Ao lado de um Papai Noel e da primeira-dama, Marcela Temer, o presidente distribuiu presentes, no Palácio do Planalto, para alunos de uma escola rural do Distrito Federal. Um dia após a divulgação de medidas contra a recessão, ele afirmou que “não há mais espaço para feitiçarias” na economia.
Temer defende ajuste: ‘Não há mais espaço para feitiçarias’
• Presidente diz não estar preocupado com impopularidade de medidas
Catarina Alencastro - O Globo
BRASÍLIA - Em um discurso na festa de fim de ano dos militares, o presidente Michel Temer disse ontem que os “arremedos de soluções” praticadas no passado prejudicaram os mais pobres. Referindo-se à aprovação da PEC do teto de gastos, Temer afirmou que não há mais espaço para “feitiçarias”. Mais uma vez disse não estar preocupado com aplausos e popularidade e, repetindo o tom dos últimos meses, afirmou que poderia se acomodar mas que, ao contrário, teve coragem de encampar temas espinhosos, como a reforma da Previdência — em vez de passar seus dois anos como presidente instalado nas “mordomias” do poder.
— Não há mais espaço para feitiçarias: imprimir dinheiro, maquiar contas, controlar preços. Estamos tratando de resolver nossos problemas de frente. Se não o fizermos agora, o Estado quebra. Se não promovermos as reformas imediatas, ficaremos presos ao atoleiro da irresponsabilidade fiscal. Os mais prejudicados com os arremedos de solução adotados no passado são os mais pobres — disse o presidente.
Embora não tenha citado a ex-presidente Dilma Rousseff, Temer recorreu a termos usados recorrentemente para classificar criticamente a política econômica da petista.
— Seria muito confortável chegar ao poder e dizer: “Vou ficar apenas dois anos, não vou me preocupar com o teto dos gastos públicos, não vou me preocupar com a reformulação da Previdência”. Poderia ficar comodamente instalado nas mordomias da Presidência da República e nada patrocinar nesses dois anos. Não teria embates, contestações e seguiria tranquilo. Mas os tempos exigem coragem para não ceder às soluções fáceis e ilusórias — afirmou Temer, que vem enfrentando sucessivas quedas em sua popularidade.
Aos militares, Temer disse que buscar reconhecimento não é objetivo de seu governo:
— Nem sempre o caminho certo é o mais popular. Nossa responsabilidade não é buscar aplausos imediatos. A nossa missão não é buscar aprovação a qualquer preço. Nosso compromisso é desatar os nós que têm comprometido nosso crescimento econômico.
“2017 MELHOR QUE 2016”
Antes de propor um brinde a um “2017 melhor do que 2016”, Temer pregou que o Brasil não pode ficar dividido. Segundo ele, os embates devem se restringir ao período eleitoral:
— Temos que ter coragem de repetir a tese de que o país não pode ficar dividido. Pode ficar dividido eleitoralmente, durante o momento político-eleitoral. Mas não pode fazê-lo depois das eleições. Nosso governo é a favor do Brasil.
Pela manhã, ao lado da primeira-dama, Marcela Temer, o presidente participou da comemoração de Natal dos funcionários do Palácio do Planalto, com a presença de um Papai Noel. O evento acontece há vários anos, mas normalmente não tem a participação do presidente. Temer e Marcela ajudaram a entregar presentes para crianças de uma escola rural de Sobradinho e abraçaram os alunos. Os presentes foram adquiridos por funcionários da Presidência, que adotaram cartinhas enviadas pelas crianças ao projeto de Natal dos Correios. Na festa, apresentou-se o coral dos Correios. O presidente conversou brevemente com alguns funcionários e não deu entrevistas. Diante de uma plateia formada por integrantes das Forças Armadas, o presidente Michel Temer defendeu ontem a decisão do governo de excluir os militares da proposta da reforma da Previdência. Segundo ele, existe princípio constitucional e jurídico que obriga que essa categoria tenha tratamento diferente.
— Eu quero dizer que, com muito acerto, nós votamos o projeto da reforma Previdenciária, naturalmente excluindo os militares. Estamos constitucional e juridicamente corretos.
A ideia da equipe econômica é mexer no regime de aposentadoria dos militares num projeto separado, que deve ser enviado ao Congresso em fevereiro.
O governo montou uma ofensiva em defesa da reforma da Previdência, que vem recebendo ataques nas redes sociais. O ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, convocou ontem a imprensa para rebater o argumento de que a Previdência é superavitária. Uma das críticas à reforma é que a arrecadação com a seguridade social, que envolve contribuição previdenciária, PIS/Cofins e CSLL, seria suficiente para cobrir as despesas com o sistema.
Segundo o ministro, quem defende essa tese não considera renúncias fiscais que reduzem a arrecadação e excluem da conta os servidores públicos aposentados da União. Isso, segundo o governo, é uma avaliação distorcida dos fatos:
— É importante que a sociedade tenha argumentos com base em informações corretas.
O ministro afirmou que, até outubro, o rombo previdenciário em 12 meses foi de R$ 135,7 bilhões. Ele representa a maior parte da conta da seguridade social, deficitária em R$ 243,2 bilhões. Os números da seguridade passarão a ser divulgados trimestralmente pelo ministério.
Oliveira afirmou que, entre 2000 e 2016, o peso da Previdência no orçamento da seguridade foi de 51% para 58%:
— O elemento que mais cresce é a Previdência. Ao crescer mais, ela está ocupando o orçamento de outras áreas.
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