Manifestantes têm motivos para temer o impacto de Bolsonaro sobre a educação
O obscurantismo agressivo do governo Jair Bolsonaro (PSL) converteu o crucial debate sobre o financiamento do ensino superior público, já tardio no país, em um confronto de bandeiras ideológicas.
Apenas no quinto mês de seu mandato, o presidente viu ruas das capitais e de grandes cidades se encherem na quarta-feira (15) de manifestantes em defesa da educação e contra o corte de recursos das universidades promovidos por sua administração —cujo desgaste precoce ficou ainda mais evidente.
Protestos populares se tornaram comuns na paisagem brasileira a partir das jornadas de 2013, e seu impacto avassalador sobre a política não se limita à contribuição decisiva para o impeachment de Dilma Rousseff (PT). Agora alvo dos atos, Bolsonaro optou, a seu estilo, por acirrar os ânimos.
Milhares que foram às ruas seriam, em suas palavras, “idiotas úteis”que estariam sendo “usados como massa de manobra”, além de incapazes de efetuar uma simples conta de multiplicação.
Não se duvide das deficiências do aprendizado nacional, tampouco do oportunismo de forças oposicionistas que aproveitaram o momento inclusive para atacar a reforma da Previdência Social. Entretanto as manifestações se pautaram por uma causa pertinente —o governo que mal começou representa, sim, ameaça à educação.
Para mencionar apenas a motivação original dos protestos de quarta, o bloqueio de verbas para o ensino superior foi apresentado, numa entrevista infame do ministro Abraham Weintraub, como uma represália a universidades que estariam promovendo “balbúrdia”, citando três delas como exemplo.
Tratava-se de mera bravata, pelo visto, dado que logo se anunciou um contingenciamento linear, para todos os estabelecimentos federais. Mas o ministro escancarava ali tanto despreparo como intenções persecutórias, o que não se desfaria depois com analogias pueris entre recursos e bombons.
Fato é que o colapso orçamentário do governo fatalmente atingiria as universidades federais, que passaram por um vigoroso e temerário processo de expansão a partir do final da década passada.
A redução de 30% do repasse do Tesouro Nacional para custeio e investimentos é sem dúvida dramática para as instituições. Mesmo que se consiga atenuar o arrocho neste ano, as perspectivas futuras nada têm de promissoras —o que vale para todo o setor público.
A agenda de ajustes passa por temas espinhosos como o regime previdenciário dos servidores, a cobrança de mensalidades e a profissionalização da governança dos estabelecimentos, hoje sujeitos a excessiva politização. O governo Bolsonaro, infelizmente, ainda não se mostrou à altura de discussões bem mais básicas nessa seara.
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