• Governador do Rio passa mais tempo fora da capital e dos problemas financeiros do Estado
Luciana Nunes Leal - O Estado de S. Paulo
RIO - Não importa a extensão da ponte ou da estrada, o número de casas construídas, se a obra será inaugurada ou vistoriada. Nas últimas semanas, o interior é o destino preferencial do governador Luiz Fernando Pezão (PMDB). Com arrecadação em queda, pagamento atrasado de serviços, corte de gastos nas secretarias e pedido de empréstimo ao Judiciário para pagar aposentados, o governador incluiu dois dias por semana agenda fora da capital, onde a cobrança é maior.
"Estou inaugurando até capela mortuária. Pareço o Odorico Paraguaçu", disse Pezão, citando o personagem de Dias Gomes que sonhava inaugurar o cemitério de Sucupira em O Bem Amado.
Não é exagero. Este mês, Pezão irá a Cardoso Moreira - cidade de 13 mil habitantes e a 330 km ao norte do Rio - inaugurar uma capela mortuária construída em parceria com a prefeitura. Pronta, a capela espera brecha na agenda do governador. "Já prometi ao prefeito que estarei lá", disse.
A capela faz parte de um pacote de dez obras em Cardoso Moreira que custaram ao todo R$ 13 milhões em recursos estaduais e vêm sendo inauguradas ou vistoriadas por Pezão. Em 24 de abril, o governador inaugurou 7,2 km de pavimentação da RJ-180, em Santa Maria Madalena, na região serrana. Prometeu mais 8 km até o fim do ano. Em Macaé, no litoral norte, no dia 17, o trecho inaugurado da estrada municipal tinha 1,2 quilômetro.
No mesmo dia 24, Pezão foi a Volta Redonda (sul fluminense) inaugurar uma estação de tratamento de esgoto e a São Fidélis (no norte do Estado) para entregar a Clínica da Família. Quatro dias antes, em Petrópolis (região serrana), vistoriou pontes em reconstrução destruídas nas chuvas de 2011, sem data de inauguração. Em Bom Jardim, também na região serrana, em 7 de abril, entregou 28 casas para vítimas dos temporais.
"Fiz calendário que prevê ao menos uma visita a cada um dos 92 municípios, até o fim do ano. Pretendo fazer isso todos os anos do mandato", afirmou Pezão. O governador disse não minimizar os problemas do Estado e que a manutenção dos empregos é sua grande preocupação. Ele previu que no segundo semestre as contas estarão mais equacionadas. "O Estado não pode parar, tem muita coisa em andamento, (...) muita inauguração para fazer."
Lava Jato. Pezão e o antecessor, Sérgio Cabral (PMDB), são investigados na Operação Lava Jato, que apura corrupção na Petrobrás. Em delação premiada, o ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa disse que a campanha de Cabral em 2010, com Pezão de vice, recebeu R$ 30 milhões em propinas pagas por firmas do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj).
Costa disse ter participado de reunião, com presença de Pezão, em que Cabral pediu dinheiro para a campanha. Pezão repete como mantra que "a reunião nunca aconteceu" e que "não houve dinheiro ilegal na campanha". "É lamentável ver meu nome envolvido nisso sem qualquer prova, tenho 32 anos de vida pública", diz. Cabral também nega a acusação.
Em relação às finanças do Estado, a radiografia é crítica. Pezão teve de pedir R$ 6 bilhões ao Tribunal de Justiça para pagar aposentados e inativos e determinou cortes de R$ 4 bilhões em gratificações e despesas com viagens, combustíveis, gás, luz, telefone e água. Reconheceu dívidas de R$ 750 milhões com fornecedores e promete benefícios, como isenção de juros para pessoas físicas e jurídicas que quitarem dívidas com o governo.
O Estado perderá ao menos R$ 2 bilhões em royalties do petróleo e valor igual em Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), principalmente pela retração do setor de óleo e gás. Após anos de alto investimento e criação de novos postos, o desemprego aflige o governo. Cidades como Itaboraí, sede do Comperj, e Macaé, onde os empregos são ligados à Petrobrás e a firmas do setor, já sofrem impacto da crise.
O governador, que foi duas vezes prefeito de Piraí, no sul do Rio, fez do estilo simples e objetivo a antítese de Cabral, que deixou o governo em abril de 2014 com baixa popularidade e o mandato marcado por denúncias de envolvimento com empresários e viagens de luxo ao exterior.
Pezão enfrentou eleição difícil, vencida em dois turnos. Na posse, em 1.º de janeiro, tocou no tema evitado na campanha: as dificuldades de caixa. Traçou um cenário sombrio para o futuro, que se confirma a cada mês.
Após dois anos nas inserções gratuitas do PMDB, Pezão deixou de ser a estrela da propaganda na capital, papel assumido pelo prefeito Eduardo Paes, em anúncios veiculados de 15 a 22 de abril.
"Tinha algum tempo que não usava a propaganda gratuita do PMDB. Em 2014 e 2013, foram usadas todas pelo Pezão. Tinha o espaço disponível (este ano), e estamos falando de algumas ações do PMDB no Rio. Teve propaganda do Pezão no interior. A nossa ficou mais concentrada na cidade do Rio", disse Paes.
Para o presidente do PMDB fluminense e da Assembleia Legislativa, Jorge Picciani, "o foco é a eleição municipal de 2016", por isso Paes protagonizou a propaganda. "Estamos concentrados nas eleições de 2016 e o melhor que temos para mostrar é a gestão do Eduardo Paes."
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