Por Maria Cristina Fernandes – Valor Econômico
SÃO PAULO - O empresário Jorge Gerdau Johannpeter havia chegado a São Paulo naquela madrugada, vindo de Brasília. E, no fim da manhã, já estava em evento que reuniu empresários para discutir a crise nacional.
Aos 78 anos, o presidente do conselho administrativo do Grupo Gerdau é um dos empresários que mais acumulou convivência com governos em crise. No final daquela manhã, apesar de enfadado da capital federal - "Brasília me faz muito mal" - o empresário estava entusiasmado com a busca de saídas para um momento que comparou àquele vivido pelo governo Itamar Franco (1992-1994)
"Estamos chegando muito perto de construir uma coalizão em que o país se una para resolver seus problemas". Empresários com largo trânsito pelo poder e envolvimento direto com a modernização da gestão administrativa, parece improvável que Gerdau estivesse se referindo à substituição da presidente Dilma Rousseff, cenário que, nas últimas semanas, mostrou convergência com o calendário eleitoral de 2018.
O mais provável é que o empresário tenha se referido a uma coalizão de poder que envolva o Congresso, maior entrave à aprovação de medidas para reduzir o déficit público, como a manutenção dos vetos presidenciais a aumentos do funcionalismo, a prorrogação da DRU e a CPMF. "É um absurdo que cheguemos ao final do ano sem ajuste fiscal", disse, antes de cobrar daquela plateia empresarial, mais envolvimento com a conjuntura.
"Vem alguma coisa do Congresso se deixarmos correr solto?", indagou o empresário para calçar a afirmação de que a sociedade civil estaria 'omissa' em relação à conjuntura.
Gerdau não revelou sua agenda em Brasília mas mencionou encontro na Ordem dos Advogados do Brasil. Tem a convicção de que o Judiciário é um dos motivos que o levam a acreditar num país é 'cinco, dez vezes melhor' do que em crises passadas.
Naquela tarde, a procuradoria-geral da República e parlamentares governistas procuravam saídas para fundamentar um pedido de afastamento do presidente da Câmara sob o argumento de que sua permanência no cargo estaria sendo usada para dificultar as investigações da Lava-jato e o andamento do processo por sua cassação no Conselho de Ética.
O presidente do conselho de administração da Gerdau não mencionou nomes em sua fala de 29 minutos. Limitou-se a dizer que "o perfil dos interesses individuais está prejudicando" a aprovação do ajuste fiscal e a propugnar a busca de um consenso como aquele que, em 1993, levou à coalizão que pôs em curso o plano real.
Parece claro que a busca deste consenso não tem hegemonia petista. A ilusão das commodities e da fartura do petróleo deixou passar vazio o bonde da história na era lulista- "Me irrito porque também cheguei a pensar que o Brasil pode tudo". Mas não é a irritação que hoje parece mover o empresário. A crise, disse, aguça sua criatividade - "Animal de barriga cheia não caça".
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