Os três estados mais populosos do país apresentam problemas para a campanha da reeleição da presidente
Paulo Celso Pereira
BRASÍLIA - A um ano e meio das eleições de 2014, a presidente Dilma Rousseff mantém um altíssimo índice de aprovação - em março, 65% da população considerava sua gestão ótima ou boa - e tem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com sua popularidade igualmente alta, como principal cabo eleitoral. Com a pré-campanha já na cabeça e nos cálculos de todos, um novo fator tornou-se centro das preocupações de alguns dos mais próximos aliados da presidente nas últimas semanas: a construção dos palanques dilmistas nos três estados mais populosos do país, São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.
No caso fluminense, não bastasse a ameaça de um rompimento do governador Sérgio Cabral (PMDB) com o PT, pela possibilidade de o senador petista Lindbergh Farias se lançar candidato, Dilma deverá ter um adversário que frequenta assiduamente o Rio.
Desde a redemocratização, o candidato do PT à Presidência sempre saiu-se vencedor no Rio, com exceção de 1994, algumas vezes por ampla margem. Agora, dirigentes petistas começam a considerar que a vitória não é tão certa. O senador Aécio Neves (PSDB-MG) mudou-se para o Rio no início da década de 1970, aos 10 anos, e até hoje passa boa parte de seus finais de semana na capital fluminense, onde mora sua filha e tem um apartamento - o longo tempo que passa no Rio é até motivo de críticas de seus adversários.
Dirigentes do PSDB defendem inclusive que o comitê central de Aécio fique no Rio. É um cenário oposto ao das três últimas eleições nas quais os candidatos tucanos eram paulistas - José Serra e Geraldo Alckmin - sem qualquer intimidade com a cidade.
PMDB descarta palanque duplo
O grande temor de aliados de Dilma, no entanto, é a crescente possibilidade de rompimento da aliança mantida há sete anos entre o PT nacional e estadual com Cabral. Lindbergh Farias começou a percorrer as regiões mais populosas do estado em ditas "caravanas da cidadania" e, segundo petistas, figura com mais de 20% das intenções de voto nas pesquisas internas. O governador e o presidente estadual do PMDB, Jorge Picciani, já decidiram, no entanto, que não aceitarão abrir o palanque do vice-governador Luiz Fernando Pezão, candidato à sucessão de Cabral, para Dilma, caso o PT confirme Lindbergh.
- A prioridade é que a aliança seja mantida. Mas se o PT optar por não reproduzir localmente a aliança nacional, o palanque duplo não se sustenta. Não temos preocupação com nenhum candidato, mas é uma questão de conceito. Se o PT optar por uma candidatura, não há problema. Mas cabe a ele decidir, porque isso implicará em prejuízo ao palanque da presidente Dilma, uma vez que palanque duplo não ocorrerá - afirma, categórico, o deputado Leonardo Picciani, integrante da Executiva Nacional do PMDB.
Lindbergh reage:
- Acho uma postura meio autoritária querer tirar uma candidatura de outro partido. Não quero polemizar, mas uma coisa é fato: o PT já decidiu e vai ter candidato ao governo do Rio.
O senador petista mantém conversas constantes com a direção nacional de seu partido e guarda na manga um convite do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, para filiar-se ao PSB. Cioso do risco de perder o senador, o próprio ex-presidente Lula afirmou em recente reunião em Brasília que não haveria mais possibilidade da retirada da candidatura.
Dentro do PMDB a avaliação é que o cenário eleitoral no Rio dependerá muito da popularidade que Dilma terá no início do próximo ano. Aliados de Cabral avaliam que se o comando nacional do PT perceber que há um risco real à vitória de Dilma, a candidatura de Lindbergh será retirada. Mas, se a popularidade continuar alta, o PT poderá optará por manter a candidatura de Lindbergh, já que dos três maiores estados, o Rio seria onde o PT teria chances mais claras de vitória. Dilma, no entanto, pretende manter-se calada sobre a sucessão no Rio até março.
Se o cenário no Rio é de incerteza, mas com viés positivo, o mesmo não se pode dizer sobre Minas Gerais. Petistas e integrantes do governo são unânimes ao afirmar que a única dúvida em relação ao estado é qual será o tamanho da derrota para o PSDB, se o candidato for mesmo Aécio. Diferentemente das três últimas eleições, nas quais Lula e Dilma sempre venceram em Minas, a vitória do mineiro é vista como certa no estado que governou duas vezes e onde tem altíssimos índices de popularidade. Como referência, citam o resultado do primeiro turno da eleição de 2010 quando Aécio teve 7,6 milhões de votos para o Senado contra 5,1 milhões de Dilma - com a ressalva de que o eleitor podia eleger dois senadores.
- A dúvida é se ele terá 60% ou 80% - explica um interlocutor da presidente.
Mas as perspectivas nos três maiores colégios eleitorais não são só negativas para a presidente Dilma. O PT aposta pesadamente na possibilidade de obter em São Paulo um resultado melhor que nas últimas eleições. Com cerca de 31 milhões de eleitores, o estado tem sozinho quatro milhões de votantes a mais que Minas e Rio somados. Vários fatores animam os aliados de Dilma.
PT ainda sem nome em São Paulo
Pela primeira vez, desde a redemocratização, o candidato do PSDB à Presidência não virá de São Paulo - a se confirmar a candidatura de Aécio. Além disso, após 20 anos no comando do governo estadual, os tucanos enfrentam desgaste. E ainda conta a favor de Dilma o fato de ser petista o prefeito da capital, dono do terceiro maior Orçamento do país, atrás apenas da União e do governo paulista. Por fim, os petistas acreditam que os paulistas podem dar a Aécio o troco pelo mal resultado que Geraldo Alckmin e José Serra tiveram em Minas nas duas últimas eleições presidenciais.
Esse cenário positivo, no entanto, esbarra na falta de um bom candidato petista à sucessão de Alckmin. O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, que era visto como o nome mais competitivo, já disse publicamente que não pretende concorrer, e deve coordenar a campanha de Dilma. O publicitário João Santana começou a fazer pesquisas qualitativas para avaliar qual perfil de candidato os paulistas desejam.
As duas maiores preocupações para os entrevistados são a Saúde, para cerca de 40%, e segurança pública ou crack, com cerca de 30%. Não por outro motivo, os ministros da Saúde, Alexandre Padilha, e da Justiça, José Edurado Cardozo, passaram a figurar entre os favoritos. Ambos, no entanto, têm dificuldades pessoais. Padilha mantém há mais de uma década seu título de eleitor em Belém e ainda não conseguiu dar uma marca relevante para sua gestão.
Cardozo, que tem perfil semelhante ao de Fernando Haddad, com entrada na classe média e discurso voltado para a segurança, é rejeitado por Lula desde a década de 1990, quando foi o responsável, na prefeitura de São Paulo, pela apuração do chamado Caso Lubeca, que apurou destinação ilegal de verbas para a campanha presidencial petista em 1989.
A presidente Dilma Rousseff já definiu que caberá a Lula sacramentar a chapa da eleição paulista. O prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, é apontado como candidato dos sonhos do ex-presidente, de quem é amigo dileto. Mas mesmo no PT há quem veja dificuldade de seu nome prosperar na classe média, especialmente da capital, por sua biografia intimamente ligada ao mundo sindical. A incerteza é tamanha que até mesmo o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o próprio Lula já chegaram a ser cogitados para o posto, mas, por hora, estão descartados.
Fonte: O Globo
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