quarta-feira, 9 de julho de 2008

DEU NO JORNAL DO BRASIL

A REFORMA POLÍTICA PARA OS OUTROS
Villas-Bôas Corrêa

Equilibrado na corda bamba amarrada em índices contraditórios que confirmam os recordes crescentes da popularidade do presidente Lula e advertem para os saltos da renascente inflação a arranhar em 9,1%, a renda das famílias espremidas entre 1 e 2,5 salários mínimos – segundo os cálculos da Fundação Getúlio Vargas para os últimos 12 meses – o governo deu meia-trava para uma reavaliação da tática política e abrir a picada para novos caminhos.

Na reunião do G8, na longínqua Rusutsu, no Japão, o veto dos Estados Unidos e da Itália, barrou a inclusão dos emergentes do G5, compostos por países de grande população, entre os quais o Brasil, além da China, Índia, África do Sul e México no seleto grupo dos sete países mais ricos e da Rússia.

Na retaguarda brasiliense, com o início da campanha para as eleições de prefeitos e vereadores em outubro, Lula despertou para a urgência de sacudir a poeira do imobilismo e armar as estratégias para a temporada que se anuncia com indicadores de turbulências.

A bagunça do quadro partidário, com a inconsistência de legendas sem programas ou compromissos ideológicos que se embaralham nas mais extravagantes e incoerentes alianças municipais, abriu os olhos presidenciais e arregalou as butucas de ministros para a saída mágica da ressurreição da reforma política, que dorme o sono de anos de esquecimento nas gavetas do Congresso e no arquivo morto do Palácio do Planalto.

Da paralisia ao açodamento já se anunciam as primeiras medidas. Lula, com a alma nova depois da reconciliação com o seu antecessor, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, resolveu convidar todos os ex-presidentes para recolher os conselhos da experiência. Cientistas políticos, representantes da OAB, do Judiciário serão convocados a oferecer sugestões.

Nem só de flores o governo enfeita a mesa do debate sobre a renegada. O ministro Tarso Genro, da Justiça, promete o empenho em tempo integral para compor o maior acordo possível e juntar na bancada reformista representantes do governo e da oposição.

Trata-se de uma virada completa, a mudança da água para o vinho. E com a singularidade do seu lançamento no mais impróprio dos momentos, no começo da campanha para a eleição municipal que mobiliza os governos estaduais, além se senadores e deputados federais.

O tranco da realidade repõe as coisas na mediocridade da rotina. O próprio ministro Tarso Genro se incumbe de furar o balão, com o adendo lançado nas inconfidências encomendadas, como a pedra que se joga na água para assustar os peixes: para facilitar a aprovação da reforma política, uma das idéias que faísca como brilhante em anel de milionário é fixar a entrada em vigor para três eleições depois da sua aprovação.

Francamente, depois de tantas potocas, das muitas promessas em todas as campanhas, sempre adiadas e jamais cumpridas, a estapafúrdia sugestão de uma mobilização nacional para aprovar a reforma política para depois de três eleições presidenciais, ou 12 anos é uma patusca e leviana manobra diversionista.

O governo propõe a reforma política para os outros. Para ele, continua a orgia dos senadores e deputados sem votos, eleitos na garupa do candidato para valer; nas mordomias, mutretas e das CPIs para apurar os escândalos que não mandam ninguém para a cadeia da crise moral e ética que respinga nos três poderes.

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