O Estado de S. Paulo
Só no ambiente degradado de hoje é possível levar Michelle Bolsonaro a sério para a Presidência
Assim como só uma sensação tão forte de perplexidade, desesperança e falta de alternativa poderia alavancar e garantir a vitória de Jair Bolsonaro em 2018, só num ambiente institucional tão degradado como o de hoje seria possível levar a sério o nome da sra. Michelle Bolsonaro para a Presidência.
Michelle é uma mulher bonita, que produziu a melhor imagem da posse do seu marido, discursando em libras, mas que experiência e qualificação pessoal, política, administrativa e intelectual ela tem para presidir o Brasil? Articular uma candidatura assim é uma irresponsabilidade com o País.
A hipótese voltou à tona depois que ela
peitou os enteados e a direção do PL e venceu. Vetou pública e
voluntariosamente a aliança do partido com Ciro Gomes no Ceará, foi confrontada,
virou pivô de uma reunião de emergência do PL e... a aliança com Ciro foi para
o brejo. Dizem, aliás, que só Bolsonaro segura Michelle, mas a percepção é o
oposto: por mais que fique incomodado com sua evidência, ele é que só ouve a
mulher.
Além da posse de 2019, Michelle roubou a cena
ao discursar com desenvoltura no lançamento de Bolsonaro à reeleição, em 2022.
E ela atende à demanda por mulheres em espaços de poder, tem base eleitoral
evangélica e está em campanha, enquanto Tarcísio de Freitas, do Centrão, fica
em cima do muro.
Só no ambiente degradado de hoje é possível
levar Michelle Bolsonaro a sério para a Presidência
“Quem não tem cão caça com gato.” Michelle
tende a disputar o Senado pelo DF, mas se torna plano B com Bolsonaro
inelegível, Eduardo botando os pés pelas mãos, Flávio tirando a fantasia. Quem
leva o sobrenome às urnas? E, enquanto a extrema direita bate cabeça no entra e
sai dos Bolsonaro, o direitão, vulgo Centrão, não adere nem aos filhos nem à
mulher do ex-presidente e busca não alternativas, no plural, mas “a”
alternativa, no singular: Tarcísio.
Na prática, geraria uma inversão: em vez de
coadjuvante do bolsonarismo, o Centrão assumiria o protagonismo, o que
Bolsonaro não admite e inviabiliza uma chapa mista, por exemplo, com Tarcísio e
Michelle. Essa chapa, ainda por cima, seria automaticamente carimbada de “chapa
puro-sangue bolsonarista”. Adeus, eleitorado de centro-direita.
E um confronto entre bolsonarismo e Centrão
em 2026? Há duas avaliações. A de que o racha efetivo na direita (diferente do
acordão entre governadores) seria o melhor cenário para Lula e a de que a
rejeição ao bolsonarismo empurrará o eleitorado da direita moderada para o
candidato do Centrão.
Em qualquer hipótese, Michelle – como Jair,
em 2018 – é fora de padrão, sem precedentes, foge às análises tradicionais e
pode tornar a eleição de 2026 altamente imprevisível. •

Nenhum comentário:
Postar um comentário