quarta-feira, 31 de dezembro de 2025

Nervosismo com os fundos do Master. Por Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Polícia Federal e Ministério Público investigam andanças suspeitas de dinheiro

Sanções contra Moraes também levaram certos bancos a se indispor com o ministro

Há muita gente nervosa desde a prisão de Daniel Vorcaro e da liquidação do banco dele, o Master. Há gente nervosa por vários motivos, alguns ainda pouco claros.

Há gente nervosa porque Polícia Federal e Ministério Público já investigam faz cerca de um mês outro tipo de operação do Master sob suspeita, de acordo com investigadores. O banco fazia empréstimos para empresas, arroz com feijão, nos conformes. Emprestado, o dinheiro parecia ter um destino interessante. Estacionava em certos fundos.

Daí servia para comprar papeis que não valiam aquilo tudo, em outros fundos. Para quem começa a analisar a coisa, lembra até certas operações com a gestora de fundos Reag, alvo da operação Carbono Oculto. Os diretores do trânsito desse dinheiro estão nervosos.

Há gente nervosa por causa do conflito que envolve Alexandre de Moraes. O jornal "O Globo" revelou que o Master contratou o escritório de advocacia de mulher e filhos de Moraes por serviços que poderiam render R$ 129 milhões.

A partir de então, esse ministro do STF passou a ser frito em público. Era acusado de ter feito lobby a favor do Master em contatos com Gabriel Galípolo, presidente do Banco Central —quereria impedir a liquidação do banco, que foi liquidado, no entanto.

Não há, até agora, evidências dessas "pressões", embora Moraes tenha querido saber a respeito de crimes no Master. Não se sabe também a motivação precisa de certas pessoas, do alto da finança, para atacar Moraes. De outras, se sabe algo.

Moraes foi por um tempo sancionado pelos EUA, com base na lei Magnitsky. Caso o governo americano levasse ao limite as exigências de morte financeira de Moraes, bancos e até o sistema financeiro do Brasil poderiam ter problemas críticos. Pelo menos dois bancos não gostaram da "insensibilidade" do STF e Moraes quanto a esses riscos. Relações ficaram estremecidas, para dizer o mínimo.

O ministro Dias Toffoli, também do STF, age de maneira agressiva quanto às providências que o BC tomou em relação ao Master. Um ministro do TCU entrou de sola no caso. PF e PGR julgaram tais atitudes, como acareação, no mínimo precipitadas, até porque há investigação de enormidades em andamento. É um presente para a estratégia da defesa, de desmoralizar o BC e as investigações, o que seria um calmante para muita gente nervosa.

A maior parte da banca agora teme que a regulação e a fiscalização do BC virem besteirinha do jogo cada vez mais politizado do sistema de Justiça; teme salvação marota do Master.

Há gente nervosa na bancada amiga do Master, no centrão direitão, que se prontificou a apresentar projetos de leis que atenuariam agruras do banco; entre quem incentivou investimento de fundo de pensão do setor público no Master; entre próximos do BRB.

Com base nisso e fontes da própria cabeça, há quem faça diagramas de relações perigosas que provariam bandalha. É "especulativo, protesto". Não se trata de jornalismo "off the records" (com informantes não nomeados em público), que já serviu para revelar muito escândalo desta República precária. Mas as pistas não são desprezíveis, apesar da ausência de evidências.

Ataques de gente da finança e lobby jurídico pesado tumultuaram o ambiente. Há mais fofoca e ruído do que fatos, pois parte grossa da elite da finança, do direito e da Justiça está em guerra, nem sempre pelas mesmas causas secretas. Curiosamente, governo e Congresso, até o que odeia STF e Moraes, estão quase calados.

 

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