• Para Cardozo, posição é ‘lamentável’ para quem tem ‘passado de defesa da democracia’; oposição comemora adesão e postura de ‘estadista’
Carla Araújo, Ricardo Brito e Murilo Rodrigues - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - O advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, e lideranças governistas do Congresso criticaram as declarações do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sobre a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em entrevista ao Estado publicada na edição de ontem, FHC defendeu o impeachment da presidente como o caminho da superação da crise por que passa o País, postura comemorada por parlamentares da oposição.
Embora tenha ressaltado ter um “grande respeito” pelo ex-presidente, Cardozo disse lamentar a sua posição. “Ele tem um passado de defesa da democracia. E desconhece (que) impeachment sem fato imputável à presidente não pode acontecer no regime presidencialista. Portanto, só tenho a lamentar essa posição do ex-presidente”, disse o ministro, um dos auxiliares mais próximos de Dilma.
Para o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), Fernando Henrique Cardoso assume o “golpismo” ao defender o impeachment de Dilma. “Ele enterra seu passado de sociólogo, que lutou pela democracia durante o regime militar. Passa a liderar o golpismo no País”, disse. “Quer governar o Brasil de novo? Espera até 2018.”
Na entrevista, FHC defendeu o afastamento de Dilma, argumentando ter mudado de opinião depois de ouvir a voz das “ruas”. Antes, defendia a renúncia como melhor saída para as crises política e econômica. O ex-presidente também chamou os grampos que envolveram Lula como “coisa de chefe de bando” e classificou a nomeação dele para a Casa Civil como “golpe palaciano”
Guimarães afirmou ainda que FHC “não tem autoridade” para criticar Lula. “O governo do presidente Lula deu de 10 a 0 no governo dele”, afirmou. “Com todo esse massacre midiático, Lula é o melhor ex-presidente da história do País.” Para Guimarães, as críticas de FHC são atitude de “soberba e preconceito” de um sociólogo que não se conformaria com o fato de o governo de um “analfabeto” ter sido melhor do que o dele.
O líder do PT na Câmara, Afonso Florence (BA), disse que as declarações do ex-presidente tucano são “inoportunas e equivocadas”. O petista destacou que, se FHC quisesse mesmo ter uma postura de estadista, não estaria colocando “gasolina na fogueira” da crise ao se alinhar com os “insensatos” que não têm qualquer compromisso com o País. “Infelizmente, FHC está menor do que o paletó que usa”, disse.
Florence afirmou ainda não haver motivos jurídicos para afastar Dilma por crime de responsabilidade. O líder do PT destacou que o ex-presidente conclama, dessa forma, o desrespeito ao voto popular porque a atual presidente foi reeleita com 54 milhões de voto. “O PSDB tem que rever seus compromissos com a democracia.”
Alinhamento. Já o líder dos tucanos na Câmara, deputado Antonio Imbassahy (BA), disse que as declarações de FHC coincidem “completamente” com a bancada de deputados do partido. Ele disse que o quadro político e econômico e as investigações da Operação Lava Jato deterioraram de tal maneira que não é possível mais esperar uma decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre uma eventual cassação da chapa de Dilma e seu vice, Michel Temer, o que poderia levar o País a novas eleições neste ano. “O cronograma do impeachment é mais rápido que o do TSE.”
Aliado do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), responsável por admitir o pedido de impeachment, o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA) elogiou a postura “estadista” do tucano.
“Lula deveria se espelhar em FHC, que é um grande estadista”, provocou o peemedebista. Vieira Lima concorda que a solução para a crise é a saída da presidente Dilma Rousseff, mas ainda acredita que o melhor caminho é a renúncia. “Ela faria um favor porque se renderia aos fatos e ajudaria a unir o Brasil”, declarou.
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