Para Freire, quem vai tomar decisões por Ciro é o presidente da República.
Por: Valéria de Oliveira
O presidente nacional do PPS, Roberto Freire, afirma que o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) não tem autonomia para decidir se mantém ou retira sua pré-candidatura à Presidência da República porque é "uma marionete" do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Foi Lula quem mandou que ele transferisse seu domicílio eleitoral para São Paulo", lembrou. Ciro garantiu ao governador de Minas, Aécio Neves, que deixaria de disputar a Presidência da República se o mineiro fosse o postulante ao cargo pelo PSDB.
Freire fez a declaração em entrevista ao programa Tribuna Livre, da Rede Vida, na noite desta terça-feira. "Eu não acredito que Aécio esteja se iludindo que vai aglutinar, para uma candidatura sua, Ciro Gomes, que é pau mandado de Lula. Além disso, o PSB está entranhado em alianças com Lula". Para Freire, quem vai tomar decisões por Ciro é o presidente da República. Já o PPS vai apoiar o PSDB porque assim o partido decidiu em congresso nacional. "Quando decidimos lançar candidato a presidente, lançamos". Agora, o partido quer a unidade Serra-Aécio e tem defensores de ambos os nomes para encabeçar a chapa tucana.
Terrorismo
Ao ser questionado sobre suposta afirmação de Aécio a empresários de que o governador José Serra, de São Paulo, teria mais dificuldade do que ele de conseguir apoio no Congresso e que enfrentaria manifestações constantes dos movimentos sociais ligados ao PT, tumultuando sua administração, Freire respondeu lembrando o "terrorismo" feito para evitar a eleição de Lula, em 2002. Se a declaração atribuída ao governador de Minas é verdadeira, disse Freire, ela foi muito infeliz.
"O que eu sei é que o setor financeiro e alguns empresários não gostam de Serra – e por isso estou com ele. O setor financeiro fez tantas estrepolias em 2002 que conseguiu extrair de Lula uma carta aos brasileiros, que era mais uma carta aos banqueiros, para evitar a vitória de Serra, porque ele sabe o que é defender interesse público".
Desmonte
Freire lembrou que Serra conseguiu criar os genéricos, "algo que no governo Lula também está regredindo, e quebrou algumas patentes, o que desagradou o setor farmacêutico no mundo". O ex-senador criticou o esvaziamento da Anvisa, que era o único órgão a reconhecer patentes no país. "Ali, se podia trabalhar para o desenvolvimento da indústria de genéricos; se controlava essa discussão e não se subordinava às fantasias da indústria farmacêutica". Recentemente, a Anvisa perdeu o poder de discutir as patentes, no Brasil, de muitas dessas drogas, disse Freire. "Serra enfrenta esses interesses com uma visão do interesse nacional; esses setores preferem um governo que sirva aos seus propósitos, que faça suas vontades".
Freire voltou a defender a desprivatização do Estado brasileiro, que está nas mãos dos interesses privados. Desde 1989, quando disputou a Presidência da República pelo então PCB, o presidente do PPS alerta para essa distorção. "Não se tem definição de políticas públicas, mas sim daquelas que interessam às empreiteiras, aos grandes grupos econômicos, ao setor financeiro".
O ex-senador condenou, também, o esvaziamento das agências reguladoras, processo que, conforme lembrou, começou ainda no governo Fernando Henrique. Freire chamou de dogmático o estatismo que o PT exibe no discurso. Essa concepção, entretanto, disse Freire, é apenas uma questão de retórica, "porque se fosse verdade, o governo deles já teria reestatizado tudo; mas sabem que essa medida não funcionaria, porque o estado não tem condições de investir nas empresas de forma a torná-las competitivas".
Direita
Quando um telespectador perguntou se Freire não estaria se juntando a políticos de direita, ele foi enfático ao dizer que Serra é de esquerda e contou que, logo após as eleições de 2002, chegou à conclusão de que os partidos de esquerda apoiaram Lula, mas o candidato de esquerda era, na verdade, o ex-ministro da Saúde. "Eu não estou preocupado em acusar Lula de ter escolhido um dos grandes capitalistas da indústria textil deste país para ser seu vice, o José Alencar".
Freire disse, também, que, quando o PPS ainda apoiava o governo Lula, foi a uma das reuniões políticas e se surpreendeu ao ver os participantes. "Eu não imaginava ganhar a eleição para estar entre essas pessoas, não; faltou Maluf, mas Pedro Correa o representou; também não imaginava que Roberto Jefferson fosse receber um cheque em branco do presidente da República, que estaríamos com Valdemar Costa Neto".
Freire frisou que não admitia uma afirmação de que ele estaria fazendo aliança com a direita, e alfinetou, referindo-se a Lula: "O apagão do país, disse Freire, é um apagão na política também, de um Edison Lobão, que, esse sim, é um homem do regime militar. E tem mais, eu não tenho Delfim (Neto) como meu comensal, dando orientações". O ex-ministro da ditadura militar, afirmou Freire, pode ser um excelente economista. "Mas não vai ser economista de um governo meu, por conta da sua política de desrespeito aos direitos humanos, pois é um homem que assinou o AI-5".
O governo Lula ampliou tanto suas alianças, na avaliação de Roberto Freire, que acabou ficando com um PMDB "que nem mesmo um significado democrático tem, porque não é o PMDB da resistência".
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