- Estado de S. Paulo
Politicamente baleado, o deputado Eduardo Cunha segue inabalável na presidência da Câmara mantido pelas mesmas circunstâncias que levarão o processo contra ele por quebra de decoro se arrastar ao máximo no Conselho de Ética da Casa antes de ir à votação no plenário. Isso se chegar até lá.
As referidas circunstâncias se resumem à conjugação de interesses de parlamentares de oposição e de situação, aliada ao fato peculiar de que o denunciado desta vez é o dono da faca e do queijo. A fim de facilitar o entendimento, note-se o seguinte: a representação do PSOL e da Rede foi levada à Corregedoria da Câmara no dia 7 de outubro. De acordo com levantamento do jornal O Globo, a Secretaria-Geral da Mesa (presidida por Cunha) reteve o documento por 21 dias, a pretexto de conferir assinaturas.
Ontem o caso finalmente chegou ao Conselho de Ética. O presidente do colegiado, José Carlos Araújo, promete escolher o relator ainda hoje. Feito isso, os “conselheiros” deverão se manifestar sobre a admissibilidade do pedido. Caso aceito, Eduardo Cunha será notificado e, no prazo de dez dias úteis, deve apresentar defesa. A partir daí, correm 40 dias úteis para investigações.
O Congresso entra em recesso no dia 17 de dezembro, daqui a um mês e poucos dias. Portanto, antes de março ou abril de 2016 nada se resolve no âmbito do Parlamento. O ano que vem é eleitoral. Prefeitos e vereadores vão precisar de dinheiro para as campanhas eleitorais que, segundo as novas regras, não poderão ser financiadas por pessoas jurídicas.
A pessoa física de Eduardo Cunha deu ajuda substanciosa a vários deputados federais. De muitos partidos, incluído aí o maior de oposição: PSDB. Eleição de deputados tem correlação direta com eleição de prefeitos e vereadores. São preciosos sustentáculos. Em ano de pleito municipal, toda ajuda será celebrada. E provavelmente recompensada.
Quero dizer o quê? Que os fatos conspiram contra o andamento do processo de cassação. Cunha provavelmente vai se safar. Com a ajuda de deputados de oposição que a direção do PSDB não consegue controlar. E por quê? Porque fala mais alto o dinheiro das respectivas campanhas.
No pulo. Há cerca de 40 dias, o vice-presidente, Michel Temer, e o presidente do PSDB, senador Aécio Neves, tiveram uma conversa sobre um eventual governo de transição. O encontro aconteceu na casa do senador Romero Jucá, em condomínio nos arredores de Brasília.
O assunto não prosperou, inclusive porque nesse meio tempo entrou em cena o fator Eduardo Cunha. O vice-presidente quase foi pego de calças curtas em pleno exercício da “conspirata” por um dos agentes de sua equipe de segurança que, preocupado com o sumiço, conseguiu falar com ele por telefone, mas não obteve a localização exata do chefe.
Balzaquiana. Tantas falas desprovidas de sentido comete a presidente Dilma Rousseff que algumas passam batidas. Não mereceu destaque a consideração feita por ela semanas atrás a respeito da democracia brasileira, uma “adolescente” a ser preservada na figura da manutenção de seu mandato.
Sempre é tempo de observar: a democracia no Brasil tem 30 anos de idade. Uma adulta, cuja maturidade se expressa justamente na independência dos Poderes e no estrito cumprimento da lei. Práticas que Luiz Inácio da Silva e companhia condenam com veemência.
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