• Consultas para crediário ao banco de dados da SPC Brasil e CNDL recuam 4,7% em abril em relação a 2014
• Falta de crédito e mais desconfiança sobre o futuro da economia tornam consumidor mais cauteloso
Renan Marra – Folha de S. Paulo
SÃO PAULO - Mais endividado e com menos dinheiro no bolso ao fim do mês, o brasileiro passou a comprar menos a prazo para evitar os juros altos do crediário e o risco de ficar ainda mais no vermelho.
Um indicador que mostra essa tendência é o número de consultas para vendas a prazo ao banco de dados do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL).
Houve recuo de 4,69% em abril em comparação com o mesmo mês de 2014. Foi a terceira baixa consecutiva e a mais intensa dos últimos 13 meses --em março de 2014, a contração havia sido de 4,83%.
"As pessoas estão sem dinheiro e menos propensas a contrair dívida de longo prazo", diz a economista-chefe do SPC, Marcela Kawauti.
A psicóloga Marlene Maria dos Santos, 45, parou de comprar a prazo desde que perdeu o emprego, em dezembro. Após exercer a profissão em que se formou por mais de 20 anos, Marlene trabalha hoje com telemarketing para se sustentar.
Com apartamento novo, Marlene não compra mais a prazo para evitar os juros e o endividamento, mas não consegue mobiliar a residência.
"Hoje eu sobrevivo com o que eu ganho e só compro à vista, mas não consigo comprar quase nada", diz Marlene.
Além da falta de crédito, a falta de confiança no futuro da economia ajuda a explicar o comportamento arredio do consumidor.
Pesquisa Datafolha divulgada em abril com 2.834 pessoas mostra que, para 78%, a inflação deverá aumentar no próximo período. Para 70%, o desemprego vai subir.
E 58% acham que a situação econômica do país deve piorar.
O cenário torna o consumidor cauteloso na hora das compras e muda seu comportamento na hora de escolher a mercadoria.
Para Rodrigo Mariano, gerente de economia e pesquisa da Apas (Associação Paulista de Supermercados), no setor de supermercadista, a redução das vendas a prazo tem impacto principalmente em produtos mais caros, como os duráveis: geladeira, televisor e fogão, por exemplo.
Por outro lado, há aumento nas vendas de produtos mais baratos, como alimentos, segundo ele.
Para o economista Marcel Solineo, da ACSP (Associação Comercial de São Paulo), há impacto maior nas vendas a prazo quando comparadas às compras à vista por causa de altas taxas de juros e de uma política mais cautelosa dos bancos para emprestar.
Especialistas ressaltam, no entanto, que, apesar de um fôlego a mais em um primeiro momento, os bens não duráveis também sofrem impacto do momento ruim na economia do país.
Em tempos de crise, especialistas evitam fazer previsões para os próximos meses, mas aconselham cautela na hora das compras.
"O consumidor tem de gastar o dinheiro de forma mais inteligente ao longo deste ano. Evite comprar a prazo porque à vista [o consumidor] consegue desconto e não se compromete no longo prazo. Faça reserva financeira", recomenda Marcela Kawauti.
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