Folha de S. Paulo
Excesso no uso político do tarifaço pode
levar população a julgar Lula sob a ótica do oportunismo eleitoral
O Brasil sob a
investida hostil da maior potência mundial desvela situação de
gravidade ímpar que pode ainda se aprofundar, dado o horizonte de incertezas.
Tal circunstância exigiria de lideranças
responsáveis tino estratégico, senso de risco, capacidade de contornar
obstáculos decorrentes do desequilíbrio de forças, sobriedade nas falas e
atenção aos protocolos institucionais.
Um elenco básico de fatores, cujo observador e condutor principal em sistema presidencialista, por óbvio, deveria ser o chefe da nação.
Vivemos, no entanto, tempos anormais quando o
subchefe, no caso o vice-presidente Geraldo
Alckmin (PSB), adota
aqueles preceitos, enquanto o presidente Luiz Inácio da Silva (PT) contraria
todos eles, desviando-se da posição de estadista para assumir a posição de
candidato em palanques país afora.
Em recente
agenda no Acre, Lula disse
que presidente "não pensa. Faz ou não faz". Pois seria de bom alvitre
que governantes pensassem antes de falar e tomar atitudes que não se coadunam
com suas funções.
Delas não fazem parte orientar em público o
voto de um senador, zombar de parlamentares, usar termos chulos ou fazer juízos
preliminares sobre processos em curso.
A defesa em tom político de ministro do
Supremo Tribunal Federal não cabe ao presidente e sim ao próprio STF, que assim
tem feito em observância à independência dos Poderes, na qual se expressa
também o conceito de soberania invocado pelo presidente ora corretamente, ora
de maneira errática.
O uso do modo eleitoral, se excessivo, dá
margem a que se enxergue nele oportunismo e abre espaço a acusações da oposição
sobre a intenção real do presidente da República de se empenhar em mitigar os
efeitos do tarifaço ou de se valer deles para obter benefícios políticos.
Lula sujeita-se a ser visto sob o prisma do
oportunismo, caso continue a esticar a corda na dinâmica da qual parece não ter
intenção de abandonar. Assim, o candidato pode prejudicar seu plano de
continuar presidente.
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