- O Estado de S. Paulo
O governo Temer não perdeu popularidade, simplesmente porque nunca a encontrou. Nem procurar, procurou. Desde antes de chegar ao poder, sua agenda era e continua sendo implementar reformas que, mesmo se necessárias, não seriam tentadas por quem depende de votos, por quem é ou pretende ser popular. O plano era trocar apoio no Congresso por cargos e aprovar as reformas com urgência, antes que alguém notasse. Pois alguém notou.
A queda da aprovação de Michel Temer, o crescimento dos que o consideram ruim ou péssimo - segundo Ibope e Ipsos - não se deve só às suas declarações bufas sobre as mulheres. Nem é apenas porque quase metade do seu ministério está sob investigação. Temer ficou tão popular quanto Dilma Rousseff por reação à agenda que impôs. A última gota foi a reforma da Previdência.
Em março, o noticiário sobre mudanças na idade de se aposentar foi, segundo o Ibope, três vezes mais lembrado do que qualquer outro tema. Até mesmo corrupção. É daquelas raras ocasiões em que uma questão de política pública supera a atenção à Lava Jato. É fácil entender.
Diferentemente de outras tantas medidas que deputados e senadores despacharam sem pensar duas vezes, mexer nas regras de aposentadoria tem compreensão universal. A maioria entendeu que vai ter que trabalhar mais e corre o risco de receber menos. Viável ou não, era algo dado e que se pretende tirar. Sua consequência não é indireta, como a fixação de limites orçamentários ou mesmo a liberação geral da terceirização.
Até os congressistas perceberam que o eleitor vai senti-los mexendo no seu bolso se aprovarem a reforma como foi proposta. As emendas que desfiguram o projeto do governo, as ameaças de rebelião e as defecções já consumadas refletem a pressão contrária que deputados e senadores sentem de quem os elege. Há um ponto em que nem a fisiologia compensa o que podem perder. Aconteceu com Dilma, está acontecendo com Temer. Sinais abundam.
Renan Calheiros e Eduardo Cunha puxaram as cordas para a assunção de Temer. Enquanto um lidera o PMDB, o outro está preso e condenado a 15 anos. A diferença entre eles é a capacidade de ler o cenário e, quando necessário, retroceder. Renan é um sobrevivente. Desde o governo Collor, sempre soube voltar algumas casas para permanecer no tabuleiro. Seu desembarque de Temer é mais do que o desquite entre dois aliados de ocasião.
Líder da maior bancada do Senado, Renan pode atrapalhar muito na Previdência, mas talvez nem precise. A perda de governistas pelo caminho pode barrar a reforma antes mesmo de ela sair da Câmara. E se isso acontecer, o que será de Temer? Qual o propósito de um governo reformista que não reforma e é cada vez mais impopular?
Três presidentes antes do atual atingiram o patamar de ruim e péssimo que Temer alcançou. Collor e Dilma ficaram pelo caminho. Apenas um concluiu o mandato: José Sarney, um ex-vice e do PMDB, exatamente como agora. Se o passado serve de parâmetro para o futuro, o melhor cenário que espera Temer é uma sarneyzação.
Para quem não estava lá ou não se lembra, é o nome que se dá a um governo tutelado pelo Congresso, com pouca margem de manobra, e que se limita a esquentar a cadeira enquanto não se elege seu sucessor. A diferença é a Lava Jato. Na época de Sarney, as denúncias de corrupção abundavam, mas pouco se investigava. Tudo estava centrado no Congresso e em suas CPIs. Agora, há uma Polícia Federal autônoma, um Ministério Público independente e um Judiciário com ganas de ser protagonista da política.
A reforma da Previdência tornou-se o ponto sem retorno para Temer. Se não aprová-la, seu governo perde a razão de ser. Se passá-la, sua popularidade tende a cair ainda mais. Em ambos os casos, aumentará a pressão para abreviar sua gestão.
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