segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

Tarcísio reforça alinhamento com bolsonarismo

Por Cristiane Agostine e Lilian Venturini / Valor Econômico

Governador adota pautas como anistia a Bolsonaro, ataques ao STF, defesa de prisão perpétua e cita El Salvador como exemplo de modelo de segurança a ser seguido

Cotado para ser o candidato da direita na disputa presidencial de 2026, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), reforçou seu alinhamento com o bolsonarismo e tem feito gestos para demonstrar sua lealdade ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), preso após condenação por tentativa de golpe de Estado. Tarcísio adotou pautas como a anistia e o indulto a Bolsonaro, articula no Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar garantir a prisão domiciliar do ex-presidente e definiu como uma de suas bandeiras a linha-dura na política de segurança, com a defesa até mesmo de prisão perpétua para criminosos no país.

Em seus discursos e articulações políticas, Tarcísio mostra-se afinado com os bolsonaristas, especialmente nas áreas econômica e de segurança pública. Na semana passada, em reuniões com investidores e empresários, o governador destacou a atuação do ex-ministro da Fazenda Paulo Guedes no governo Bolsonaro, disse que a iniciativa privada “faz quase tudo melhor” do que o Estado e defendeu na área de segurança o modelo adotado pelo presidente de El Salvador, Nayib Bukele. O salvadorenho é alvo de críticas e acusações de prisões arbitrárias e violação dos direitos humanos - mas celebrado pela extrema-direita.

Tarcísio levou para sua gestão em São Paulo, desde o início do mandato, pautas conhecidas do bolsonarismo, como a implementação de escolas cívico-militares, a linha-dura na segurança e a agenda liberal na economia, com foco na privatização e concessão de empresas e serviços públicos. Em operações da Polícia Militar na Baixada Santista, por exemplo, refutou abusos e disse, em março de 2024, que as denúncias sobre excessos poderiam ser feitas “na ONU, na Liga da Justiça, no raio que o parta” que ele não estava “nem aí”.

O avanço do processo contra Bolsonaro no STF ao longo deste ano coincide com as manifestações mais eloquentes de Tarcísio com endosso ao discurso do aliado. Nesse contexto, ocorrem os elogios públicos à eleição de Donald Trump nos Estados Unidos e uma primeira reação tímida ao anúncio do tarifaço a produtos brasileiros, em julho. O gesto lhe custou uma cobrança nos bastidores de representantes do agronegócio paulista preocupados com o impacto das altas taxas.

Em agosto, embora negasse a intenção de se candidatar ao Planalto, afirmou que seu primeiro ato caso eleito seria dar indulto a Bolsonaro. “Não acredito em elementos para ele ser condenado, mas infelizmente hoje não posso falar que confio na Justiça”, disse, ao jornal Diário do Grande ABC.

O aceno mais agudo de Tarcísio, até o momento, ocorreu pouco depois, durante o ato bolsonarista de 7 de setembro na avenida Paulista. Diante da multidão, o governador dirigiu-se a Moraes como ditador e tirano - termos comuns entre os aliados radicais do ex-presidente, mas inéditos para um discurso de Tarcísio, que surpreendeu até aliados próximos. Ministros do STF, sob reserva, disseram à época que o governador abandonara ali a imagem de político “moderado”.

Desde então, Tarcísio não fez mais ataques naquele tom, mas envolveu-se diretamente na articulação pela aprovação de uma “anistia ampla, geral e irrestrita” de Bolsonaro e demais condenados pela trama golpista. O projeto perdeu força no Legislativo, mas o governador afirmou em entrevista na semana passada que seguirá fazendo o possível para defendê-la.

De olho no cenário nacional, Tarcísio articulou junto com bolsonaristas e o Centrão a derrubada da MP do IOF no Congresso, impondo uma derrota ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No mês passado, negociou também modificações no PL Antifacção, de autoria do governo Lula, e liberou seu secretário de segurança, deputado Guilherme Derrite (PP), para relatar - e alterar - a proposta na Câmara, em nova derrota de Lula.

Em alguns momentos da gestão, Tarcísio foi pressionado a recuar de posturas alinhadas ao bolsonarismo, como no caso das câmeras corporais em fardas de policiais militares. Eleito com apoio da classe militar, o governador chegou a prometer o fim do uso do equipamento, mas reconheceu estar “completamente errado” a respeito após virem à tona flagrantes de violência policial contra civis.

O governador foi procurado pela reportagem para comentar sobre seu alinhamento com o bolsonarismo, mas não se pronunciou.

Disputa presidencial só com aval de Bolsonaro

Com a prisão de Bolsonaro, avançaram as negociações de partidos de direita e do Centrão para lançar um nome fora da família Bolsonaro, e Tarcísio ganhou força para a disputa à Presidência. Aliados do governador, no entanto, ponderam que ele só será candidato se tiver o aval dos Bolsonaro.

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), até então crítico de uma eventual candidatura presidencial do governador, admitiu a possibilidade de apoiá-lo ao dizer que seria um voto “anti-Lula”. Ao portal UOL, Eduardo afirmou que, apesar de suas diferenças em relação a Tarcísio, poderá estar ao lado dele. “Onde Lula estiver de um lado, eu estarei de outro”, disse, na entrevista publicada na sexta-feira (28). “Se Tarcísio for este candidato, a gente vai acabar falando, sim, de Tarcísio de Freitas.”

Na semana passada, em encontros com investidores e empresários, na capital paulista, Tarcísio afirmou que as tratativas para a definição do candidato à Presidência do campo conservador estão em curso, disse que não é preciso ter pressa e que o nome deve ser definido no início do próximo ano. O governador tem até março para deixar o cargo, se for disputar.

Parte das lideranças partidárias ainda aposta em um cenário de polarização entre petistas e bolsonaristas para a campanha de 2026. Pesquisas de intenção de voto, entretanto, sugerem que, ao menos nesse momento, há entre os eleitores uma preferência por alternativas a Lula e Bolsonaro.

Na pesquisa Genial/Quaest divulgada no começo de novembro, quando questionados sobre qual seria o melhor resultado da eleição para o país, 41% dos entrevistados escolheram as alternativas “um nome nem ligado a Lula nem a Bolsonaro” (24%) e “alguém de fora da política” (17%). A primeira opção atinge 38% entre os eleitores autodeclarados independentes e 23% entre os identificados como “direita não bolsonarista”. Já a alternativa reeleição de Lula foi citada por 23%. Outros 15% apostavam no improvável cenário de Bolsonaro voltar a ser elegível e vencer - percentual próximo aos 11% de quem respondeu “alguém apoiado” pelo ex-presidente vencer.

 

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