- O Globo
Em pesquisa recente da Oxfam Brasil, o
brasileiro foi questionado sobre os aspectos que circundam a desigualdade no
país.
O relatório traz uma série de informações
valiosas. Exemplo: 80% dos brasileiros entendem que, sem a redução das
desigualdades, o país não prosperará. O que chama muito a atenção é que essa
impressão está correta. O economista Daniel Duque defende que é preciso haver
certo nível de desigualdade econômica na sociedade para que ela seja próspera.
Para ter ideia, os países nórdicos têm um índice Gini (que mede esse dado) de
0,25, enquanto os EUA giram em torno de 0,4, e o Brasil está com 0,52. O
consenso entre os especialistas é que o Gini acima de 0,5 gera um efeito
negativo para a economia.
Podemos levantar mais dois pontos que se relacionam com a desigualdade: a meritocracia e o impacto do machismo e do racismo na mobilidade social.
Em 2020, 60% da população discordavam de
que “uma pessoa de família pobre que trabalha muito tem a mesma chance de ter
uma vida bem-sucedida que uma pessoa nascida rica que também trabalha muito”.
Relacionado a esse ponto, 52% dos entrevistados não acreditam que “uma criança
de família pobre que consegue estudar tem a mesma chance de ter uma vida
bem-sucedida que uma criança nascida numa família rica”. Segundo a literatura
especializada, no Brasil, se uma família A é duas vezes mais rica que a B, e
ambas têm uma criança, quando elas virarem adultas, a renda da criança A será
70% maior que a da B. O jornalista Felippe Hermes aponta um exemplo impactante:
apenas 7% das crianças mais pobres chegam a figurar entre os adultos 20% mais
ricos do país. Portanto, não basta se esforçar para conseguir sucesso.
No tocante ao gênero e à raça, a opinião do
brasileiro demonstra a conscientização de dois fatores imprescindíveis na
equação da desigualdade. Sessenta e sete por cento dos brasileiros concordam
que “mulheres ganham menos no mercado de trabalho por ser mulheres”, enquanto a
cor da pele influencia a decisão de contratação por empresas, de acordo com a
percepção de 76% dos brasileiros.
Mais uma vez, a voz do povo se torna a voz
de Deus. Um estudo realizado pela Fundação de Economia e Estatística do Rio
Grande do Sul concluiu que, mesmo depois de consideradas todas as
características que poderiam influenciar o salário, ainda persiste inexplicado
um terço da diferença salarial entre homens e mulheres.
Noutra pesquisa, feita pela Universidade de
Chicago, restou demonstrado que negros recebem, em média, 25% menos que pessoas
brancas para fazer exatamente o mesmo serviço. Além disso, a chance de um negro
obter resposta ao mandar um currículo é metade da chance de uma pessoa branca.
Fica evidente que nossas impressões acerca da sociedade em que vivemos, pelo menos no que diz respeito à desigualdade, estão em harmonia com os especialistas. Faltando colocar tudo em prática e nos movermos para combater aquilo que podemos enfrentar no nosso dia a dia, como o falso discurso meritocrático descontextualizado, o machismo e o racismo.
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