terça-feira, 25 de novembro de 2025

Bolsonaro preso e indicação de Messias estressam relações no Congresso, por Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Lula faz avaliação de que deve resistir às chantagens do Centrão, que gosta de ser tratado como governista e se comporta como oposição

A semana começa com o governo politicamente fragilizado em duas frentes simultâneas: no Senado, com a reação negativa do seu presidente, Davi Alcolumbre (União-AP), à indicação do advogado-geral da União, Jorge Messias, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o Supremo Tribunal Federal (STF); e na Câmara, cujo presidente, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), rompeu com o líder do PT, Lindbergh Faria, por causa de agendas identificadas com a oposição nas quais o Palácio do Planalto foi derrotado.

O clima está ainda mais tenso porque a prisão preventiva do ex-presidente de Jair Bolsonaro no sábado, por causa da violação de sua tornezeleira eletrônica, reanimou articulações por uma anistia e reacendeu o confronto com o Judiciário.

A escolha de Messias contrariou diretamente o presidente Davi Alcolumbre, que atuava para emplacar o nome do presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Irritado com o anúncio, Alcolumbre pautou horas depois a votação de uma proposta de aposentadoria especial para agentes comunitários de saúde, considerada uma “pauta-bomba” pelo impacto fiscal. A leitura entre parlamentares foi imediata: o Senado decidiu impor custo político à decisão do Planalto.

O líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), admitiu nesta segunda-feira que “não há clima” para votar a indicação de Messias este ano. “É preciso esfriar a tensão”, afirmou, numa referência direta ao desgaste com Alcolumbre e ao calendário apertado de fim de ano, que inclui a votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e do Orçamento.

A crise com o Senado coincide com o movimento de afastamento de Hugo Motta em relação ao governo. Em menos de um ano no comando da Câmara, o deputado abandonou a postura de aliado tácito do Planalto e passou a se alinhar abertamente à oposição, em pautas consideradas essenciais para o governo. O ápice desse movimento foi a condução do PL Antifacção, principal aposta do governo para responder à crise de segurança pública, que resultou numa vitória arrasadora da oposição.

Motta entregou a relatoria do texto ao deputado Guilherme Derrite (PP-SP), secretário de Segurança de Tarcísio de Freitas. O relator alterou pontos-chave do projeto, enfraquecendo a Polícia Federal e transformando a medida numa vitória estratégica para o campo bolsonarista no plano eleitoral. O governo orientou contra, mas viu o PT votar isolado ao lado de Psol e PCdoB.

Chantagens

O desgaste cresceu nos dias seguintes. Em entrevista, Motta declarou rompimento pessoal com o líder do PT, Lindbergh Farias, acusando-o de usar redes e tribuna para constranger a Câmara. Lindbergh rebateu, dizendo que “política não é clube de amigos” e classificando a reação de Motta como “imatura”.

A insatisfação na cúpula da Câmara é antiga. Deputados do Centrão afirmam que o Planalto descumpriu acordos sobre cargos e liberação de emendas, além de acumular atritos em votações sensíveis, como a queda do decreto do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e a não tramitação da medida provisória que aumentava impostos. Para esse grupo, Motta passou a expressar uma insatisfação difusa da Casa com a articulação política do governo.

A prisão de Bolsonaro acirra ainda mais os conflitos. Embora não seja a causa da fragilidade do governo, a decisão reforçou a união da oposição e reativou a pauta da anistia, ampliando a pressão contra o STF e um ambiente mais hostil ao Executivo. Líderes do PL passaram a tratar a anistia como “resposta institucional” ao que chamam de “criminalização da política”.

Nesse ambiente, a indicação de Jorge Messias se converteu numa questão estratégica, porque o Senado era o anteparo com que o governo contava para neutralizar pautas aprovadas na Câmara nas quais havia sido derrotado, como foi o caso da chamada PEC da Blindagem, que impedia que deputados federais fossem investigados sem previa autorização de seus colegas parlamentares. que o ponto central de desgaste.

Entre líderes do Congresso, a percepção é de que o governo chega ao final deste ano com pouca margem de manobra, dependente de uma articulação que já vinha tensionada e agora enfrenta resistências explícitas. A recomendação de Jaques Wagner — “esfriar a tensão” — visa a evitar que o afastamento de Alcolumbre e Motta se transforme em ruptura definitiva.

O diagnóstico no Congresso é de que Lula perdeu, simultaneamente, o eixo de governabilidade na Câmara e o amortecedor político no Senado. A combinação entre a crise envolvendo a indicação ao STF, o realinhamento de Motta e o ambiente radicalizado pela prisão de Bolsonaro coloca o governo numa das semanas mais difíceis, quando precisa aprovar o Orçamento, pacificar a base e reconstruir um mínimo de cooperação com o Legislativo.

Indiferente a esses percalços, o presidente Lula faz uma avaliação de que deve resistir às chantagens dos parlamentares do Centrão, que gostam de ser tratados como governistas e se comportam como oposição em votações decisivas para o êxito do seu governo. O rompimento de Motta e o afastamento de Alcolumbre seriam parte desse contexto, que já aponta para as eleições de 2026.

 

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