Acordo de cavalheiros prevê aliança em São Paulo, Minas e Pernambuco
Júnia Gama
BRASÍLIA - Durante o recesso parlamentar, o presidenciável tucano Aécio Neves avançou em negociações políticas com o também pré-candidato Eduardo Campos (PSB-PE) e seus interlocutores.
A ideia é consolidar parceria, iniciada no ano passado, em torno de um eventual segundo turno contra a presidente Dilma Rousseff nas eleições de outubro. Esse acordo parte da manutenção da aliança entre PSB e PSDB em estados-chave, ainda que a promessa de apoio recíproco seja apenas no segundo turno. É o caso de São Paulo, onde a combinação entre os dois, até agora, será lançar um candidato próprio do PSB ao governo do estado para Campos poder apresentar “algo novo”, como deseja a ex-senadora Marina Silva, mas já assegurando que o governador Geraldo Alckmin terá o apoio do PSB em um eventual segundo turno.
Em Minas Gerais, terra de Aécio, os dois partidos devem manter a aliança atual. Em outros estados, haverá uma espécie de acordo de cavalheiros, um pacto de não agressão. Entre Aécio e Campos, a combinação é se aliar onde for possível, mas não romper por diferenças locais. A máxima de Aécio tem sido: “Onde dá para estar juntos, bem, onde não, paciência”. O senador tem dito a pessoas próximas que seu acordo com Campos é para montar uma estrutura para o segundo turno da eleição presidencial, mas que não se trata de palanques duplos, e sim, de uma estratégia de convivência. A ideia é fazer o que for possível para um facilitar a vida do outro.
Decisões centralizadas
Além dos entendimentos em Minas e em São Paulo, Aécio e Eduardo Campos já fizeram um acordo prévio também para as eleições ao governo de Pernambuco: em contrapartida à decisão dos socialistas de não lançarem um candidato ao governo de Minas, para não atrapalhar os planos tucanos, o PSDB nacional também não deve aprovar candidatura própria no estado de Campos. Os tucanos alimentavam a ideia da candidatura de Daniel Coelho, que teve bom desempenho nas eleições para a prefeitura de Recife, em 2012, mas o caminho deve ficar livre para o candidato de Eduardo Campos, que ainda não foi escolhido.
Para controlar as composições políticas do PSDB em todos os estados, tendo sempre em vista o projeto nacional, outra ofensiva de Aécio é aprovar semana que vem, na reunião da Executiva Nacional do PSDB, documento determinando que qualquer coligação estadual terá de passar pelo crivo nacional. O senador tem dito que o PSDB “pagou o preço” nas últimas eleições por não ter submetido as alianças regionais à nacional. E já avisou a tucanos que as decisões serão centralizadas, e que, se preciso, haverá intervenção. Em Minas, Aécio tenta cooptar o descontente PMDB para sua aliança.
— Se o PMDB vier, vale a pena ceder um espaço — disse Aécio a interlocutores recentemente.
Anastasia: candidatura em aberto
De olho nesse apoio, o tucano deixa aberta a possibilidade de ceder a vaga reservada para o governador Antonio Anastasia ao Senado ou mesmo à vice do PSDB para mobilizar um acordo com o principal partido da base aliada no governo Dilma Rousseff. No que depender do senador Clésio Andrade (PMDB-MG), que pretende disputar o governo do estado, rompendo a aliança com o PT, Aécio poderá contar com palanque duplo em Minas, mesmo sem abrir mão de outra vaga reservada ao PSDB.
— Sou pré-candidato ao governo de Minas pelo PMDB. Já começamos um movimento pró-candidatura própria e temos cerca de 70% dos convencionais do nosso lado. A convenção do partido não vai aprovar uma composição com o PT no estado, e a Executiva Nacional já disse que não vai se meter. A cúpula do PMDB já decidiu que não vai interferir na escolha de Minas. Meu palanque está aberto, com certeza para o Aécio — afirmou o senador Clésio.
Até o momento, o PSDB em Minas tem como certo lançar o tucano Pimenta da Veiga ao governo e como vice o atual presidente da Assembleia, Dinis Pinheiro (PP). Mas Aécio deve segurar até o último momento o anúncio do atual governador Antonio Anastasia como candidato ao Senado. O presidenciável usa Anastasia, favorito ao Senado, como peça importante no xadrez: enquanto o chapéu dele estiver segurando a cadeira do Senado, o PT fica só com a vaga de vice de Fernando Pimentel para oferecer aos outros partidos.
Fonte: O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário