- O Globo
É impressionante como o PT confunde nas mínimas coisas o público com o privado. Agora vem o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom), Edinho Silva, anunciar que orientou a Caixa Econômica e o Banco do Brasil a veicularem campanhas publicitárias a favor de uma "cultura da paz" entre os brasileiros.
Na verdade, o que está preocupando o ministro petista é a frequência com que personalidades de seu partido têm sido vaiadas em público, principalmente em São Paulo. É verdade que agressões a figuras públicas fora do contexto em que atuam, isto é, nas suas vidas privadas, revelam baixa tolerância com os adversários, quando o contrário deveria ser predominante na democracia.
Os ex-ministros Guido Mantega e Alexandre Padilha e o prefeito paulistano Fernando Haddad foram alvos de ataques desse tipo nos últimos dias, em demonstrações de repúdio ao que representam, em locais públicos em São Paulo. Não estavam lá, no restaurante ou no teatro, no exercício de suas funções, embora seja difícil separar a vida privada de pessoas públicas, sejam personalidades da vida artística ou do mundo da política.
O PT, no entanto, é o último partido político que pode estranhar tal procedimento, pois implantou no país, desde que assumiu o governo em 2003, a política do "nós contra eles", tratando os adversários como inimigos a serem exterminados da vida pública. A adoção da política do "escracho" em locais públicos contra adversários é uma marca dessa atuação.
O próprio ministro Edinho Silva chamou recentemente de "direita golpista" a oposição ao governo a que serve. Quando tinham a maioria, essa política de agressões contra os adversários era estimulada pelos principais líderes sem que houvesse a preocupação com suas consequências.
Quem não se lembra do então líder petista José Dirceu aos berros dizendo que a oposição tinha que apanhar "nas ruas e nas urnas"?
Com a campanha de difamação que foi utilizada na mais recente campanha presidencial contra os principais concorrentes de oposição, como Aécio Neves, do PSDB, e Marina Silva, então no PSB, espalhando o ódio contra eles, o partido não se preocupou com o que agora o ministro Edinho — que, aliás, foi o tesoureiro da campanha de Dilma — chama de "alimentar o monstro na lagoa", seja lá o que isso for.
Queriam manter o poder, a qualquer custo.
Mas tudo isso pode ser discutido politicamente até que se chegue a um acordo de procedimentos, se isso for possível.
O que é espantoso é a maneira como o PT trata a coisa pública, sem nenhuma preocupação com aspectos institucionais.
Diz Edinho Silva que, como a Secom não pode fazer esse tipo de propaganda, ele instruiu os bancos públicos a assumirem essa tarefa.
Acontece que o ministro petista está preocupado com a ação de ativistas contra seus colegas do PT ou contra o governo Dilma, e, nesse caso, quem deveria fazer as campanhas que quisesse seria o partido, não os bancos oficiais.
Não é tarefa do governo entrar em uma disputa política a favor de qualquer dos lados, nem considerar que vaias a seus integrantes, por mais que sejam reprováveis, tornaram-se questão de Estado.
De mais a mais, confundir o PT com os grandes escândalos de corrupção que vão sendo investigados no país desde o mensalão em 2005, mais que atitude política, é apenas uma constatação. Um partido que tem dois tesoureiros presos, um deles já condenado, não pode se considerar injustiçado.
Precisa, sim, fazer autocrítica e mudar seus métodos de ação. E não proteger os seus que cometeram ilícitos como se fossem heróis de uma grande causa política.
Combater o ódio na política e instaurar uma convivência de harmonia e paz no país dependem muito mais de atitudes como essa do que de campanhas pagas pelo dinheiro público, que só fazem aumentar a sensação de que o governo petista usa os recursos públicos em seu próprio benefício e do partido que o apoia.
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