- Folha de S. Paulo
No retrato que o Banco Central faz da situação do crédito todos os meses, os bancos ainda parecem quase tão estressados quanto nos piores momentos da recessão, em 2016.
Os bancos privados reservam um monte de dinheiro para cobrir possíveis calotes, monte quase da mesma altura daquele que guardavam na fase mais aguda da crise, o maior nível em 20 anos. E daí? Quanto maiores essas provisões, maiores as taxas de juros e menor a quantidade de crédito, em geral.
A inanição de crédito ajuda a emperrar esta minúscula recuperação econômica. O desastre na construção civil é outro motivo da lerdeza. Até mesmo a despesa em máquinas e equipamentos saiu do vermelho desde setembro, segundo contas do Ipea. Mas, na construção civil, o recuo é de 7% nos últimos 12 meses. Ainda é um colapso depressivo, devido ao encalhe de imóveis, ao corte brutal do investimento do governo e a danos colaterais da Lava Jato.
Em suma, a economia ainda purga excessos de dívidas públicas e privadas, de investimentos em imóveis e de investimentos ruins em infraestrutura e estatais. Ainda não foi bem contada a história dessa catástrofe, que começou com um colapso até súbito em crédito e investimento, entre abril e junho de 2014. Seja como for, a situação é ainda tão assustadora para justificar a posição dos bancos?
O caso não é apenas com os bancos, claro. Difícil dizer quanto do retranca se deve ao medo e ao endividamento ainda altos dos consumidores. De qualquer modo, o total de empréstimos bancários ainda encolhe ao ritmo anual de 4%, em termos reais. As concessões de empréstimos novos estão no ritmo horrível do início de 2016, apesar da discreta melhora recente nos empréstimos para pessoas físicas. As taxas de juros não estão em nível muito diferente.
Ainda em março deste 2017, taxas de juros, spreads e provisões bancários estavam no nível mais alto da crise. No entanto, a taxa de inadimplência havia se estabilizado em meados de 2016 e baixa desde maio.
Desde o segundo trimestre, juros e spreads começaram a cair, mui lentamente, decerto. Mas as provisões continuam nas alturas desde março de 2016, o equivalente a pelo menos 8% da carteira de crédito dos bancos privados. Em duração e tamanho, é coisa que não se via desde que passaram as crises bancárias do Real, em 1997, crises que eram de outra espécie.
Os bancos são obrigados a se proteger com reservas contra calotes, mas podem ser mais conservadores ainda do que o necessário, embora tal atitude reduza o potencial de lucro. Sem análise especializada caso a caso, é fácil reclamar dessa prudência, digamos. Tanto quanto criticar bancos por serem irresponsáveis, quebrarem e causarem ruína ainda mais grave.
Ainda assim, os bancos ou seu nível de provisões parecem se comportar como no começo de 2016, quando se esperava recessão longa, os juros do BC estavam na lua, o desemprego explodia e a confiança econômica estava em um buraco no chão.
Essa retranca emperra a baixa dos juros e o aumento de concessões de crédito, ressalte-se. Além da montanha da ruína do governo e desse Congresso indizível, crédito e construção civil são pedras no caminho da retomada.
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