- Folha de S. Paulo
A confirmação de que Eduardo Cunha será denunciado ao STF fez o Congresso viver uma quarta-feira de alta tensão. O foco de todas as conversas passou a ser o futuro do presidente da Câmara, acusado de receber propina no petrolão.
Em tempos normais, seria inimaginável que um deputado formalmente denunciado por corrupção continuasse à frente da Casa. Mas Brasília vive tempos anormais. A crise econômica se agrava, a presidente Dilma enfrenta rejeição recorde, e o chefe da Câmara detém o poder de abrir um processo de impeachment.
Nesta quarta, as tropas começaram a se armar. Cunha reuniu aliados para organizar sua defesa, e um pequeno grupo de deputados, liderado pelo PSOL, redigiu um pedido para tentar derrubá-lo.
O movimento contra o peemedebista pode crescer, mas não o suficiente para cassá-lo. Cunha é muito mais forte que Severino Cavalcanti, que caiu por um mensalinho de R$ 10 mil. Ajudou a financiar muitas campanhas e venceu quase todos os embates que travou com o governo.
Seu futuro dependerá de dois partidos que ainda não moveram as peças no novo tabuleiro: o PT, que representa o Palácio do Planalto, e o PSDB, que lidera a oposição oficial.
Os petistas adorariam vê-lo arder na fogueira, mas temem as consequências de um embate direto. Os mais pragmáticos já sonham com um acordão, no qual salvariam o rival em troca de livrar Dilma da guilhotina.
Muitos tucanos também gostariam de abandonar Cunha, mas não veem outro político capaz de acionar o botão do impeachment. Sustentá-lo, dizem eles, seria um "mal necessário" para derrubar a presidente.
Por enquanto, o presidente da Câmara se sustentará com um pé em cada canoa. O problema é que a pressão da opinião pública pode tornar a água mais revolta. E, como diz um petista disposto ao confronto, Cunha não pode agradar PT e PSDB ao mesmo tempo. Em algum momento, terá que jogar um dos partidos ao mar.
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