Por Raymundo Costa, Leandra Peres e Lucas Marchesini – Valor Econômico
BRASÍLIA - Com o desembarque do governo aprovado por aclamação, o PMDB vai concentrar seus esforços na consolidação da maioria obtida ontem para a aprovação do impeachment da presidente Dilma Rousseff. A votação, que ocorreria em 17 de abril, deve ser antecipada para o dia 15.
A partir de agora, os pemedebistas também devem enfrentar o corpo a corpo com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tendo ele status de ministro de Estado ou não. A prioridade de Lula serão as bancadas do Norte e do Nordeste, regiões onde sempre teve sólidas bases eleitorais.
A cúpula do PMDB comemorou o fato de a decisão ser tomada por aclamação, sem maiores conflitos. Avalia que isso vai facilitar as conversas em torno do impeachment, especialmente no Senado, onde o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), tem dúvidas sobre os motivos (as "pedaladas") que justificam o pedido.
Ao decidir pelo rompimento da aliança com o PT, o partido determinou que seus filiados devolvam os cargos que ocupam na administração federal até 12 de abril.
O ministro do Gabinete Presidencial, Jaques Wagner, manifestou a reação do governo. Em entrevista, avisou que a relação com o vice-presidente, Michel Temer, que deve assumir a Presidência da República se Dilma for afastada, está "interditada". Disse, também, que os cargos ocupados hoje pelo PMDB serão redistribuídos em uma "repactuação" do governo com outras forças políticas. Segundo o ministro, as negociações em curso com os partidos devem ser concluídas até sexta feira e delas pode sair "um novo governo".
Lula já está em ação, muito embora tenha circulado no Congresso que o ex-presidente não parece muito empenhado na defesa de Dilma. Na conversa que teve com Temer, Lula não reagiu a uma crítica feita a ela pelo vice.
No Senado, a avaliação dos próprios governistas é de que não haverá condições de barrar o impeachment se a proposta for aprovada na Câmara dos Deputados.
PMDB rompe e Temer negocia novo governo
Depois de romper com o governo, decisão tomada ontem, o objetivo do PMDB é consolidar a maioria obtida na votação do Diretório Nacional para votar o impeachment da presidente Dilma Rousseff. A unidade demonstrada na reunião ajuda a composição interna e fortalece a autoridade do vice-presidente Michel Temer para negociar com os demais partidos a formação do futuro governo.
A direção do PMDB comemorou a decisão por aclamação, algo raro num partido que é considerado uma verdadeira federação. O fato não implica necessariamente que os votos do PMDB serão todos a favor do impeachment, mas será decisivo nas negociações com eventuais dissidentes, como o presidente do Senado, Renan Calheiros.
Na mesma decisão que oficializou o rompimento da aliança com o PT, o PMDB determinou que os filiados ao partidos devolvam os cargos que têm no governo. Antecipando-se à reunião do diretório, o ministro Henrique Eduardo Alves (Turismo) pediu demissão já na segunda-feira. O senador Eduardo Braga (Minas Gerais) indicou que vai cumprir a decisão do partido. Outros cinco ainda não se manifestaram, mas têm prazo até o dia 12 de abril para pedir o desligamento.
A decisão do Diretório Nacional ajuda o PMDB a costurar uma maioria dentro do partido a favor do impeachment, mas a tarefa não será das mais fáceis, pois vai encontrar resistência do governo e do PT. A atuação mais temida é a do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cuja prioridade é convencer deputados do Norte e do Nordeste.
Lula já está em ação, muito embora tenha circulado no Congresso que o ex-presidente não parece muito empenhado na defesa de Dilma. A informação ganhou os corredores da Câmara e do Senado, provavelmente, porque na conversa que teve anteontem com Michel Temer, Lula não reagiu a uma crítica à presidente feita pelo vice.
Segundo fontes qualificadas ouvidas pelo Valor, no entanto, Lula vai lutar pelo mandato de Dilma pelo menos por três motivos: o primeiro é que sente-se responsável pela indicação da presidente; o segundo é que é a primeira mulher a presidir o país e não seria bom que ela saísse escorraçada do Palácio do Planalto; e o terceiro é que, ao contrário de outros líderes sul-americanos que não indicaram sucessor para poderem voltar mais tarde, ele de fato queria que Dilma tivesse sucesso.
O vice-presidente Michel Temer, que também preside o PMDB e deve suceder Dilma, se o impeachment for aprovado, faltou à reunião, para não ser acusado de falta de lealdade ou de traição ao governo, como já aconteceu. A reunião foi presidida pelo primeiro-vice Romero Jucá (PMDB-RR). Temer, no entanto, tem conversado sobre o impeachment e a eventual formação de um novo governo com economistas e partidos da oposição.
Na realidade, já existe um grupo em pleno funcionamento, encarregado de elaborar as diretrizes de um futuro governo Temer. O ex-deputado e ex-ministro Fernando Brandt cuida mais especificamente dos assuntos relacionados à Previdência Social. Para a Fazenda, três são os nomes mais citados: Arminio Fraga, ex-presidente do Banco Central no governo de Fernando Henrique Cardoso, Henrique Meirelles, que exerceu a mesma função nos governos Lula, e o senador José Serra (PSDB-SP), que desde o início apoiou o impeachment e a posse de Temer no lugar de Dilma.
Serra, mais especificamente, e Meirelles, tem um problema em comum: ambos são candidatos a presidente da República. Serra já tentou duas vezes. Sem espaço no PSDB, poderia voltar ao PMDB, na hipótese de estabilizar a economia como ministro da Fazenda de Temer, o que outros potenciais candidatos não querem nem ouvir falar.
Meirelles nunca foi candidato, mas se insinuou em várias ocasiões, inclusive quando se filiou ao PSD do prefeito Gilberto Kassab. Ele também se dispôs a sair de candidato a vice da presidente Dilma Rousseff. O economista Arminio Fraga seria o ministro da Fazenda do PSDB, se o senador Aécio Neves ganhasse a eleição. Ele nega, mas está no páreo. Os ex-ministro Moreira Franco e Eliseu Padilha integram o grupo da copa e cozinha do Palácio Jaburu.
A batalha do governo será na Câmara dos Deputados. A ideia é barrar o impeachment no plenário, pois a comissão especial, na avaliação do governo, é controlada pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-EJ). No Senado, a avaliação dos próprios governistas é que não haverá condição de barrar o impeachment, se a proposta sair aprovada da Câmara dos Deputados por 342 votos, que é o mínimo exigido pela Constituição Federal para o afastamento do presidente da República.
O ex-deputado Geddel Vieira Lima (BA), que integra o grupo mais próximo de Michel Temer, considerou a data de ontem "uma data histórico: nunca pensei que viveria para ver o dia do PMDB decidir entregar cargos no governo".
Nenhum comentário:
Postar um comentário