Julia Duailibi – O Estado de S. Paulo
O ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil) considerou uma manifestação “diplomática” e de “agradecimento” a entrega das cartas de demissão de mais de dez ministros ao Palácio do Planalto. “É uma formalidade. Foi uma sugestão minha, faz quem quiser”, declarou ontem. A atitude, articulada por ele com o apoio de outros ministros, foi desastrosa.
Mercadante conseguiu trazer mais uma notícia negativa para o coração do Planalto, no momento em que Dilma coleciona uma porção delas, como a situação das contas fiscais e o consequente não cumprimento da Lei de Diretrizes Orçamentárias – sem contar com o aumento dos juros e do desmatamento na Amazônia, a despeito das declarações da presidente durante a eleição.
Provocada por Mercadante, a enxurrada de cartas de demissão chegou ao Planalto a partir de terça feira, a começar pela de Marta Suplicy, e com elas a impressão de que uma crise se instaurou na Esplanada dos Ministérios. As demissões nada espontâneas passaram a ideia de que os ministros lideravam uma rebelião na ausência da presidente Dilma Rousseff, que está em viagem para a Austrália, onde participa de reunião do G-20.
A reforma ministerial já é esperada e, portanto, não é segredo que cabeças vão rolar. Em entrevista na semana passada, Dilma já havia falado sobre os ajustes na sua equipe, a começar pela área econômica. As mudanças nos ministérios não precisavam ser precedidas de uma operação forçada e atabalhoada, feita num momento ruim e que cria mais fogo amigo e munição contra o próprio palácio.
Fora que, colocar o cargo à disposição de Dilma, por meio de carta, não tem nenhum efeito prático. O cargo já é da presidente, e ela pode colocar e tirar ministros a hora que quiser – ou que os aliados deixarem. Não precisa de uma autorização em papel timbrado. O gesto até tem serventia em casos isolados, quando é necessário armar um teatro para amenizar a demissão de algum ministro com serviços prestados ao Planalto. Para não queimar o colaborador, pede-se uma carta, aceita-se a carta e manda-se o ministro para casa, como se ele próprio tivesse resolvido seu destino.
Da maneira como as demissões foram articuladas, pairou no ar o antigo provérbio: “quando o gato sai, os ratos fazem a festa”.
– Mercadante disse que também apresentou uma carta, o que só demonstra a inutilidade do ato, já que ele é um dos que devem permanecer na Esplanada.
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