O primeiro indicador do desempenho do setor produtivo do último trimestre não entusiasma. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) apontou ontem um avanço de apenas 0,26% em dezembro sobre novembro o que perfaz um total de 1,35% em 12 meses.
Construído em 2010 pelo Banco Central para antecipar em algumas semanas o comportamento do PIB, o IBC-Br, ainda em fase de ajuste, não tem conseguido a precisão desejada. Em todo o caso, serve como indicador de tendência.
O que já dá para dizer é que aquele projeto do governo, de obter boa recuperação no último trimestre de 2012 para garantir tração para este ano, não foi bem-sucedido. Não dá para afirmar que a atividade econômica tenha engatado a quarta marcha de maneira a proporcionar crescimento do PIB em 2013 de 4,0% a 4,5% - como pretendia o governo Dilma. A retomada, embora inegável, não passa firmeza. Ficou mais difícil assegurar um aumento do PIB de pelo menos 3% neste ano.
Quando as coisas não se comportam como esperado, o brasileiro ainda prefere procurar um culpado em vez de uma solução. O exercício do descarrego começou há alguns meses, quando a presidente Dilma se queixou da desestabilização provocada no câmbio interno pelos "tsunamis monetários" gerados pelos grandes bancos centrais. Outras autoridades do governo são mais genéricas. Preferem culpar "a crise global" e, eventualmente, certas práticas predatórias da concorrência.
Se esses fatores tivessem sido decisivos no emperramento do setor produtivo, outros países emergentes também estariam mostrando pibinhos mixurucas. Não é assim. Para não falar da China, que é mesmo fora de padrão, em 2012 a Austrália e a Rússia apresentaram crescimento de 3,4%; o PIB do México avançou 4,0%; o do Chile, 5,0%; o da Índia, 5,4%; o da Tailândia, 5,8%; e o da Indonésia, 6,3%
Por que, então, para esses e outros países a crise global não foi tão madrasta como foi para o Brasil? Ora, porque os problemas estão aqui dentro, não lá fora.
E são conhecidos. Além do velho e nunca resolvido alto custo Brasil, há os estrangulamentos. Um deles é o descuido com os investimentos, uma vez que o governo entendeu que deveria dar prioridade ao consumo. Para crescer os tais 4% que estão na mira, seria necessário investir ao menos 22% do PIB. Mas o investimento mal ultrapassa os 17% do PIB. (Só para comparar, o padrão asiático é de 33% do PIB.)
O investimento é essa mediocridade não somente porque o governo optou por estimular o consumo, mas também porque o Brasil poupa pouco - também em torno desses 17% do PIB.
Afora esses estrangulamentos velhos de guerra, há mais dois, relativamente mais recentes: (1) a disparada do custo da mão de obra, em consequência da situação de escassez de mão de obra (desocupação de só 4,6% da força de trabalho, registrada em dezembro); e (2) essa inflação em alta, que queima patrimônio e poder aquisitivo e destrói a confiança.
Desempenho econômico requer capitais e muito empenho.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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