Bruno Villas Boas
DEU EM O GLOBO
Com crise, número de fusões e aquisições caiu 40% no país de outubro de 2008 a janeiro deste ano
O agravamento da crise econômica mundial, em meados de setembro de 2008, derrubou as operações de fusões e aquisições de empresas no Brasil em cerca de 40% até janeiro, revelam dados antecipados ao GLOBO pela consultoria PricewaterhouseCoopers. Entre outubro do ano passado e janeiro deste ano, foram realizadas 157 transações do gênero no país, ante 259 no mesmo período anterior. Segundo especialistas, o recuo nas transações - que cresciam a um ritmo médio de 35% ao ano desde 2005 - está relacionado aos efeitos da crise, como escassez e encarecimento do crédito, aumento da aversão a risco entre investidores nacionais e estrangeiros e a própria desvalorização das empresas.
Alexandre Pierantoni, sócio da consultoria, afirma que uma série de operações de fusões e aquisições foi adiada ou simplesmente não foi avaliada por causa da piora da crise. Segundo ele, dezembro do ano passado foi o mês mais crítico, com apenas 36 operações, queda de 50% na comparação com igual mês de 2007. Em janeiro deste ano, a queda se manteve forte, de 39%, também com 36 operações anunciadas.
- O ano passado começou bem, mas veio a crise e afetou fortemente o desempenho no ano. Houve uma expressiva redução na participação de investidores estrangeiros. Eles representavam 31% das operações em 2007, mas encerraram 2008 com 27% do total - afirmou Pierantoni.
Segundo a consultoria, o volume de fusões e aquisições caiu 11% no ano passado frente a 2007, passando de 721 transações para 639, após três anos de forte crescimento. O pior desempenho foi puxado pelo quarto trimestre.
Outra consultoria de peso no setor, a KPMG estima uma queda menor nas operações desde a piora da crise: 15%. Entre outubro de 2008 e janeiro deste ano, foram 179 operações, contra 210 de igual período anterior. Os setores de alimentos e bebidas, educação e de shoppings centers foram os que mais desaceleraram, segundo André Castello Branco, sócio de Corporate Finance da KPMG no Brasil.
Para ele, o sumiço do crédito desde meados de setembro do ano passado, após a quebra do banco americano Lehman Brothers, foi o fator mais importante para a queda.
- Com o agravamento da crise, os investidores ficaram mais cautelosos, reduzindo o apetite pelas operações, principalmente entre as companhias estrangeiras - avalia Castello Branco.
Especialista prevê retomada após 2010
Segundo a consultoria, as fusões e aquisições no país envolvendo empresas estrangeiras recuaram de 65 para 53 entre outubro de 2008 e janeiro deste ano, ante igual período anterior. Uma queda de 18,5%, acima da média geral. O número inclui estrangeiros comprando empresas brasileiras ou estrangeiras no país.
Especialistas lembram, no entanto, que os últimos meses foram marcados por transações de grande porte. Mas isso foi possível, lembram, com uma forte atuação do governo, por intermédio do BNDES ou de empresas estatais. Castello Branco lembra o caso da compra do controle da Aracruz pelo grupo Votorantim, por R$5,4 bilhões. A operação contou com participação de R$2,4 bilhões do BNDES. Ou ainda da compra do banco Votorantim pelo Banco do Brasil, negócio avaliado em R$4,95 bilhões.
- É possível que, em valores, tenha havido aumento nas fusões e aquisições, mas não temos como ter certeza disso. É importante frisar que as grandes operações vinham de muito antes da crise ou tiveram forte atuação do governo. É o caso da compra da Brasil Telecom pela Oi - afirma Castello Branco.
Bernardo Gouthier Macedo, sócio-diretor e economista da consultoria LCA, avalia que os movimentos de fusões e aquisições não devem ser retomados antes de 2010. Mesmo com a recuperação do crédito no mercado interno, após a injeção de recursos do Tesouro no BNDES, ele não acredita em uma retomada no curto prazo do crédito estrangeiro.
- O capital estrangeiro foi importante no forte aumento de fusões e aquisições em 2007 e no começo de 2008 - afirma Macedo, para quem outro entrave está na desvalorização das empresas. - Quem estiver em dificuldade, mas não em situação muito difícil, tende a relutar em vender seu negócio, que ficou mais barato após a piora da crise.
Mesma avaliação faz Mauro Guizeline, sócio de área de mercado de capitais do TozziniFreire Advogados. Para ele, o recuo não se resume aos problemas de caixa e crédito nas empresas compradoras. Na outra ponta, os empresários têm evitado vender suas companhias.
- Os empresários têm encontrado dificuldades para avaliar quanto valem suas empresas, já que os preços das ações caíram muito nas bolsas. Eles sabem que a crise uma hora vai passar e as empresas vão novamente se valorizar. Então, vender agora pode significar perder dinheiro - diz.
Para ele, os fundos de investimento - como GP, Gávea, Pátria e Mauá - terão um papel importante no mercado neste ano. Capitalizados, podem ir às compras. Guizeline acredita ainda em um movimento de fusões e aquisições nos setores de alimentos e frigoríficos, etanol e no ramo imobiliário, que foram duramente afetados pela crise.
Para Francisco Barone, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV), a crise criou oportunidades. Ele lembra que fusões e aquisições fazem parte das estratégias de crescimento a médio e longo prazos das empresas. Por isso, diz, a queda das operações não foi ainda maior desde a piora da crise.
- Existem oportunidades. Muitas empresas não terão outra saída além de vender parte de seus negócios para fazer caixa.
DEU EM O GLOBO
Com crise, número de fusões e aquisições caiu 40% no país de outubro de 2008 a janeiro deste ano
O agravamento da crise econômica mundial, em meados de setembro de 2008, derrubou as operações de fusões e aquisições de empresas no Brasil em cerca de 40% até janeiro, revelam dados antecipados ao GLOBO pela consultoria PricewaterhouseCoopers. Entre outubro do ano passado e janeiro deste ano, foram realizadas 157 transações do gênero no país, ante 259 no mesmo período anterior. Segundo especialistas, o recuo nas transações - que cresciam a um ritmo médio de 35% ao ano desde 2005 - está relacionado aos efeitos da crise, como escassez e encarecimento do crédito, aumento da aversão a risco entre investidores nacionais e estrangeiros e a própria desvalorização das empresas.
Alexandre Pierantoni, sócio da consultoria, afirma que uma série de operações de fusões e aquisições foi adiada ou simplesmente não foi avaliada por causa da piora da crise. Segundo ele, dezembro do ano passado foi o mês mais crítico, com apenas 36 operações, queda de 50% na comparação com igual mês de 2007. Em janeiro deste ano, a queda se manteve forte, de 39%, também com 36 operações anunciadas.
- O ano passado começou bem, mas veio a crise e afetou fortemente o desempenho no ano. Houve uma expressiva redução na participação de investidores estrangeiros. Eles representavam 31% das operações em 2007, mas encerraram 2008 com 27% do total - afirmou Pierantoni.
Segundo a consultoria, o volume de fusões e aquisições caiu 11% no ano passado frente a 2007, passando de 721 transações para 639, após três anos de forte crescimento. O pior desempenho foi puxado pelo quarto trimestre.
Outra consultoria de peso no setor, a KPMG estima uma queda menor nas operações desde a piora da crise: 15%. Entre outubro de 2008 e janeiro deste ano, foram 179 operações, contra 210 de igual período anterior. Os setores de alimentos e bebidas, educação e de shoppings centers foram os que mais desaceleraram, segundo André Castello Branco, sócio de Corporate Finance da KPMG no Brasil.
Para ele, o sumiço do crédito desde meados de setembro do ano passado, após a quebra do banco americano Lehman Brothers, foi o fator mais importante para a queda.
- Com o agravamento da crise, os investidores ficaram mais cautelosos, reduzindo o apetite pelas operações, principalmente entre as companhias estrangeiras - avalia Castello Branco.
Especialista prevê retomada após 2010
Segundo a consultoria, as fusões e aquisições no país envolvendo empresas estrangeiras recuaram de 65 para 53 entre outubro de 2008 e janeiro deste ano, ante igual período anterior. Uma queda de 18,5%, acima da média geral. O número inclui estrangeiros comprando empresas brasileiras ou estrangeiras no país.
Especialistas lembram, no entanto, que os últimos meses foram marcados por transações de grande porte. Mas isso foi possível, lembram, com uma forte atuação do governo, por intermédio do BNDES ou de empresas estatais. Castello Branco lembra o caso da compra do controle da Aracruz pelo grupo Votorantim, por R$5,4 bilhões. A operação contou com participação de R$2,4 bilhões do BNDES. Ou ainda da compra do banco Votorantim pelo Banco do Brasil, negócio avaliado em R$4,95 bilhões.
- É possível que, em valores, tenha havido aumento nas fusões e aquisições, mas não temos como ter certeza disso. É importante frisar que as grandes operações vinham de muito antes da crise ou tiveram forte atuação do governo. É o caso da compra da Brasil Telecom pela Oi - afirma Castello Branco.
Bernardo Gouthier Macedo, sócio-diretor e economista da consultoria LCA, avalia que os movimentos de fusões e aquisições não devem ser retomados antes de 2010. Mesmo com a recuperação do crédito no mercado interno, após a injeção de recursos do Tesouro no BNDES, ele não acredita em uma retomada no curto prazo do crédito estrangeiro.
- O capital estrangeiro foi importante no forte aumento de fusões e aquisições em 2007 e no começo de 2008 - afirma Macedo, para quem outro entrave está na desvalorização das empresas. - Quem estiver em dificuldade, mas não em situação muito difícil, tende a relutar em vender seu negócio, que ficou mais barato após a piora da crise.
Mesma avaliação faz Mauro Guizeline, sócio de área de mercado de capitais do TozziniFreire Advogados. Para ele, o recuo não se resume aos problemas de caixa e crédito nas empresas compradoras. Na outra ponta, os empresários têm evitado vender suas companhias.
- Os empresários têm encontrado dificuldades para avaliar quanto valem suas empresas, já que os preços das ações caíram muito nas bolsas. Eles sabem que a crise uma hora vai passar e as empresas vão novamente se valorizar. Então, vender agora pode significar perder dinheiro - diz.
Para ele, os fundos de investimento - como GP, Gávea, Pátria e Mauá - terão um papel importante no mercado neste ano. Capitalizados, podem ir às compras. Guizeline acredita ainda em um movimento de fusões e aquisições nos setores de alimentos e frigoríficos, etanol e no ramo imobiliário, que foram duramente afetados pela crise.
Para Francisco Barone, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV), a crise criou oportunidades. Ele lembra que fusões e aquisições fazem parte das estratégias de crescimento a médio e longo prazos das empresas. Por isso, diz, a queda das operações não foi ainda maior desde a piora da crise.
- Existem oportunidades. Muitas empresas não terão outra saída além de vender parte de seus negócios para fazer caixa.
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