- O Globo
O partido do governo quer melar uma CPI sobre o uso das redes sociais na eleição de 2018. Há poucos dias Bolsonaro, disse: “Eu nada fiz de errado durante a campanha”
Nos últimos dias, o senador Angelo Coronel (PSD-BA) conheceu a fúria das milícias virtuais. Presidente da recém-instalada CPI Mista das Fake News, ele virou alvo de insultos e ameaças de morte. A mensagem mais agressiva, encaminhada à Polícia Legislativa, prometia “encher sua boca de chumbo”. “É um negócio assustador. Nunca vi nada parecido”, diz o parlamentar, que entrou na política há 31 anos como prefeito de sua cidade natal.
A comissão começou a funcionar na última terça. Foi uma estreia tumultuada. O senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), que prefere atuar nos bastidores, assumiu o papel de líder da tropa de choque do governo. Ele se esforçou para barrar a convocação de um representante do WhatsApp, o aplicativo de mensagens instantâneas que mudou a forma de fazer campanha.
“Eu perguntei qual o fato determinado. Não existe”, alegou o primeiro-filho, apesar das múltiplas provas de uso do zap para disseminar notícias falsas e manchar reputações. A deputada Carla Zambelli (PSL-SP) tentou socorrê-lo com uma tese curiosa. Alegou que o WhatsApp seria uma “rede social privada”, e por isso não teria a obrigação de prestar contas ao Congresso“ As pessoas conversam, entre WhatsApp e Telegram, coisas privadas. Há de se diferenciar as redes sociais”, disse, sem convencer os colegas de outros partidos.
O deputado Filipe Barros (PSLPR), que já recorreu ao Supremo para tentar impedir a instalação da CPI, chegou à primeira sessão com um objetivo mais modesto. Queria empurrar a votação dos requerimentos para a semana que vem — o que também foi rejeitado pela maioria do plenário.
Entre reclamações, protestos e questões de ordem, os bolsonaristas passaram uma hora e meia tentando impedir que a comissão funcionasse. A deputada Caroline de Toni (PSL-SC) explicou o motivo de tanta apreensão. “Isso aqui é um tribunal de exceção para julgar o nosso presidente, para julgar a sua campanha”, discursou.
Os requerimentos aprovados na terça não fazem referência a nenhum partido. Apenas convocam representantes de empresas como Google, Twitter e Facebook, que se tornaram tão ou mais influentes nas eleições do que a propaganda de TV. Pelo plano de trabalho da CPI, a ideia é começar com um diagnóstico sobre o uso das redes. Numa segunda etapa, seriam ouvidos políticos, marqueteiros e empresários suspeitos de financiar ataques virtuais. É o que o PSL tentará evitar a qualquer custo.
No TSE, a ação que deveria apurar os disparos em massa pela campanha de Jair Bolsonaro caminha a passos de tartaruga. Na CPI, o governo tem menos garantia de que conseguirá controlar o ritmo da investigação. A deputada Lídice da Mata (PSB-BA) já anunciou a intenção de convocar o vereador Carlos Bolsonaro (PSL-RJ), que controla as redes sociais do pai.
Há nove dias, o presidente resolveu antecipar sua defesa. Em discurso no Planalto, ele afirmou: “Eu nada fiz de errado durante a campanha. Foi quase toda ela feita pelo Zero Dois, o Carlos”. O tema da solenidade era a nova carteirinha estudantil, e ninguém havia perguntado nada sobre as eleições de 2018.
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