terça-feira, 25 de novembro de 2025

Coop30 - Sonhos que quase viraram pesadelos, por Aylê-Salassié Filgueiras Quintão*

Prisão de Bolsonaro, do presidente do Banco Master, dos  responsáveis  pelo assalto aos aposentados do INSS,  discussão da PEC da Bandidagem, prejuízo bilionário nos Correios, indicação, pelo mesmo  presidente, do 11o ministro do Supremo Tribunal Federal  com ligações políticas  explícitas, destaque midiático para os líderes de quadrilha presos, há anos, na Papuda, culminando o noticiário dos jornais com o comovente  assassinato, em Brasília, de uma criança de 7 anos por ciúme entre casal. Este foi  cenário  de fundo  que abrigou a trigésima  Conferência do Clima, realizada  em Belém (Pará), na última semana.
Os resultados reconhecidos pelos próprios organizadores como " aquém do esperado" podem chegar a  afetar o fechamento das contas públicas do  Brasil no exercício de 2025. Não apenas foram feitos  investimentos exagerados para receber o evento, como   frustrou a fantasia  de captar, por doação,  trilhões de dólares ou euros dos países  ricos - Estados Unidos, União Europeia e China - para alimentar um Fundo de controle das  ameaças climáticas no mundo,  em particular  para a proteção da Amazônia.  "Sonhou-se muito alto"  e  a retórica emotiva foi  recebida com cautela, como se fosse  uma imaginária tentativa de gerar o que  poderia ser entendido quase como uma chantagem   . Projetava-se  uma arrecadação , durante  a Conferência, de  25 bilhões de euros . Não passou de 7 bilhões em  promessas.
  
Contradições explícitas  envolviam a dramática pregação  da defesa do clima e  a  proteção da floresta, ao mesmo tempo, em que se anunciava a autorização para a  exploração de petróleo e minerais raros na Amazônia, o que assustou as representações indígenas presentes. 

Leviandades à parte,  intenções  não confessas afloraram na  Conferencia. Festas  em luxuosas embarcações navegando pelo rio Amazonas  e shows musicais tinham sua energia alimentada a combustíveis fósseis.  Mesmo assim a Noruega, um pais de boa fé,  defensor do desenvolvimento sustentável, foi induzida a liderar  aquela frente da captação de recursos,  como um "papagaio de pirata", com a promessa de  doar   R$ 3 bilhões para o projeto do Fundo Amazônico. A maioria reagiu, entretanto,  com ceticismo: alguns prometeram fazer o mesmo, mas não disseram quanto, nem quando. Metade dos países não apresentou relatórios sobre providências adotadas para minimizar os efeitos das ameaças climáticas, recomendas no Acordo de Paris , de 2015.
 
A proposta da "transição energética" , com a qual  o Governo Brasileiro pretendia marcar uma posição  de vanguarda na História, volatilizou-se.  O mapa do caminho para dar um fim no uso dos combustíveis fósseis ficou fora do documento. O mesmo aconteceu com a recomendação para  a multiplicação, por quatro, da adoção  de  combustíveis  sustentáveis  . Há anos os países produtores de petróleo  ouviam silenciosamente apologias às   fontes alternativas de energia, em que se restaurava até a virtudes - condenadas no passado - da energia nuclear . Seus defensores não conseguiram emplaca-las. . Uma experiência aqui outra ali, apregoadas com  alardes,  as decisões da COP30, nem  chegaram a  impactar a demanda e o comércio de óleo cru no mundo.  A extração e exportação do petróleo  representa  mais de 50 por cento do PIB de dezenas de países, inclusive o da Rússia que, junto com os árabes, foi contra a proposta da transição energética. 

Sem negar os constrangimentos com os resultados uma das organizadoras do evento concluiu que  "O mundo avançou na discussão climática" - e completou: "Ainda que modestamente". Reafirmou que   as disposições do documento final estão, entretanto,  "Aquém do esperado". Relativo aos prováveis impactos econôico, a imaginação fora da "caixinha" parece ter  refletido esforços ideológicos  voltados para  provocar uma inversão na liderança e funcionamento da  economia mundial.

De fato,  aquele cenário interno inoportuno da semana passada sinalizava para algo , no mínimo, melancólico durante a Conferência. Com relativa antecedência, já se  podia visualizar  um resultado pouco condizente com o imaginariamente projetado .  As preliminares já haviam começado a abalroar  o sucesso da Conferência: questões elementares  como  infraestrutura e logística,  segurança,  chuvas  - Em Belém chove todo dia à tarde -  e até  incêndios  deram vida às  inadequações .  Mas o que impactou mesmo foi a decisão dos Estados Unidos e de  alguns países  importantes, como a China, não comparecerem a COP30.   Significava que as recomendações saídas de Belém não teriam consequências. Os produtores árabes de petróleo e a própria Rússia manifestaram-se claramente contrários à substituição do petróleo, como combustível e matéria prima para a indústria petroquímica,  propulsores , hoje,  dos sistemas produtivos  e da reprodução das  riquezas no mundo .

O próprio presidente do Brasil teria pressentido  isso. Em plena realização da Conferência , viajou para a Colômbia e para a África do Sul, onde fez declarações em favor de Nicolas Maduro, usando ainda sua fala numa reunião do IBAS - Índia, Brasil e África do Sul - para explicar a condenação de ex-Presidente brasileiro, o que nada tinha a ver com a agenda da COP30. Intriga mesmo  é imaginar como deve ter sido difícil  configurar, às pressas,   cenário tão inconveniente! Se é que assim foi. 

Enfim, em que pese o esforço para trazer a COP30 para o Brasil tenha sido uma ideia brilhante, a sorte parece que não estava do lado brasileiro.  Aparentemente,  a conjuntura não favoreceu. Parecia conspirar. Tem-se a  impressão de que até a  as facções criminosas  escolheram esse momento para se mostrar ao mundo. A prisão do ex-Presidente,  mais parecida com uma vingança ,  no último dia da Conferência mundial, remeteu para alguns visitantes mais íntimos da história política do Brasil ,  a lembrança de que quatro  Presidentes do Brasil já  haviam sido presos nos últimos 15 anos: três por corrupção, um por conspiração e até duas deposições por  incompetência governativa .  Consertar Isso na imagem do País vai dar trabalho.

* Jornalista e professor

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