- O Globo
O psicanalista Wilhelm Reich acabou expulso
do Partido Comunista alemão depois de publicar seu “Psicologia de massas do
fascismo”. Entre outros, o conteúdo desagradara aos soviéticos. O ano era 1933,
Hitler chegara ao poder, e Mussolini já realizava suas “motociatas” por cidades
italianas. Ambos estimulavam a violência como arma política — ganham o poder
pelo incentivo ao ódio, disseminação do medo e construção de fake news. Como
Lênin.
A tese de Reich: os fascistas (e nazistas)
chegaram ao poder como sintoma da repressão sexual que, praticada desde a
infância, leva os adultos a abraçar o autoritarismo. Castrados em seus desejos,
reprimirão quem possui outro comportamento, mais libertário. O reprimido
precisa da ordem unida para acalmar sua ansiedade, fruto de suas vontades
abortadas. Daí clamarem sempre por uma ditadura e darem pouco valor à vida (com
a camisa da CBF).
Os cristãos adjetivam aqueles que vivem diferentes de seus conceitos como “pecadores”. Os fascistas, como “comunistas” e “depravados”. Os comunistas classificam seus opostos como… “fascistas”. Não à toa, o pobre Reich foge das tropas nazistas para a Noruega e depois se estabelece nos Estados Unidos, onde é encarcerado por suas ideias (como as narradas acima). Em 1954, o juiz ordena que seus livros sejam destruídos. Em plena Guerra Fria, ele conseguiu desagradar a russos e americanos.
Pena que o Bozo (e o Heleno) vivam
afastados dos livros. Saberiam que, décadas atrás, eles e seus seguidores foram
catalogados por Wilhelm Reich noutro clássico: “Escuta, Zé Ninguém”. A obra
também desagradou ao Malafaia da época (1948) e acabou censurada em muitos
países. O Zé Ninguém é o sujeito médio, do bom senso, medianamente inculto;
poderia ser o homem comum; é ainda o sujeito que, tudo bem, pode se privar da liberdade
e até de ter opinião própria, desde que possa imprimir sua frustração sobre os
demais. É também o cara nomeado com pequenos poderes. Frustrado
fundamentalista, oprime os amigos e obedece aos inimigos. Se chegou ao poder
para salvar o povo, massacrará esse povo. Porque não tem empatia — e daí?
Dá pouco valor à existência, porque afinal
a vida terrena é um inferno e, como garantiu o Malafaia de sempre, depois da
tempestade vem a bonança ou o paraíso. Com adiantamento de dízimos.
A ascensão do Bozo ajudou a destampar a
garrafa onde adormecia o espírito do Zé Ninguém. Perseguido pelo medo da
falência sexual, o Zé Ninguém busca apoio (conforto) no confronto, no
preconceito ou na encrenca. Também nos meios capazes de escamotear seu medo,
como armas, fardas (mesmo que seja a de zelador) e máquinas velozes.
Pipocam diariamente exemplos de pequenos
ditadores, aqueles munidos de uma autoridade restrita, porém capaz de azucrinar
os demais. Desde o policial que prende o motorista com o carro adesivado em
protesto contra as atrocidades do Bozo a outro mané, que processa o cidadão por
externar num outdoor sua indignação com a falta de vacina. Alguém aí mentiu?
Temos também os senadores da CPI da Covid, machos-alfa diante das mulheres, mas
soltando miados fininhos diante do general Pazuello. Covardia.
Ou ainda se esconde na farda de soldadinho
para dar os tiros assassinos em Recife contra manifestantes desarmados e
pacíficos. Que pediam vacina! Ah, comunistas! De novo: o Zé Ninguém, que é
povo, odeia o povo. Tem ódio de seu espelho, em especial quando não reza pelo
mesmo credo.
Os sinais emitidos diariamente pelo Zé Bozo
servem de guia a seus seguidores. A violência, movida por ressentimentos e
frustrações, ocorre imitando a história. Foi assim sob Stálin (gente que entregava
o vizinho para roubar sua casa), foi assim sob Hitler (deduragem por inveja
pequena).
É onde entra em cena um ogro no papel de
diretor da Fundação Palmares. Qual soldado descerebrado, vomita todo o ódio
emanado pela chefia contra negros, esquerdistas e pessoas de talento. Pinçado
no RH das redes sociais, exerce seu pequeno poder contra quem já é história em
vida, como Gilberto Gil ou Martinho da Vila. É um ignorante pago com dinheiro
público para tentar destruir aquilo já consagrado pelo público. Mussolini
tentou algo igual e acabou no poste. De ponta-cabeça em praça pública.
Nenhum comentário:
Postar um comentário