- O Globo
No dia 13 de maio de 2021, a urna
eletrônica fez bodas de prata. Completou 25 anos de casada com as eleições
brasileiras. Esse casamento, celebrado nas eleições municipais de 1996, rendeu
bons frutos.
Com o passar do tempo, os componentes de
software e hardware foram aprimorados, em nenhuma eleição aconteceu qualquer
indício de fraude, a confiabilidade na coleta e apuração dos votos aumentou, e
a agilidade no anúncio dos resultados cresceu. Provando assim que o sistema
digital é superior ao sistema impresso.
Estranhamente, nos últimos tempos, o
governo federal iniciou uma forte campanha pelo retorno do voto impresso.
Os especialistas em política dizem que essa
campanha acontece porque os votos no papel, depositados nas primitivas urnas de
madeira, permitem contestar os resultados, alegando fraudes, como fez nas
últimas eleições americanas Donald Trump, ídolo do presidente Jair Bolsonaro.
Alguns presidentes de partidos, como Carlos
Lupi, do PDT, e Carlos Siqueira, do PSB, aderiram a essa campanha. E a deputada
federal governista Bia Kicis (PSL-DF) contratou duas empresas, pagas com
dinheiro público, para a missão de provar imperfeições nas urnas digitais.
Tomara que essa postura retrô não se
concretize, mas, se ela ocorrer, dá pra imaginar uma porção de outros
retrocessos que os políticos brasileiros poderiam tentar promover nos próximos
tempos.
O ministro das Comunicações, Fábio Faria, poderia propor a proibição dos iPhones e a volta dos telefones pretos dentro das casas e nos estabelecimentos comerciais, assim como a instalação de alguns orelhões nas ruas.
A ministra da Mulher, da Família e dos
Direitos Humanos, Damares Alves, poderia propor a volta do vestido tubinho,
coisa que a ex-bolsonarista e atual opositora Joice Hasselmann contestaria
imediatamente por ser adepta do tomara que caia. E que caia já.
Ainda sobre a ministra Damares, que tempos
atrás cogitou proibir o sexo entre os jovens, neste momento e aproveitando a
possibilidade de volta ao passado, ela poderia proibir a pílula
anticoncepcional, criada por John Rock e Gregory Pincus, em 1960.
O refrigerante Grapette, estrondoso
fracasso de vendas, lançado no Brasil pela Anderson Clayton & Co, em 1961,
poderia voltar ao mercado a partir de agora, mas obviamente não recomendado nas
escolas pelo ministro da Educação, Milton Ribeiro, porque “quem bebe Grapette
repete”.
O ministro da Infraestrutura, Tarcísio
Gomes, poderia criar condições privilegiadas para a Ford Motor Company voltar
ao Brasil, desde que a empresa se comprometesse a relançar o Corcel cor de mel,
e esse mesmo ministro poderia sugerir também o relançamento da Vemaguet e
ajudar na ressurreição da Fábrica Nacional de Motores, com seus caminhões
Fenemê.
Enquanto isso, o ministro da Cidadania,
João Roma, poderia mandar distribuir pelo país toneladas de vidros de
coalhadas, substituindo os iogurtes de frutas que a Danone francesa introduziu
no Brasil a partir dos anos 1970.
Finalizando com um assunto do momento, a
Covid-19 e a possibilidade de outras pandemias, o ministro da Saúde, Marcelo
Queiroga, poderia incentivar a população a hostilizar qualquer incentivador da
vacinação, como foi feito com Oswaldo Cruz, em 1904, quando ele criou o
programa de vacinação contra a varíola. E poderia também fingir não estar vendo
as “motociatas” e passeatas nas principais capitais do país, que ocorrem sem o
uso de máscaras, promovendo aglomerações e novas contaminações.
Claro que, se tudo isso acontecesse, o que
restaria para a maioria dos brasileiros de bom senso seria pedir a volta do
programa de rádio “Telefone pedindo bis”, do consagrado Enzo de Almeida Passos,
na Rádio Bandeirantes de São Paulo.
Telefonando para lá, esses brasileiros poderiam
pedir que Enzo executasse mais uma vez aquela canção dos Beatles que foi um
enorme sucesso em 1965 e acabou virando nome do novo LP e do segundo filme dos
quatro rapazes de Liverpool.
Help!
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