parece haver muito pouco progresso na base econômica dos Estados mais pobres.
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