quarta-feira, 26 de novembro de 2025

O futuro do bolsonarismo sem Bolsonaro, por Vera Rosa

O Estado de S. Paulo

Centrão só quer que ex-presidente indique logo Tarcísio e pare de derreter a imagem da direita

A prisão de Jair Bolsonaro (PL) abre caminho para que a direita, enfim, comece a acertar os ponteiros sobre a disputa eleitoral de 2026. Mas como ficará o bolsonarismo sem Bolsonaro?

O Centrão não quer saber de vigília de oração, como a que foi convocada pelo senador Flávio Bolsonaro, o filho 01, nem de uma discussão sem fim sobre anistia, com potencial de irritar ainda mais o STF – Corte onde muitos estão “pendurados”.

Na prática, o grupo que sustentou o então presidente na época do orçamento secreto reza agora para que Bolsonaro indique logo, antes que perca mais capital político, quem irá ungir como seu sucessor para a disputa do ano que vem.

Muitos dizem que o ex-capitão não vai apoiar nenhuma chapa presidencial sem um nome da família para liderá-la. Será mesmo? Quem conversou com Bolsonaro antes que ele fosse levado à prisão na Superintendência da Polícia Federal, ainda no sábado, garante outra coisa.

“Bolsonaro me disse que não aceita nenhum nome da família para cabeça de chapa, nem Flávio nem Michelle. Eles podem até concorrer a vice, mas todo o trabalho é para que sejam candidatos ao Senado”, afirmou o líder do PL na Câmara, Sóstenes

Cavalcante. O motivo? “Não quer que sofram a perseguição que ele sofreu”.

Embora a trama golpista esteja repleta de provas envolvendo o ex-presidente e militares de alta patente – que pela primeira vez são condenados –, este é o discurso a ser entoado daqui para a frente.

O fato, porém, é que os apoiadores de Bolsonaro estão órfãos e o projeto de anistia não sairá do papel: virou palavra de ordem desbotada e inscrição em camisetas que encalharam.

Não há clima político para esse perdão em um País que passou por uma tentativa de golpe em janeiro de 2023 e hoje, dois anos e dez meses depois, não vê nenhuma comoção social com o encarceramento de Bolsonaro.

Na próxima temporada, o Centrão e o PL terão uma prova de fogo: ou se unem para conter dissidências e lançar um candidato que enfrente o presidente Lula em 2026 ou podem aguardar nova vitória do PT.

A portas fechadas, a maior parte do PL e do bloco conservador admite que, sem Bolsonaro no jogo, o único nome competitivo para a eleição rumo ao Planalto é o do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.

Mas a briga pelo espólio bolsonarista começará mesmo agora, com os filhos do ex-presidente desnorteados. O que o Centrão quer é que Bolsonaro fale de uma vez por todas quem vai abençoar e pare de derreter a imagem da direita. Depois disso, pode ouvir as vozes que quiser e queimar o que bem entender. Desde que seja bem longe... 

Nenhum comentário: