Para tentar vencer o governo do Rio, Fernando Gabeira abre mão de dogmas históricos e alia-se ao PSDB e ao DEM
Eliane Lobato
Com Gabeira na disputa, José Serra ganha um palanque forte no RJ para a campanha presidencial
Nas últimas três décadas, o mineiro Fernando Gabeira foi o símbolo do espírito carioca na política. Seja na irreverência de uma sunga de crochê, seja nos abraços promovidos ao redor da Lagoa Rodrigo de Freitas, Gabeira sempre esteve à margem de um universo político recheado por personagens que certamente seriam classificados como “atrasados” por uma boa parcela dos eleitores que o elegeram deputado federal por cinco mandatos consecutivos. A carreira política forjada em um estilo personalista calcado em sólidos ideais lhe conferiu o status de um dos parlamentares mais respeitados do País, mas, ao mesmo tempo, nunca lhe permitiu voos mais altos. Agora Gabeira quer voar.
Candidato ao governo do Rio pela segunda vez – a primeira foi em 1986, pelo PT –, decidiu adotar uma tática já usada pelos verdes europeus há alguns anos: abraçar o pragmatismo político em prol da conquista do poder. Gabeira já havia adotado essa estratégia nas eleições municipais do Rio em 2008, quando se aliou ao PSDB e ao PPS, e por pouco não venceu a disputa contra Eduardo Paes (PMDB). Agora, no entanto, Gabeira decidiu ampliar ainda mais o leque de alianças. Além do PSDB e do PPS, a coligação também deve ser composta pelo DEM, partido que foi o símbolo máximo do que Gabeira e seus companheiros costumavam chamar de “forças conservadoras”. “Gabeira assumiu a liderança da direita no Estado”, diz o cientista político Fabiano dos Santos, do Iuperj.
Gabeira titubeou em aceitar ser candidato pelo PV ao governo. Afirmou que não entraria na disputa se não tivesse chances reais de vitória e que seu desejo era concorrer a uma vaga no Senado. Na última semana, no entanto, ele cedeu às pressões tanto de sua legenda quanto do PSDB, que precisa de forma desesperada de um palanque para o governador de São Paulo e pré-candidato à Presidência, José Serra. “Tive que encarar essa responsabilidade”, afirmou Gabeira, referindo-se ao peso de ser o único nome da coligação a ter um volume de votos expressivos no Estado.
O grande desafio de Gabeira será conseguir ampliar a popularidade que tem na capital para o resto do Estado. Seu eleitorado é, em grande parte, formado por uma elite intelectualizada e liberal concentrada na zona sul da cidade do Rio. As alianças com políticos mais tradicionais podem ajudá-lo a vencer o preconceito e a rejeição contra seu nome em populações de renda e escolaridade menores, entre as quais seus principais adversários e líderes nas pesquisas trafegam bem. Tanto o governador Sérgio Cabral (PMDB) quanto o ex-governador Anthony Garotinho (PR) são populares em todo o Estado. Um dos nomes mais cogitados para ser vice na chapa de Gabeira é o do polêmico prefeito de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, José Camilo Zito dos Santos (PSDB), que, entre outras ações, proibiu a realização da Parada do Orgulho Gay na cidade no ano passado. Gabeira, no entanto, garante que essa opção está descartada. “Não será o Zito, com certeza”, diz.
Independentemente das alianças, a candidatura de Gabeira já tem um vencedor: José Serra, embora o deputado assegure que só estará no palanque tucano em um eventual segundo turno.
Até agora o pré-candidato tucano não tinha um palanque no Rio de Janeiro. Serra vinha perdendo espaço de forma contínua no Estado desde o final de 2008. “A candidatura dele ajuda a do governador paulista, que perdeu 15 pontos percentuais nas pesquisas de intenção de voto em 12 meses”, diz o cientista político Geraldo Tadeu Monteiro, do Instituto Brasileiro de Pesquisa Social (IBPS).
Nenhum comentário:
Postar um comentário