Por Cristiane Agostine e Lilian Venturini / Valor Econômico
Governador adota pautas como anistia a Bolsonaro, ataques ao STF, defesa de prisão perpétua e cita El Salvador como exemplo de modelo de segurança a ser seguido
Cotado para ser o candidato da direita na disputa presidencial de 2026, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), reforçou seu alinhamento com o bolsonarismo e tem feito gestos para demonstrar sua lealdade ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), preso após condenação por tentativa de golpe de Estado. Tarcísio adotou pautas como a anistia e o indulto a Bolsonaro, articula no Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar garantir a prisão domiciliar do ex-presidente e definiu como uma de suas bandeiras a linha-dura na política de segurança, com a defesa até mesmo de prisão perpétua para criminosos no país.
Em seus discursos e articulações políticas,
Tarcísio mostra-se afinado com os bolsonaristas, especialmente nas áreas
econômica e de segurança pública. Na semana passada, em reuniões com
investidores e empresários, o governador destacou a atuação do ex-ministro da
Fazenda Paulo Guedes no
governo Bolsonaro, disse que a iniciativa privada “faz quase tudo melhor” do
que o Estado e defendeu na área de segurança o modelo adotado pelo presidente
de El Salvador, Nayib
Bukele. O salvadorenho é alvo de críticas e acusações de
prisões arbitrárias e violação dos direitos humanos - mas celebrado pela
extrema-direita.
Tarcísio levou para sua gestão em São Paulo,
desde o início do mandato, pautas conhecidas do bolsonarismo, como a
implementação de escolas cívico-militares, a linha-dura na segurança e a agenda
liberal na economia, com foco na privatização e concessão de empresas e
serviços públicos. Em operações da Polícia Militar na Baixada Santista, por
exemplo, refutou abusos e disse, em março de 2024, que as denúncias sobre
excessos poderiam ser feitas “na ONU, na Liga da Justiça, no raio que o parta”
que ele não estava “nem aí”.
O avanço do processo contra Bolsonaro no STF
ao longo deste ano coincide com as manifestações mais eloquentes de Tarcísio
com endosso ao discurso do aliado. Nesse contexto, ocorrem os elogios públicos
à eleição de Donald
Trump nos Estados Unidos e uma primeira reação tímida ao
anúncio do tarifaço a produtos brasileiros, em julho. O gesto lhe custou uma
cobrança nos bastidores de representantes do agronegócio paulista preocupados
com o impacto das altas taxas.
Em agosto, embora negasse a intenção de se
candidatar ao Planalto, afirmou que seu primeiro ato caso eleito seria dar
indulto a Bolsonaro. “Não acredito em elementos para ele ser condenado, mas
infelizmente hoje não posso falar que confio na Justiça”, disse, ao jornal
Diário do Grande ABC.
O aceno mais agudo de Tarcísio, até o
momento, ocorreu pouco depois, durante o ato bolsonarista de 7 de setembro na
avenida Paulista. Diante da multidão, o governador
dirigiu-se a Moraes como ditador e tirano - termos comuns entre os aliados
radicais do ex-presidente, mas inéditos para um discurso de Tarcísio, que
surpreendeu até aliados próximos. Ministros do STF, sob reserva,
disseram à época que o governador abandonara ali a imagem de político
“moderado”.
Desde então, Tarcísio
não fez mais ataques naquele tom, mas envolveu-se diretamente na articulação
pela aprovação de uma “anistia ampla, geral e irrestrita” de Bolsonaro e demais
condenados pela trama golpista. O projeto perdeu força no Legislativo, mas o
governador afirmou em entrevista na semana passada que seguirá fazendo o
possível para defendê-la.
De olho no cenário nacional, Tarcísio
articulou junto com bolsonaristas e o Centrão a derrubada da MP do IOF no Congresso,
impondo uma derrota ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No mês passado,
negociou também modificações no PL
Antifacção, de autoria do governo Lula, e liberou seu
secretário de segurança, deputado Guilherme
Derrite (PP), para relatar - e alterar - a proposta na Câmara,
em nova derrota de Lula.
Em alguns momentos da gestão, Tarcísio foi
pressionado a recuar de posturas alinhadas ao bolsonarismo, como no caso das
câmeras corporais em fardas de policiais militares. Eleito com apoio da classe
militar, o governador chegou a prometer o fim do uso do equipamento, mas
reconheceu estar “completamente errado” a respeito após virem à tona flagrantes
de violência policial contra civis.
O governador foi procurado pela reportagem
para comentar sobre seu alinhamento com o bolsonarismo, mas não se pronunciou.
Disputa presidencial só com aval de Bolsonaro
Com a prisão de Bolsonaro, avançaram as
negociações de partidos de direita e do Centrão para lançar um nome fora da
família Bolsonaro, e Tarcísio ganhou força para a disputa à Presidência. Aliados do governador, no entanto, ponderam que ele só será
candidato se tiver o aval dos Bolsonaro.
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP),
até então crítico de uma eventual candidatura presidencial do governador,
admitiu a possibilidade de apoiá-lo ao dizer que seria um voto “anti-Lula”. Ao portal UOL,
Eduardo afirmou que, apesar de suas diferenças em relação a Tarcísio, poderá
estar ao lado dele. “Onde Lula estiver de um lado,
eu estarei de outro”, disse, na entrevista publicada na sexta-feira (28). “Se
Tarcísio for este candidato, a gente vai acabar falando, sim, de Tarcísio de
Freitas.”
Na semana passada, em encontros com
investidores e empresários, na capital paulista, Tarcísio afirmou que as
tratativas para a definição do candidato à Presidência do campo conservador
estão em curso, disse que não é preciso ter pressa e que o nome deve ser
definido no início do próximo ano. O governador tem
até março para deixar o cargo, se for disputar.
Parte das lideranças partidárias ainda aposta
em um cenário de polarização entre petistas e bolsonaristas para a campanha de
2026. Pesquisas de intenção de voto, entretanto, sugerem que, ao menos nesse
momento, há entre os eleitores uma preferência por alternativas a Lula e
Bolsonaro.
Na pesquisa Genial/Quaest divulgada no
começo de novembro, quando questionados sobre qual seria o melhor resultado da
eleição para o país, 41% dos entrevistados escolheram as alternativas “um nome
nem ligado a Lula nem a Bolsonaro” (24%) e “alguém de fora da política” (17%).
A primeira opção atinge 38% entre os eleitores autodeclarados independentes e
23% entre os identificados como “direita não bolsonarista”. Já a alternativa
reeleição de Lula foi citada por 23%. Outros 15% apostavam no improvável
cenário de Bolsonaro voltar a ser elegível e vencer - percentual próximo aos
11% de quem respondeu “alguém apoiado” pelo ex-presidente vencer.

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