Por Raquel Ulhôa – Valor Econômico
BRASÍLIA - O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, afirmou, em evento realizado pelo PSB, em Brasilia, que as "loucuras" praticadas pelos governos de 1990 para cá - a partir do "Plano Collor" - fizeram com que o setor industrial perdesse espaço no cenário nacional e internacional desde então. Não poupou, inclusive, a gestão do tucano Fernando Henrique Cardoso, "que achava que o Brasil podia viver sem uma política industrial".
A participação da indústria no PIB, que já representou mais de 30% na década de 80, não passará de 9,5%, segundo estimativa da CNI. Andrade defende a necessidade de mudanças estruturais difíceis para tornar o país mais estável e com capacidade de crescer e desenvolver. Teriam que ser conduzidas por "uma liderança com olhar no futuro", mas ele não mostra otimismo com o cenário político atual.
"Hoje, a gente não está vendo no meio político uma liderança que tenha a capacidade de empreender essa tarefa", disse Andrade, em seu discurso para dirigentes, militantes, deputados e senadores do PSB.
Robson Andrade foi um dos palestrantes no evento "Café com Política", promovido pela Fundação João Mangabeira, órgão de estudos e formação política do PSB, para lançar o II Boletim Conjuntura Brasil, cujo tema é "A Desindustrialização do país".
O presidente da fundação, ex-governador Renato Casagrande (ES), também secretário-geral do PSB, afirmou que o partido e seus parlamentares e militantes precisam discutir assuntos que vão além da "crise conjuntural grave" pela qual o país atravessa.
"Tratar da política industrial é fundamental para a nossa soberania. Temos de dar solução a essa crise, mas, ao mesmo tempo, continuar debatendo projetos e ações estruturantes de desenvolvimento perene, sustentável, de renda no país", disse. Ele citou a "preocupante" redução da participação da indústria no PIB, que hoje, segundo ele, atinge patamar da década de 40.
O presidente do PSB, Carlos Siqueira, defendeu com ênfase a necessidade de recuperação da indústria brasileira. "Diferentemente do que pensam, ou pensavam outros no passado, de uma esquerda velha e ultrapassada, não existe possibilidade de políticas sociais sustentáveis sem gerar riqueza. E riqueza e soberania se criam com tecnologia de ponta", afirmou.
O cientista político César Benjamin, responsável pela pesquisa e texto do boletim sobre a desindustrialização, disse que o processo de industrialização no Brasil não foi espontâneo e que a "reindustrialização" também não poderá ser.
"Terá que ser produto novo projeto. Depende do nosso sistema político. Se não formos capazes de sustentar um novo projeto de reindustrialização, não haverá alternativa de desenvolvimento do Brasil. Nós caminharemos para consolidar no século 21 nossa posição de bens primários e commodities", afirmou.
O diretor técnico do Dieese, Clemente Ganz, outro palestrante no evento do PSB, foi ainda mais dramático. "A queda [da indústria] é um precipício. Se não formos rápidos, teremos dificuldade para recuperar a indústria", disse.
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