A baixa popularidade dos políticos em geral, refletida em taxas de rejeição mesmo de candidatos que aparecem à frente nas pesquisas, reflete elevada dose de mau humor do eleitorado
Os diversos partidos se preparam para definir chapas às eleições majoritárias — para presidente, governador e senador —, sem esquecer, por óbvio, a formação de bancadas nas assembleias estaduais e no Congresso. Nada, na essência, diferente de pleitos anteriores. Mas há aspectos novos.
Um dos principais, o fim do financiamento de campanha por empresas, o que aumentou o poder de barganha dos partidos maiores, donos de grandes fatias dos fundos partidário e eleitoral, pelos quais o contribuinte financia mais este gasto, sem ter sido consultado.
Uma reforma política tênue, mesmo que tenha sido na direção correta, adiou para 2022 a entrada em vigor da necessária eliminação da coligação em eleições proporcionais — que engana o eleitor, ao eleger com seu voto quem ele não conhece —, mas estabeleceu, para este pleito, enfim, uma cláusula de barreira, mesmo baixa. Começa fixando que os partidos precisam obter pelo menos 1,5% dos votos nacionais destinados aos candidatos a deputado federal, distribuídos em pelo menos um terço dos estados. Em 2030, será o mínimo de 3% dos votos e pelo menos 2% em cada um de um terço dos estados. Só assim o partido terá acesso aos fundos e ao horário de campanha dita gratuita.
Toda medida é importante para reduzir a pulverização de 28 partidos representados no Congresso, e cerca de 30 ou mais na fila para serem lançados. O ideal seria a cláusula de 5%, como na Alemanha, por exemplo, mas, por equívoco, derrubada pelo Supremo em 2006. Agora, ao menos, entra em vigor um limite baixo, mas entra. E que pode ser ampliado no futuro.
Há, ainda, a movimentação para a montagem de bancada para negociar apoio com o próximo presidente. Também nenhuma novidade, a não ser que este vinha sendo um espaço do PMDB, agora sem o “P” e chamuscado como nunca.
Depois de Sarney, egresso do partido da ditadura, o PDS, e que vestiu a camisa da legenda para ser vice de Tancredo, o ainda PMDB não lançou candidato, e compartilhava das benesses do poder, apoiando o vitorioso nas urnas, sem ter o ônus de ser governo. Grande truque. O máximo que fez foi indicar vice.
Tendo chegado ao Planalto com Michel Temer, no impeachment de Dilma, e também padecido da impopularidade recorde do presidente, o MDB desceu à planície e parece ter aberto espaço para o chamado “centrão” disputar proximidade ao futuro governo. Seja qual for. Falta saber se a máquina emedebista, entranhada Brasil afora, compensará a impopularidade.
Já começaram a se articular partidos como PRB, Solidariedade e PSC, por exemplo. Há, no circuito, pesos mais pesados como o DEM, mas que é sempre atraído pela força gravitacional do PSDB. Este, no entanto, carrega grossas avarias derivadas das investigações de corrupção. Aécio Neves, o mais atingido até agora, enquanto o candidato Alckmin tenta se blindar contra as histórias de propinas geradas em grandes obras em São Paulo. Tudo se nivela por baixo — PT, PSDB, MDB etc.
Nesta geleia geral, espera-se o início da campanha propriamente dita, com TV e rádio, para que haja alguma luz no nevoeiro. Os balcões de negócios de sempre estão montados. Mas a baixa popularidade dos políticos em geral, refletida em taxas de rejeição ponderáveis, mesmo de candidatos que aparecem à frente nas pesquisas, reflete uma elevada dose de mau humor do eleitorado. Importa é evitar que isso se converta em abstenções elevadas e/ou em estímulo ao populismo.
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