• Com queda na renda, busca por vagas dispara e taxa de desocupação no país vai a 8,3%
“Normalmente, no fim do ano, o desemprego cai, mas tenho sérias dúvidas se vai cair, nada aponta para isso. O mais provável é taxa crescer mais” João Saboia Professor da UFRJ
Lucianne Carneiro, Lucas Moretzon – O Globo
Disparou a busca por vagas, e o desemprego alcançou 8,3% em junho. Já são 8,35 milhões de desempregados no país. A procura por trabalho disparou no Brasil no segundo trimestre do ano. Sem geração de vagas suficientes, a taxa de desemprego subiu para 8,3% no segundo trimestre, o maior nível da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE, iniciada em 2012. No segundo trimestre do ano passado, o desemprego tinha sido de 6,8%, e nos primeiros três meses deste ano, 7,9%. Ao mesmo tempo, a qualidade do emprego existente piorou: o contingente de empregados com carteira assinada — e direitos trabalhistas garantidos — caiu quase um milhão, enquanto o daqueles que trabalham por conta própria cresceu em magnitude semelhante.
Ao todo, 8,354 milhões de pessoas estavam desempregadas no país no período de abril a julho. Foram mais 1,587 de trabalhadores no grupo do que um ano antes, alta de 23,5%. Na comparação com o primeiro trimestre de 2015, o aumento foi de 421 mil pessoas. Ao mesmo tempo, a população ocupada ficou em 92,2 milhões de pessoas, uma variação de apenas 0,2% nas duas comparações, que é considerada estabilidade pelo IBGE.
Menos 1 milhão de carteiras assinadas
Já a força de trabalho — que considera quem está empregado e quem está em busca de vaga — chegou a 100,566 milhões de pessoas no segundo trimestre, um aumento de 1,747 milhão de pessoas frente ao segundo trimestre de 2014 (1,8%) e de 609 mil pessoas (0,6%) em relação aos primeiros três meses deste ano. Significa que tem muito mais gente procurando emprego, o que pressiona o mercado de trabalho e eleva a taxa de desemprego.
— Boa parte das pessoas procurando emprego estava fora do mercado e, possivelmente, voltou por causa das dificuldades que os outros membros famílias encontram no mercado de trabalho, que está cada vez mais difícil, e da queda do rendimento das famílias — explica o professor de economia da UFRJ, João Saboia.
Segundo o pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia, da FGV, Rodrigo Leandro de Moura, o crescimento da força de trabalho é causado pela perda nos rendimentos diante da alta de preços:
— Há mais pessoas desempregadas e, ao mesmo tempo, a inflação corrói os salários. Isso contribui para que as condições financeiras das família estejam se deteriorando e obriga quem estava fora do mercado de trabalho a procurar emprego, para ajudar no orçamento familiar.
O coordenador das pesquisas de emprego do IBGE, Cimar Azeredo, destaca ainda o impacto da baixa criação de vagas. Ele reconhece que pode haver mais pressão nos próximos meses, porque parte dos demitidos ainda não voltou a procurar vaga, porque está “sobre a rede de proteção”, ou seja, recebendo seguro-desemprego.
— Houve até geração de postos de trabalho, mas inferior ao necessário para manter o desemprego estável. O mercado de trabalho tem reflexo do cenário econômico — afirmou Azeredo.
O emprego com carteira assinada foi fortemente afetado: o total de trabalhadores nesse grupo caiu 2,6% em relação ao segundo trimestre de 2014, ou quase um milhão de pessoas a menos (971 mil). Ao mesmo tempo, quase um milhão de pessoas (989 mil) passou a trabalhar por conta própria, uma alta de 4,7% em relação ao segundo trimestre de 2014:
— Hoje se vive um período muito similar ao que viu lá atrás, em 2003, com aumento da taxa de desocupação, estabilidade na população e aumento dos trabalhadores por conta própria.
Para Saboia, a ampliação de trabalhadores por conta própria é ruim, por representar claro aumento da informalidade:
— Durante dez anos, houve o processo de formalização do trabalho, que é o crescimento da carteira assinada. Agora vemos uma reversão disso e crescimento do trabalhador por conta própria. Normalmente, no fim do ano, o desemprego cai, mas tenho sérias dúvidas se vai cair, nada aponta para isso. O mais provável é taxa crescer mais ainda.
O rendimento médio do trabalhador brasileiro ficou em R$ 1.882, o que representa uma queda 0,5% em relação ao primeiro trimestre e alta de 1,4% na comparação com o segundo trimestre de 2014. Segundo o IBGE, no entanto, o resultado ficou estável nas duas comparações.
O desemprego subiu em todo o país. Em São Paulo, a taxa alcançou 9%, a maior da série histórica iniciada em 2012. O estado concentra 23,1% da força de trabalho e 25,29% dos desempregados. No Rio de Janeiro, a taxa subiu para 7,2%, contra 6,4% no segundo trimestre do ano passado e 6,6% no primeiro deste ano. O Nordeste é a região com a maior taxa, 10,3%.
— São Paulo é um dos principais centros industriais do país. E tem efeito farol, o que acontece ali se reflete depois em outras regiões — diz Azeredo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário