quarta-feira, 13 de agosto de 2025

Candidato danifica o presidente - Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Excesso no uso político do tarifaço pode levar população a julgar Lula sob a ótica do oportunismo eleitoral

O Brasil sob a investida hostil da maior potência mundial desvela situação de gravidade ímpar que pode ainda se aprofundar, dado o horizonte de incertezas.

Tal circunstância exigiria de lideranças responsáveis tino estratégico, senso de risco, capacidade de contornar obstáculos decorrentes do desequilíbrio de forças, sobriedade nas falas e atenção aos protocolos institucionais.

Um elenco básico de fatores, cujo observador e condutor principal em sistema presidencialista, por óbvio, deveria ser o chefe da nação.

Vivemos, no entanto, tempos anormais quando o subchefe, no caso o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), adota aqueles preceitos, enquanto o presidente Luiz Inácio da Silva (PT) contraria todos eles, desviando-se da posição de estadista para assumir a posição de candidato em palanques país afora.

Em recente agenda no AcreLula disse que presidente "não pensa. Faz ou não faz". Pois seria de bom alvitre que governantes pensassem antes de falar e tomar atitudes que não se coadunam com suas funções.

Delas não fazem parte orientar em público o voto de um senador, zombar de parlamentares, usar termos chulos ou fazer juízos preliminares sobre processos em curso.

A defesa em tom político de ministro do Supremo Tribunal Federal não cabe ao presidente e sim ao próprio STF, que assim tem feito em observância à independência dos Poderes, na qual se expressa também o conceito de soberania invocado pelo presidente ora corretamente, ora de maneira errática.

O uso do modo eleitoral, se excessivo, dá margem a que se enxergue nele oportunismo e abre espaço a acusações da oposição sobre a intenção real do presidente da República de se empenhar em mitigar os efeitos do tarifaço ou de se valer deles para obter benefícios políticos.

Lula sujeita-se a ser visto sob o prisma do oportunismo, caso continue a esticar a corda na dinâmica da qual parece não ter intenção de abandonar. Assim, o candidato pode prejudicar seu plano de continuar presidente.

 

 

 

Nenhum comentário: