Com quase dez mese s de governo, Dilma Rousseff parece ter encontrado o formato ideal para vender sua imagem pública.
Ontem, coroou esse modelo ao receber para um jantar no Palácio da Alvorada o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Na curta história da democracia brasileira, nunca um presidente pós-ditadura militar recebeu no Alvorada um ex-presidente de oposição. Havia uma impossibilidade prática: Collor, Itamar e FHC não tinham ex-presidentes de oposição para receber.
Em seus oito anos no poder, Luiz Inácio Lula da Silva poderia ter convidado FHC para conversar. Preferiu evitar tal gesto, tão comum em democracias mais maduras e desenvolvidas. É corriqueiro nos Estados Unidos um republicano receber um democrata ou vice-versa na Casa Branca.
É evidente que essas ocasiões não são sinalizações acabadas de civismo e bons modos. Trata-se de "realpolitk". Dilma e FHC ganham com esse gesto calculado. Ela, porque lustra a imagem de "presidente cordial". Ele, por reocupar espaço na cena nacional -entrando pela porta da frente depois de ter sido escanteado por seu próprio partido.
Ainda é cedo para saber se Dilma adotou tal comportamento por estratégia pré-definida ou se as coisas foram acontecendo e ela surfou o momento. Essa atuação ao acaso, uma espécie de "serendipismo" brasileiro, tem sido a regra no caso das demissões de ministros acusados de corrupção.
Não há notícia, por exemplo, de Dilma determinando faxina na Esplanada. Ela própria nega. Mas a imagem pegou. E não existe esforço concentrado no Planalto para debelar a impressão disseminada.
Assim como na definição de cordialidade de Sérgio Buarque de Holanda, a presidente vai sendo de uma forma em privado e de outra em público. Por enquanto, esse tem sido seu maior êxito.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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